Por Lucas Souza

Nessa data, em 1967, acontecia o último e mais marcante dia de apresentações no Festival Pop de Monterey, o primeiro grande festival de rock da história mundial.


O festival de Monterey, considerado um marco inicial da contracultura, foi responsável por servir de modelo e inspiração para o Woodstock e todos os outros festivais do gênero que vemos até os dias de hoje até mesmo em questão de aparato técnico, tendo em vista que o sistema de som inovador desenvolvido para o Monterey se tornaria referência para todos os amplificadores de grande porte que surgiram em seguida.


Os artistas selecionados se apresentaram de graça para mais de 200 000 pessoas, destinando toda a renda adquirida à instituições de caridade. Diferentemente do caos que se associa a festivais desse tipo, a paz foi triunfante em Monterey, que marcou, inclusive, o início do “Verão do Amor” – momento em que o lifestyle hippie se torna um fenômeno cultural.


Os produtores, com o auxílio de diversos curadores de peso, como Mick Jagger, Paul McCartney e Brain Wilson, viram o festival de Monterey como um meio de legitimar o rock como forma de expressão artística, como o jazz e o folk já haviam conseguido. O planejamento do festival incluiu o objetivo de produzir um filme documentário, intitulado Monterey Pop, que foi dirigido por D. A. Pennebaker, um dos pioneiros do cinema direto. A exibição do filme nos cinemas dos EUA consolidou a imagem da Califórnia como foco da contracultura e elevou o festival a um nível mítico, de modo a estimular a realização de festivais semelhantes futuramente.


Monterey Pop foi um evento de fundamental importância para a configuração da cena musical que se estabeleceu adiante, apresentando bandas estreantes que moldariam a história rock futuramente. A iniciativa visionária dos produtores de colocar nomes já consagrados na cena – como The Mamas and The Papas, Simon & Garfunkel e The Byrds – ao lado de atrações inéditas ao grande público ajudou a transformar alguns desses artistas em grandes estrelas instantaneamente – como foi o caso de Janis Joplin, que teve seu sucesso reconhecido no mesmo instante em que iniciou sua apresentação. Ao longo dos três dias se apresentaram nomes como Jefferson Airplane, Grateful Dead, Big Brother and the Holding Company (banda de Janis Joplin), Ravi Shankar, Eric Burdon and the Animals, Otis Redding, entre outros.


Como podemos concluir pela priorização aplicada ao plano de filmagem (que contava com recursos limitados), as bandas The Who e The Jimi Hendrix Experience eram os grandes destaques previstos para o festival. As bandas inglesas já se conheciam e tinham a dimensão da visceralidade com que eletrizavam seus públicos, de modo que precisariam apresentar uma performance destruidora se quisessem superar o rival. É nesse contexto que surgem duas das mais lendárias apresentações do gênero, que se tornaram marcos na história da música.


No final da música My Generation, o guitarrista do The Who, Pete Townshend, desferiu diversos golpes com sua guitarra contra os amplificadores, enquanto bombas de fumaça explodiam atrás dos aparelhos, ao passo que a produção invadia o palco, desesperados com os possíveis danos aos caríssimos microfones, encerrando com o baterista chutando seus equipamentos e se retirando. Hendrix, que se apresentou em seguida, não ficou atrás. Além de alucinar os espectadores com variações sonoras inimagináveis, de alta expressividade e técnica, nunca antes vistas pelo grande público, o artista finalizou sua apresentação com um ritual considerado divisor de água das performances de rock, que ficaria gravado para sempre no imaginário popular, direcionando os olhos do mundo à revolução que ele estava proporcionando no modo de tocar guitarra. No desfecho da música Wild Thing, Hendrix incendiou o instrumento enquanto realizava gestos místicos e logo após o estraçalhou em diversos golpes contra o chão, finalizando com arremessos dos pedaços ao público extasiado. Ao contrário do que qualquer um poderia imaginar no momento, Jimi Hendrix estava aumentando exponencialmente o valor daquela guitarra em cada golpe, que se tornaria um artigo histórico, avaliado em centenas de milhares de libras.