Por Noé Pires

Desde 2017, LUUL (@luulduo) tem sido uma força mística que ecoa das raízes profundas da Paraíba e de Pernambuco. Leandro Luz e Miguel Lua, os mentores visionários por trás deste projeto, concebem uma experiência transcendental para seus seguidores, entrelaçando música, artes cênicas e visuais.

Imbuídos pelo realismo mágico e pela rica tapeçaria mitológica do Brasil, LUUL busca resgatar a essência espiritual da arte, reconectando-a à natureza e propondo uma nova abordagem, livre de amarras coloniais. Seus espetáculos se desdobram como um oráculo musical interativo, onde os espectadores são convidados a selecionar uma entre cinco cartas – água, terra, fogo, ar e éter – desvendando assim as mensagens artísticas únicas de LUUL.

O duo mergulha profundamente na alquimia da arte, espiritualidade e psicodelia em seu aguardado primeiro EP, “Amuleto Futurista Obsoleto”. Produzido pelo renomado percussionista norte-americano Gregg Mervine, este trabalho promete transportar os ouvintes para um universo onde a magia é a única constante.

O S.O.M, “Sistema operacional da música”, o canal de música da mídia NINJA, bateu um papo com os artistas da LUUL Duo.

1 – Como o duo LUUL propõe uma experiência única para o público, mesclando diferentes formas de expressão artística em seus shows?

Bardo Luz:
A proposta do LUUL é imergir o público em um universo mágico para investigar coisas profundas. Acreditamos que a arte tem um poder transformador e é uma ferramenta natural humana para lidar com as coisas sensíveis e invisíveis, como as emoções humanas. Para adentrar nesses territórios sutis, usamos várias linguagens artísticas que criam uma atmosfera fantástica, onde é possível expressar essas informações com mais clareza e movimentar os sentimentos do público com efetividade.

Bardo Lua:
O LUUL é fruto da união das nossas bagagens artísticas, mágicas e espirituais: Bardo Luz e Bardo Lua. Nossas expressões, identidade e experiências de artevida se complementam. Eu sou da poesia, me descobri poeta recitando em saraus e redescobri minha paixão pela música, pelo violão e pela composição. Depois, pesquisei canto e performance art na universidade. Ao conhecer Leandro, que traz o corpo cênico, as artes plásticas e visuais, o cinema e a contação de histórias, percebi que estávamos construindo intuitivamente um movimento de vanguarda artística. Nossa pesquisa, ao chegar no elemento éter, culminou no desenvolvimento do show para palcos urbanos e teatros, chamado A.muleto F.uturista O.bsoleto (A.F.O.)- um oráculo musical com beats eletrônicos, projeções e a dinâmica gamificada de interação com o público. No show oracular, o público escolhe entre 5 cartas para receber as mensagens musicais místicas.

2 – Quais são as principais fontes de inspiração do duo LUUL, e como vocês incorporam elementos do realismo mágico e da mitologia brasileira em sua música?

Bardo Luz:
Nossas referências são bem universalistas, bebemos da fonte de várias culturas, mas a cultura brasileira é nossa raiz e dela mais nos nutrimos. Buscamos nas sabedorias ancestrais dos povos originários e também nas expressões contemporâneas que dialogam com nossa alma. Deixamos fluir o que nos atravessa e todas as informações que chegam até nós. Tudo pode nos inspirar, desde nossa própria cultura e experiência até o que está tão longe que só podemos alcançar pela intuição ou pelo inconsciente coletivo. Incorporamos tudo isso usando os mecanismos do RPG, um sistema de jogo onde você cria mundos e embarca em jornadas para vencer desafios e desenvolver habilidades. Acrescentamos o realismo mágico para enxergar de forma mais integrada o mundo, unindo ficção e realidade. A música entra como plano de fundo, guiando dentro do enredo que se apresenta.

Bardo Lua:
A imaginação e os sonhos, o deleite da arte de ressignificar a realidade e a esperança de novas dinâmicas sociais, onde a natureza e a tecnologia se fortalecem juntas, são a base da criação do LUUL. Temos referências em diversos campos da arte, desde ritoperformances e psicomagia de Alejandro Jodorowsky à Ligia Clark das artes visuais. Na literatura real fantástica, destacam-se Dungeons and Dragons e Isabô Quitiniere, que expressam em seus enredos o retorno da magia ao mundo. No campo musical, algumas referências são Cátia de França, Socorro Lira, Zeto do Pajeú, Luli e Lucina, Pedro Santos, Décio Marques, Tetê e Alzira Espíndola, Ney Matogrosso, além de nomes modernos como Alessandra Leão, Renata Rosa, Juçara Marçal, Chico Correa, Luiza Lian e Papisa. A magia é a ponte entre nossa alma e a natureza, e nesse contexto descobrimos o xamanismo, o sagrado feminino e a bruxaria intuitiva. Os jogos de RPG, as cosmologias de nossa ancestralidade brasileira e a mitologia universal são nossa principal fonte de inspiração para criar nossas próprias cosmologias e contos fantásticos do universo LUUL, revelados nas músicas e nos espetáculos. Também pesquisamos e recriamos contos populares pela ótica da decolonização das narrativas, buscando compreender as histórias originárias antes da deturpação do sincretismo católico, para romper o maniqueísmo tóxico e a demonização dos encantados e da religiosidade ameríndia.

3 – Como funciona o oráculo musical interativo nos shows do LUUL, e qual é o objetivo por trás dessa interação com o público?

Bardo Luz:
Nós embaralhamos 5 cartas do nosso tarô, que trazem como simbologia objetos do cotidiano conectados a elementos da natureza. Depois, convidamos um jogador para retirar uma carta por vez. Cada carta possui várias canções que representam seu arquétipo. O jogador faz escolhas entre os símbolos que aparecem na carta, e assim a canção se manifesta, transformando o show em um oráculo onde as pessoas podem interagir com o trabalho, conectando-se de maneira mais íntima com o conteúdo apresentado. Elas deixam de ser apenas espectadoras e se tornam jogadoras, interferindo diretamente no enredo do show a partir das escolhas feitas. Dessa forma, criamos uma conexão mais profunda com o público, e cada apresentação se torna uma mensagem singular para aquele grupo, naquele momento específico. Afinal, as cartas não mentem, rsrsrs.

Bardo Lua:
O show (A.F.O.), tem a dinâmica de uma consulta de tarô, um oráculo musical onde o público escolhe entre 5 grandes cartas que os bardos lhes mostram. Cada carta representa um elemento da natureza (água, terra, fogo, ar e éter) em analogia com outros dois símbolos: objetos contemporâneos (espelho, casa, celular, transporte, arte) que chamamos de amuletos futuristas obsoletos, e os atributos dos corpos humanos (emoções, corpo físico, vontade, alma e espírito). Ao revelar a carta, os bardos apresentam músicas autorais presentes no EP, performances e excertos de histórias do multiverso LUUL. Inicialmente, ao interagir jogando com o público, quebramos a quarta parede, tornando-o o personagem central do enredo. A partir disso, as conexões simbólicas e a identificação com os personagens e mensagens apresentadas tornam-se mais íntimas e pessoais. É um convite para uma conexão mais profunda com a arte, permitindo que histórias e melodias revelem muito sobre nós mesmos, usando a arte e a imaginação como portais para o autoconhecimento. Vocês podem conferir o teaser do espetáculo no nosso canal do YouTube, @luulduo.

4 – Quais são as expectativas em torno do lançamento do primeiro EP do duo LUUL, “Amuleto Futurista Obsoleto”, e como vocês pretendem transmitir sua mensagem através dessa obra?

Bardo Luz:
O (A.F.O.), é fruto de uma pesquisa que já dura cerca de 7 anos. Nesse tempo, pudemos estudar e experimentar formas de fazer os shows e divulgar o trabalho através de um amuleto real, o EP físico em formato de mini-CD e também em pen-drive. Agora estamos prontos para veicular o trabalho nas mídias.

A ideia é imergir a galera no experimento da arte RPG, tornando o espectador um jogador no nosso mundo. Faremos isso através de dinâmicas multiplataforma, começando pelas histórias do background apresentadas em nossas redes sociais, que guiarão os jogadores até as canções e clipes, e, respectivamente, até os shows que complementarão a jornada dos nossos seguidores.

Bardo Lua:
O lançamento do EP traz 5 faixas produzidas por mim e Gregg Mervine, com inserção de poesias de Leandro Luz. Esse trabalho vem ao mundo para anunciar um novo ciclo de apresentações e expansão profissional. Começaremos lançando o single, a primeira faixa do EP, chamada “Quinta Face”, juntamente com seu videoclipe gravado inteiramente sob a luz da lua cheia. É um mergulho nos ciclos lunares e na lua negra, o espelho das emoções. Os bardos iniciam sua jornada pelas águas das ondinas abissais e ritualizam para seu feminino lunar.