Por Patrick Simão, do Além da Arena

Lamine Yamal certamente foi o destaque da partida entre Espanha e França pela semifinal da Eurocopa masculina. Foi dos pés do prodígio de 16 anos que saiu o golaço de empate espanhol, que abriu caminho para a virada e a classificação da sua Seleção.

Ele estreou como profissional há cerca de um ano, no Barcelona, e vem batendo recordes de precocidade. Se tornou o mais jovem a atuar pelo Barcelona na La Liga, a estrear em marcar pela Seleção Espanhola, a disputar uma semifinal de Eurocopa e, agora, a fazer um gol na maior competição europeia por países.

Yamal é o destaque de sua Seleção no torneio, juntamente com Nico Williams, de 21 anos. Juntos, os dois, ambos descendentes de pais africanos, desafiam também a xenofobia e o racismo cada vez mais fortes na sociedade espanhola.

Apesar de ser uma das maiores promessas da Seleção Espanhola, Yamal também sofre rejeição em seu país natal. Seu pai é marroquino Marrocos e sua mãe de Guiné Equatorial. Nascido em Esplugas de Llobregat, em Barcelona, Yamal poderia ter escolhido outra Seleção, mas optou pela espanhola.

Após estrear pela Espanha, ainda com 15 anos, viralizaram alguns tweets xenofóbicos contra Yamal, afirmando que ele “não deveria jogar pela Seleção Espanhola, pois é marroquino.” Este pensamento é muito comum na extrema-direita espanhola, que rejeita descendentes de imigrantes africanos.

Vale lembrar que há milhares de imigrantes marroquinos na Espanha e que os dois países têm grande tensão devido ao conflito por Saara e pela exploração espanhola (e francesa) em relação a Marrocos. Na Copa do Mundo de 2022, este debate voltou com mais força após Marrocos eliminar a Espanha nas oitavas de final.

Outro motivo que provoca ataques xenofóbicos a Yamal é o fato de que, em abril de 2023, seu pai entrou em conflito com apoiadores do VOX, partido da extrema-direita espanhola. Além disso, o jogador nasceu em Rocafonda, na Catalunha, região com muitos imigrantes e alvo de muito estigma no país.

Já Nico Williams nasceu em Pamplona, no estado de Navarra. Ele é o principal destaque do Athletic Bilbao, clube que historicamente prioriza em sua maioria atletas do País Basco. A região, assim como a Catalunha de Yamal, tem lutas históricas de busca por independência da Espanha.

Nico é filho de pais ganeses e, junto com seu irmão, Iñaki Williams, se destaca nos principais torneios espanhóis. Porém, assim como Yamal, eles são constantemente alvos de racismo e xenofobia nos estádios. Em um jogo da La Liga, contra o Atlético de Madrid, Nico foi alvo de ofensas racistas e xenofóbicas. Sua resposta veio logo em seguida, com um gol e uma comemoração mostrando sua pele aos criminosos.

O movimento crescente de manifestações racistas e xenofóbicas nos estádios espanhóis converge com o crescimento do discurso de extrema-direita no país, através do Partido Vox. Essas manifestações se baseiam na busca pelo fechamento das fronteiras do país, se utilizando de discursos ultranacionalistas. Como consequência, muitos se negam a considerá-los espanhóis e agora assistem Yamal e Nico levando seu a Seleção à final da Eurocopa.

Lamine Yamal e Nico Williams fazem parte da nova geração espanhola e assumem o protagonismo da equipe, após anos de escassez na Seleção masculina. Eles são primordiais para o combate às ideias extremistas da direita, com respostas em campo e fora de campo.

Nós brasileiros sabemos como esse comportamento funciona ao assistirmos os covardes ataques racistas a Vini Jr. O brasileiro também é um símbolo de luta contra o racismo e xenofobia no país, não aceitando as punições historicamente nulas aos racistas. Enquanto alguns os rejeitam por racismo e xenofobia, a maior parte do mundo os vê como uma das grandes promessas do futebol mundial, que está em uma grande equipe e pode se desenvolver para se tornar um dos grandes protagonistas do futebol mundial.