Por Rodrígo Olivêira

Contém Spoilers do filme

O hype do filme Guerra Civil, estrelado por Wagner Moura (Joel), Kirsten Dunst (Lee Smith) e a novata Cailee Spaeny (Jessie), faz jus à toda produção envolvida no filme. O blockbuster é uma verdadeira aula de jornalismo e fotojornalismo, que, ao mostrar o drama das coberturas de guerra – pouco explorado no cinema -, faz com que cheguemos próximo à tão aclamada verdade que tanto se almeja nessa profissão.

Tendo como pano de fundo uma verdadeira guerra civil, os primeiros minutos do filme já começam a nos ambientar para que entremos de forma bem leve e no mundo do foto/jornalismo. A personagem de Kirsten Dunst, veterana e (literalmente) velha de guerra, nos mostra uma face muito complexa do ser humano e da profissão do fotojornalismo: a frieza em se capturar a melhor foto do acontecimento.

Ao ver o decorrer da cena onde as personagens Lee e Jessie se encontram, o diretor fez bem ao correlacionar o estilo de filmagem com a literal captura fotográfica da cena. Tornando todo o filme um primor de se ver, e pra quem está na área do jornalismo, se identificar com as também literais fotografias das cenas.

Com o destino juntando Joel, Lee, Jessie e Sammy (Stephen Henderson) na corrida em busca por uma entrevista do presidente fascista em Washington D.C, muitas situações dramáticas iriam ocorrer a partir dali, inclusive, a descrença de Lee por Jessie e o plot twist que mais me impressionou: o crescimento de Jessie como fotojornalista.

Existem determinados pontos do filme que fazem a personagem de Cailee Spaeny crescer: 1) ao pararem no posto para abastecer e Jessie vai até uma parte nos fundos para ver os corpos pendurados e Lee friamente pede para que um miliciano armado fique ao centro para registrar em foto o momento; 2) quando tentam passar por uma casa com um sniper tentando matar a todos que passam pela frente; 3) quando estão em uma situação de disparos e a todo momento Joel coordena os momentos em que Jessie deve tirar ou não as fotos e 4) já quase no final do filme, quando ela já está mais “safa” e confiante em entrar e sair para tirar fotos em meio ao tiroteio intenso.

Foto: Reprodução

Situações como estas vividas pelo quarteto mostram o quão perigoso é a profissão do jornalista que segue a vertente de jornalismo de guerra (assim como o investigativo ou policial), com a finalidade de justamente trazer a informação, seja por foto, audiovisual ou fazer a matéria escrita. Por outro lado, ao mesmo tempo que se vê o crescimento profissional de Jessie, nota-se uma atrofia na confiança de Lee pela própria profissão, causando verdadeiras paralisações pelos traumas vividos (mostrados no filme) pela personagem.

Cenas como a do personagem miliciano – muito bem interpretado por Jesse Plemons – mostra o quão delicado e perigoso é  lidar frente à frente com personagens que estão envolvidos no meio da guerra. É preciso ter muita frieza e jogo de cintura para poder negociar com uma persona tão instável, como o miliciano, principalmente nessa situação de quase morte do quarteto principal do filme.

Foto: A24 / Adoro Cinema

O único ponto “positivo” da cena foi quando o miliciano (Jesse Plemons) pergunta: mas que tipo de americanos vocês são? América do Sul, Central. Não precisa de tanta análise assim para entender, né?

Seja pela estética ao mesclar o cinema com o fotojornalismo, ou com a carga dramática de se viver um jornalismo de guerra, fica mais do que evidente (pelo menos para mim, como futuro jornalista) de que esta vertente da comunicação tem um grande poder nas mãos. E não há nada mais poderoso do que estar in loco e poder produzir conteúdo informativo de qualidade para que o mundo possa consumir e produzir suas próprias interpretações do acontecimento.

O jornalismo é muito mais do que “a busca pela verdade”, pois as próprias notícias ajudam a construir a realidade. E é por conta desta realidade não romantizada que é possível entender as verdades vividas pelos profissionais do jornalismo.

Ao optar por não romantizar as duas profissões, o diretor Alex Garland expõe o quão importante elas são para a sociedade. Seja através do registro do fotojornalista (Jessie e Lee), ou dos relatos trazidos pelo jornalista (Joel), é que a sociedade pode ficar bem informada.