“Vamo acordar, vamo acordar, porque o sol não espera, demorô? Vamo acordar, o tempo não cansa. Ontem à noite você pediu, você pediu, uma oportunidade, uma chance”. Foi ouvindo os versos dos Racionais MC’s que o ator mineiro Juan Queiroz encontrou forças para continuar seguindo os seus sonhos. Atualmente interpretando o personagem Pitoco no remake da novela Renascer, na TV Globo, ele conta um pouco para a coluna como está sendo essa nova fase em sua vida e quais os planos para a carreira. 

Com um currículo de causar inveja até mesmo em atores veteranos, Juan também já atuou na série ‘Rota 66’, da Globoplay, como Sidney, um adolescente que vai para São Paulo em busca do pai que o abandonou enquanto era pequeno. Em 2023, o ator desempenhou papéis no curta ‘Lapso’ (indicado ao Festival de Berlim) e no longa ‘Escola de Quebrada’, uma comédia juvenil que retrata a cultura jovem das favelas de São Paulo.

Leia com muita atenção. Senhoras e senhores, com vocês, o talentosíssimo Juan Queiroz:

 

André Menezes – Eu queria começar falando sobre as suas paixões, então eu queria entender como surgiu essa sua paixão pela arte e pela arte de atuar.

Juan Queiroz – Cara, é muito doido. Em 2010, eu tinha 10 anos, e fui encontrar a minha irmã, que fazia curso de corte e costura no SESC Tupinambás; a gente ia ao cinema depois. Eu sentei na porta de uma sala, porque cheguei um pouco cedo. E me lembro que estava rolando uma confusão por lá, com umas crianças da minha idade. Tenho as imagens até hoje na minha cabeça. Prateleiras em todos os cantos, cheio de tinta, de pincel, quadros e telas inacabadas… E aí, a minha irmã acabou e eu falei: Jana, o que é isso? Eu quero fazer isso. E era o teatro. E desde então, eu comecei a fazer teatro.

Eu fazia teatro todas as semanas, mas eu fiquei dois anos sem fazer. Fiquei mal, tentei fazer outras coisas, fui para capoeira, fiz boxe, fiz muay thai, fiz jiu-jitsu, mas não fiquei bem. Foi então que percebi o que eu estava precisando: realmente, voltar para o teatro. Lembro que, desde muito cedo, o teatro me dava uma força que eu não sabia que tinha.

 

André Menezes – E me conta, quem foram ou quem são as suas maiores referências, seja no teatro, na televisão ou no cinema?

Juan Queiroz – Atualmente, as minhas maiores referências estão sendo coletivas. A galera da Filmes de Plástico, de Minas Gerais. O André, o Nato, são pessoas que admiro muito mesmo no trabalho. E Grace Passô, que eu acho que é impossível falar de teatro brasileiro hoje, de falar de atuação, sem falar de Grace Passô, ela é a maior que temos. Acabei de fazer um filme com ela, inclusive, pirei! Mas, tive outras, de ver na tela, de ver Lázaro Ramos, assistir ao filme Ó Paí, Ó, quando era pirralho. Eu fiquei, nossa senhora!

Lázaro foi uma referência gigante, mas no mais eu buscava muito minhas inspirações em letras de músicas. Eu lembro de ouvir, “porque até no lixão nasce flor”, e eu ficava: é isso aí, vai acontecer. Eu tinha 14 anos, cara, essa imagem é muito forte. Para mim, toda vez que eu conquisto alguma coisa ou que eu chego perto de conquistar, eu lembro dela, de ouvir essas músicas, três, quatro horas da manhã no meu quarto e chorando, desaguando, pensando: bicho, será que isso vai rolar comigo?

Foto: @fotograsht

André Menezes – Tive o privilégio de entrevistar o KL Jay, e perguntei para ele: cara, você tem noção do tamanho que vocês são, você e o grupo Racionais, o tamanho da representatividade que vocês têm? Então, é igual você falou, às vezes tem uma galera que o que tem para se pegar realmente é a letra da música, que é o que faz a pessoa levantar de manhã e acreditar que aquela realidade pode ser diferente um dia. 

Juan Queiroz – Muita gente. Tiveram momentos que eu estava 100% desacreditado, e às vezes era botar “Sou Mais Você” no ônibus, encostar a cabeça e pensar: “vai dar, vai dar, vai dar, vai dar, vamos lá, vai dar!”.

 

André Menezes – Vamos falar um pouco da novela agora? Como você espera que o público vai receber o Pitoco nessa nova versão da novela?

Juan Queiroz – Espero que o público seja realmente cativado, tanto com relação ao ritmo que o meu núcleo da novela traz para a trama, quanto para esse afeto do Pitoco que aparece vez ou outra. Eu vejo um personagem com uma possibilidade de empatia muito grande, porque é isso, inserido no contexto que ele está e pensando nos amigos da forma que ele pensa, sabe? Acho que ele é um personagem que pode ser apaixonante para muita gente.

 

André Menezes – Continuando falando sobre carreira, quais são os sonhos que você tem? A gente consegue ver que você está em uma fase boa, está conquistando bastante coisa e eu espero que isso continue, mas quais são os seus sonhos? O que você espera alcançar em termos de arte, televisão, cinema, teatro?

Juan Queiroz – Essa pergunta é forte, muito forte! Mas eu quero, primeiro, acima de tudo, acima de todas as coisas, eu quero atuar. Eu gosto disso, me realiza muito poder sentar, ter um personagem, poder construir, poder trabalhar em cima dele. E além disso, quero fazer muito cinema, quero fazer novela para caramba, quero entender todos esses aspectos da minha profissão, quero voltar para o teatro um pouco também. Nossa, o cinema brasileiro! É uma coisa que me mexe tanto, como os nossos diretores trabalham as nossas histórias… E quero fazer cinema, quero fazer novelão para poder conectar com o público também, e é isso. Também se for para ir para fora, fazer um filme na gringa, falar inglês, tô aí!

Foto: @fotograsht

André Menezes – Para finalizar, irmão, como você acha que estamos hoje em relação à pauta racial? Tivemos avanços ou o que existe é uma falsa miopia do progresso? Recentemente, acompanhamos um caso no sul do país, onde um cara preto tomou uma facada de um cara branco e ele foi preso, e o outro que deu uma facada, o cara branco, estava conversando com o policial.

Juan Queiroz – Sempre que tenho a sensação de que as coisas estão ficando minimamente aceitáveis, me chegam notícias como essa, e somos confrontados de novo com a realidade. Eu conversei com o LP  Beatzz – nem era sobre isso, sobre esse assunto -, mas tem uma música dele que tem uma batida específica, que fala sobre amigos que se sentem submersos quando finalmente estão conseguindo respirar, e a sensação é exatamente essa: quando finalmente conseguimos respirar, nós somos afundados de novo, e sinto que estou constantemente nessa batida. Sinto que avançamos meio centímetro com relação ao quilômetro que precisamos avançar. Acho que isso não é uma questão, não pode ser de forma alguma para desanimarmos, mas acho que temos que nos manter conscientes. É importante não ser pessimista, é importante se manter consciente da situação em que estamos inseridos, porque a partir do momento que nos tornamos conscientes, conseguimos entender as linhas de ações a serem tomadas; acho que a gente está justamente nesse momento: de entendermos as linhas de ações a serem tomadas.