Foto: Caribbean Community

Por Neno Garbers*

*Atualizado às 15:10

Há quase duas semanas, o Haiti vive uma nova onda de turbulência. Após invasão suspeita de duas prisões por gangues e liberação de mais de 5 mil presos, o primeiro-ministro, Ariel Henry, tem sido cada dia mais questionado quanto aos resultados de seus dois maiores objetivos desde que tomou posse há quase dois anos: melhorar a segurança do país e organizar as eleições.

Henry, que é visto como ilegítimo por boa parte da sociedade e com denúncias de ligação com as mesmas gangues que invadiram as prisões, não conseguiu voltar ao país caribenho desde o dia 2 até hoje, já que a região do aeroporto está dominada e ele está fechado.

Vale lembrar que Ariel Henry foi nomeado por Jovenel Moise, ex-presidente que já estava com seu mandato acabado e continuou no poder até o dia 7 de julho de 2021. Nesta data, Jovenel foi misteriosamente assassinado, justamente três dia após a nomeação de Ariel Henry como primeiro-ministro, em um crime até hoje não esclarecido, com vários indícios de obstrução da justiça e sem ter todos seus possíveis mandantes investigados.

Diferentemente do que muitos órgãos chegaram a divulgar, Henry não renunciou, mas sim anunciou que renunciará quando o novo Conselho Presidencial Provisório for instaurado.

Ele acaba de anunciar que renunciará quando um novo Conselho Presidencial Provisório for instaurado. Enquanto vários grupos políticos e da sociedade civil trabalham para encontrar consenso a fim de tirar o país do impasse, o Mercado Comum e Comunidade do Caribe (CARICOM) busca agora tomar decisões. A proposta é que esse novo Conselho conte com a participação de sete representantes de grupos políticos do Haiti. Porém, há uma condição no mínimo curiosa imposta aos haitianos pelo órgão: que todos estejam de acordo com a nova Missão de Paz, “não-onusiana”, aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU em outubro de 2023. Ao que tudo indica, essa é a mais nova chantagem política internacional.

Não se sabe se atividades violentas das gangues devem continuar até que EUA e o primeiro-ministro consigam o que estão tentando há meses: uma nova missão de força de segurança internacional no país, e tendo como aparente líder e responsável outro país que não os EUA, assim como aconteceu com a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah), entre 2004 e 2017. A proposta até agora é que o Quênia lidere, apesar do país acabar de anunciar que a negociação para tal está suspensa após a decisão da CARICOM.

Diversos grupos acusam Henry de estar de conluio com as gangues e que essas ações violentas acontecem para sensibilizar a opinião pública local (historicamente resistente à ideia de outra ocupação), e especialmente internacional (com visão bastante negativa sobre os resultados pífios delas por aqui) para apoiar uma nova missão – apesar da ineficácia e dos crimes, até hoje impunes, cometidos pela última missão.

*Neno Garbers é pesquisador e correspondente