Por Alexandre Almeida

Os megaeventos esportivos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, costumam permitir uma grande projeção econômica dos países e cidades sede ainda que contem com um grande dispêndio de recursos num curto período. A realização destes eventos além de acarretar grandes impactos na economia, na sociedade e na cultura, tem importantes repercussões ambientais. Por conta disso, tem sido frequente nas pautas de planejamento de eventos esportivos desta magnitude a questão da sustentabilidade.

Há poucos dias da realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024, o Comitê Olímpico Internacional e as autoridades francesas, cientes da importância da questão ambiental na atualidade, prometem que os Jogos de Paris 2024 contarão com a maior proteção climática da história do evento esportivo. Tarefa esta que, ainda que seja trabalhosa, foi facilitada pelo alto impacto ambiental que este e outros eventos esportivos têm representado nos últimos anos.

Emissão de milhões de toneladas de CO2 com a construção de locais de competição, deslocamento e hospedagem de turistas, atletas e repórteres, além de uma massiva utilização de energia para as operações destes eventos e uma alta produção de resíduos são algumas questões centrais que afetam o meio ambiente e o clima global e que requerem atenção durante os megaeventos.

Nos Jogos de Tóquio 2020, principalmente por conta da pandemia e da impossibilidade de deslocamento para acompanhar os eventos in-loco, já foram registrados uma diminuição em relação aos eventos anteriores. Ainda assim, os cálculos da pegada de carbono de Tóquio para a produção do evento estimam que foram emitidas 2,73 milhões de toneladas de CO2. As autoridades japonesas afirmaram que planejaram compensar sua pegada com a compra de créditos de carbono e que a energia seria 100% renovável, embora a compra destes créditos seja apenas uma solução rápida em detrimento de uma real mudança e apenas 30% a 35% desta energia utilizada tenha vindo diretamente de fontes verdes, como a solar.

A Copa do Mundo do Catar em 2022 foi outro evento que teve importantes impactos ambientais. Apesar da promessa de realizar uma Copa 100% neutra em emissões de carbono e do gasto de R$ 32,8 bilhões de reais na construção de estádios e centros de treinamento ditos sustentáveis, a Copa 2022 teve uma estimativa de pegada de carbono de 3,6 milhões de toneladas de CO2. No entanto, este alto impacto de CO2 foi mascarado com a criação de espaços verdes artificiais e vulneráveis e com o discurso de que as arenas teriam seus impactos mitigados por conta da utilização para outros fins. Outro importante fator de poluição foi o uso e o desperdício de água na realização do evento.

Para 2024, é projetado a emissão de cerca de 1,58 milhão de toneladas de CO2, valor bem abaixo dos últimos Jogos Olímpicos. Além disso, a organização do evento promete a revitalização da natureza da cidade e o uso de energias renováveis, como a eólica e a solar. Outra atitude foi a não instalação de ar-condicionado nas acomodações da recém-construída Vila Olímpica em St. Denis, embora essa ação tenha sido flexibilizada por conta da pressão dos envolvidos. Foi permitido o uso de ar-condicionado, desde que sejam pagos pelas próprias delegações. Assim, a diferença entre o discurso verde e a prática nem tão ecológica durante os eventos é sempre desigual, a ver como serão os próximos passos da tentativa sustentável em Paris.