Cozinhas populares denunciam caso de corrupção no governo de Javier Milei
Em meio ao aumento da fome no país, governo argentino é acusado de esconder alimentos que seriam destinados a cozinhas e restaurantes populares
O governo de Javier Milei enfrenta duras críticas e uma crise política crescente na Argentina devido à falta de distribuição de alimentos destinados a cozinhas comunitárias e restaurantes populares. Desde o início de seu mandato, em dezembro passado, aproximadamente 5 mil toneladas de alimentos adquiridos pelo governo anterior permanecem estocadas em armazéns estatais sem serem distribuídas às comunidades necessitadas.
Organizações sociais e religiosas, que operam as cozinhas e refeitórios em todo o país, denunciam a ausência de repasses de alimentos desde dezembro. Segundo informações do El Destape, o governo atual não realizou novas compras de alimentos desde que assumiu o poder, resultando em uma paralisação na distribuição de mantimentos essenciais para milhões de argentinos.
O Ministério do Capital Humano, liderado por Sandra Pettovello, foi alvo de críticas severas após a descoberta de que mais de 5 milhões de quilos de alimentos permanecem estocados, com muitos produtos próximos ao vencimento. Entre os alimentos armazenados, há óleo, farinha, leite em pó e outros itens essenciais para a alimentação básica da população mais vulnerável argentina.
A situação provocou a intervenção do Judiciário. O juiz federal Sebastián Casanello determinou a distribuição imediata dos alimentos armazenados nos depósitos de Villa Martelli, em Buenos Aires, e de Tafí Viejo, em Tucumán. A decisão veio após uma série de denúncias lideradas pelo dirigente social Juan Grabois, que acusou o governo de negligência e má gestão.
Entretanto, a Casa Rosada anunciou que irá recorrer da decisão judicial, argumentando que os alimentos estocados são destinados a emergências ou catástrofes e que muitos dos comedores são “fantasmas”. Essa posição foi criticada por organizações sociais, que sustentam que o governo utiliza dados desatualizados para justificar a falta de distribuição.
A crise de distribuição de alimentos ocorre em um contexto de profunda crise econômica na Argentina, com a pobreza atingindo níveis alarmantes. Um estudo da Universidade Católica Argentina revelou que 57,4% da população vive abaixo da linha da pobreza, afetando 27 milhões de pessoas. A inflação anual chegou a cerca de 289% em abril, exacerbando a insegurança alimentar.
Os protestos se intensificaram em Buenos Aires e outras cidades, com organizações sociais exigindo a entrega imediata dos alimentos. “Chega de fome, entregue a comida” e “Restituição de comida já” foram os slogans estampados nas faixas dos manifestantes, que pressionam o governo a cumprir seu dever de assistência social.
Em resposta às denúncias, o governo anunciou um protocolo para a entrega imediata dos alimentos próximos do vencimento. No entanto, a gestão de Pettovello continua sob pressão, especialmente após a demissão do secretário social Pablo de la Torre, acusado de reter 5 milhões de quilos de alimentos. A ministra também prometeu investigar os responsáveis pela má gestão dos estoques.