Da feira à marcha atlética: a impressionante carreira de Viviane Lyra
Viviane Lyra surgiu no cenário da marcha atlética apenas aos 22 anos, é recordista brasileira e já está garantida em Paris
Por Gabriela Puchineli
O começo tardio na marcha atlética poderia ser uma grande desvantagem, mas para Viviane Lyra (@vivianelyra_nutri) amplificou a força de vontade no rumo do esporte. Hoje, a carioca de 30 anos que vendia pastel e caldo de cana na feira para bancar o sonho, se destaca na marcha atlética e tem carreira consolidada como nutricionista. A expectativa é chegar entre as 10 primeiras colocadas na marcha e brigar por medalha inédita para o Brasil em Paris.
Viviane sempre gostou de esportes, e, incentivada por uma professora de educação física, começou a praticar a marcha atlética na escola. A jovem, que se identificou com a ideia de andar rápido, sem correr, enfrentou alguns obstáculos até começar a competir. Inicialmente o pai achava ela muito jovem para treinar e vetou a ideia. Com a morte dele, a professora convenceu a mãe de Viviane, que autorizou os treinos.
Pouco tempo depois ela foi campeã estadual mirim e juvenil. Contudo, a marcha não fazia parte dos jogos escolares e, para conseguir uma bolsa de estudo, Viviane migrou para a corrida. Ainda que não fosse a sua preferência, ela chegou a correr meia maratona e 3.000m com obstáculos, mas seguia batalhando por uma oportunidade para brilhar na modalidade que escolheu.
O divisor de águas foi o evento-teste da marcha atlética para os Jogos Olímpicos do Rio. Viviane competiu e conseguiu classificação para o Sul-Americano, onde fez 1h55min (quase meia hora acima do recorde brasileiro). Porém, como ela ainda não recebia bolsa atleta, precisou continuar trabalhando na barraca de pastéis, de onde tirava seu sustento.
Viviane trabalhou com pastel até 2019, mesmo ano em que foi pela primeira vez ao Pan e ao Mundial de Atletismo. Em 2020, no auge da pandemia, ela precisou voltar à barraca. Por um longo tempo ela trabalhou na rua em vários bairros do Rio: em Realengo, Jardim Novo, Praça do Canhão, Cidade de Deus e Gardênia – onde sofreu um acidente com o óleo quente do pastel. O ocorrido, contudo , não foi tão grave e ela logo se recuperou.
“Só em 2022 que a situação melhorou. Acredito muito que foi de acordo com os resultados que fui obtendo. Conforme fui melhorando, fui conseguindo me alimentar melhor, suplementando, investindo em material, tênis, camping de treinamento na altitude, e os resultados foram vindo, fomos subindo degrau por degrau”, contou em entrevista ao Olhar Olímpico.
Hoje, Viviane é atleta do Praia Clube, da Aeronáutica e do Time Rio, na prefeitura do Rio de Janeiro. Concluiu a pós-graduação em nutrição esportiva e bacharelado em educação física. Recebe Bolsa Pódio e faz parte do programa de alto rendimento da Confederação Brasileira de Atletismo.
Ela conquistou o título de heptacampeã brasileira em várias distâncias, incluindo recordes nacionais nos 35 km e 50 km. Em 2020 foi campeã sul-americana da marcha de 50 km em Lima, Peru. Em 2023 ganhou a medalha de ouro no Campeonato Pan-Americano de Marcha Atlética em Manágua, Nicarágua.
No mesmo ano participou do Campeonato Mundial de Atletismo em Budapeste, Hungria. Alcançou o oitavo lugar na marcha de 20 km, e o quarto lugar nos 35 km, estabelecendo um novo recorde brasileiro. O recorde superou sua marca anterior, obtida no Campeonato Mundial de Atletismo de 2022, em Eugene, EUA, onde também ficou em oitavo lugar.
Recentemente, em junho de 2024, Viviane quebrou seu próprio recorde brasileiro na marcha de 20 km em pista, ao vencer o Troféu Brasil de Atletismo, com um tempo de 1:30:38. A atleta, que acabou fora de Tóquio-2020 por uma posição no ranking, se prepara agora para os Jogos Olímpicos de Paris, onde vai disputar as provas de 20 km, e o revezamento misto da marcha atlética.