Drama e obsessão na nova série de sucesso, ‘Bebê Rena’
Em apenas duas semanas após a estreia, a minissérie já acumulan mais de 2,6 milhões de visualizações.
Por Noelle Pedroso
Atenção! Este artigo contém spoilers e conteúdo que pode gerar gatilho.
Em “Bebê Rena”, a mais recente série da Netflix, lançada em 11 de abril, o que à primeira vista parece ser apenas mais uma comédia, rapidamente se desdobra em uma narrativa surpreendentemente profunda. Apesar do título leve, a tensão se manifesta já no primeiro episódio devido ao comportamento perturbador de Martha (Jessica Gunning), que, após receber um chá gratuitamente, inicia uma perseguição obsessiva a Donny, um barman escocês. Trabalhando em um pub inglês, Donny busca sucesso na comédia enquanto luta para se desvencilhar de um passado marcado por traumas.
O aspecto mais impressionante da trama é sua base em fatos reais, vividos pelo próprio Richard Gadd, que não só roteirizou e produziu a série, mas também se encarregou de interpretar de forma incrível a si mesmo. Em 2015, enquanto tentava fazer seu nome em Londres, Gadd encontrou Martha — nome fictício usado na série para sua perseguidora. Ela, obcecada e claramente desequilibrada, conseguiu seu e-mail e começou a enviar mensagens sobre seu cotidiano, retratando-a na série como uma mulher solitária e inicialmente carente.
Donny, pseudônimo que Gadd adota na série, inicialmente sente empatia por Martha, reconhecendo-a como uma mulher triste e problemática. No entanto, esse sentimento rapidamente dá lugar à pena e, logo depois, se transforma em raiva. Em diversas entrevistas, Gadd revelou ter sido alvo de 41.000 e-mails, 350 horas de mensagens de voz, perseguição incessante nas redes sociais, além de Martha também ter começado a perseguir sua companheira Teri e suas ex-namoradas. A série “Bebê Rena” explora não apenas o terror da obsessão, mas também a complexidade dos sentimentos humanos frente a situações extremas.
Ao longo da trama de “Bebê Rena”, Donny se esforça incessantemente para escapar da perseguição implacável de Martha, percebendo que é cada vez mais difícil fazê-la entender que dele, ela só pode esperar amizade. Entretanto, Martha, que frequenta todos os seus shows de stand-up e descobre seus segredos pessoais, adota medidas extremas ao perceber que nunca terá o relacionamento amoroso que deseja com Donny. Em um desses episódios, ela acaba cometendo um ato de transfobia contra Teri, interpretada por Nava Mau, que é transexual na vida real. Embora não seja o foco principal, a série aborda questões delicadas como aceitação, homofobia e abuso sexual.
O plot da série ocorre no quarto episódio, o mais intenso, que revisita o passado de Donny em 2015. Durante um festival de comédia em sua terra natal, ele conhece Darrien, interpretado de forma brilhante por Tom Goodman-Hill, um produtor de televisão influente e poderoso. A amizade que se desenvolve entre eles é marcada pelo desequilíbrio de poder, que fica evidente quando Darrien se aproveita de um momento de vulnerabilidade de Donny para estuprá-lo. Esta reviravolta sombria adiciona uma camada de complexidade à narrativa, explorando as consequências traumáticas e duradouras do abuso de poder.
Neste ponto, a narrativa adota uma estrutura não-linear, alternando entre o passado e o presente para revelar ao telespectador as semelhanças entre Donny e Martha, especialmente em relação aos traumas que ambos enfrentaram.
Na vida real, Richard Gadd conta que demorou seis meses para denunciar sua stalker, mas quando tentou, ouviu da polícia, diversas vezes, que não poderiam fazer nada devido à falta de provas contra ela. Na série, essa parte é retratada como um alivio cômico para quem assiste, suas tentativas de pedir ajuda, seja lá para quem fosse, acabavam sempre o constrangendo de alguma forma.
Em um gesto de coragem em 2019, Richard Gadd escreveu o espetáculo “Monkey See, Monkey Do” (Macaco Vê, Macaco Faz, em tradução livre), no qual detalha sua pessoal tragédia. Após ser premiado e finalmente alcançar o reconhecimento desejado por seu trabalho, ele decidiu transformar essas experiências em um documentário autobiográfico.
Em apenas duas semanas após a estreia, a minissérie de sete episódios, cada um com cerca de 30 minutos, já conquistou a liderança em diversos países, acumulando mais de 2,6 milhões de visualizações. No Rotten Tomatoes, a série atingiu impressionantes 100% de aprovação, consolidando ainda mais seu sucesso junto à crítica.