Enquanto Milei canta, a crise econômica e os protestos crescem na Argentina
O presidente deu um show de apresentação de seu livro em Buenos Aires enquanto eram conhecidos os números da queda da economia argentina.
Por Majo Giovo
Uma das notícias da semana colocou o presidente argentino Javier Milei no centro da polêmica. Na quarta-feira subiu ao palco do lendário Luna Park, um dos mais emblemáticos de Buenos Aires, para cantar e apresentar seu livro. No mesmo dia foram publicados novos números sobre a economia argentina no vermelho enquanto em várias províncias do país professores e pessoal médico saíram às ruas para exigir melhorias salariais. O contraste não poderia ser mais evidente e isso foi deixado claro pelo jornalista da revista Time que entrevistou o líder libertário e o colocou este mês na capa da prestigiada publicação: “Ser capa da Time não é o mesmo que respeito internacional”.
Valores pandêmicos
A economia argentina entrou em colapso de 8,4% em março em relação ao mesmo mês de 2023. Mas não só: também caiu na comparação com fevereiro. Fez isso em 1,4% e aprofundou assim uma sequência mensal sem crescimento de sete meses. A última vez que foi registrado avanço foi em agosto de 2023, de 0,8% em relação a julho. O crescimento foi interrompido nessa altura em consequência de uma desvalorização de quase 22%, em plena campanha eleitoral presidencial, e a economia não voltou a recuperar, pelo menos até Março, segundo dados do Estimador Mensal da Actividade Económica (EMAE) do Indec.
A comparação anual também mostra números negativos desde que Milei é presidente. A última vez que se registou um crescimento homólogo foi em outubro de 2023, nos últimos meses da presidência de Alberto Fernández e em plena campanha eleitoral, quando a atividade aumentou 1% face ao mesmo mês de 2022. A última pesquisa de Os Indicadores Trabalhistas, publicados pelo Ministério do Trabalho em maio com dados de março de 2024, mostram também que foram quatro meses consecutivos de queda líquida do emprego, com redução de 1,4% em março.
Argentina em chamas
As ruas falam por si. Nas últimas semanas, os conflitos sociais só aumentaram na Argentina: dos professores aos médicos e aos próprios policiais que montaram um mega acampamento na província de Misiones para exigir melhorias salariais. Aqui está um resumo de alguns dos protestos:
A outra notícia que trouxe forte repúdio em diversos setores foi a confirmação de que a administração libertária mantém sequestrados 5 milhões de quilos de alimentos que deveriam ter sido destinados aos refeitórios populares, espaços que estão em absoluta emergência devido à falta de orçamento por parte do governo e a comida está prestes a expirar.
Em meio a essa escalada, os rumores sobre mudanças no governo de Milei ficam mais fortes, deixando a possibilidade de mudança no chefe de gabinete. Mas por enquanto, Milei prefere ficar calado, não dar respostas e continuar cantando.