Os 70 anos de Sócrates e a Democracia Corinthiana
Dentro das quatro linhas foi um grande meio-campista, ídolo corinthiano e que disputou duas Copas do Mundo. Fora dos gramados liderou a Democracia Corinthiana e foi uma voz política durante toda a sua vida.
Por Patrick Simão do Além da Arena e Carol Tokuyo da Mídia NINJA
Há exatos 70 anos nascia Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, ou então, Doutor Sócrates. Nascido em Belém do Pará, Sócrates se tornou uma das figuras mais emblemáticas do futebol brasileiro. Não apenas pelo seu grande futebol, mas também pela sua importância e resistência política em um momento de Ditadura Militar no Brasil.
Sócrates, que tem a filosofia e seu país no nome, começou a carreira no Botafogo de Ribeirão Preto (SP), aos 18 anos. Enquanto se destacava como um meio-campista promissor, ele também cursava medicina, mesclando carreira e estudos.
Em 1977 se formou e, no ano seguinte, chegou ao Corinthians, clube em que fez história. Na equipe paulista conquistou dois campeonatos paulistas, que foram emblemáticos não apenas pelo campo, mas também pela consolidação da Democracia Corinthiana. Em 1983 o meia foi eleito o melhor jogador do futebol sul-americano. Pelo clube, ele foi tricampeão paulista (1979, 1982 e 1983) e marcou 172 gols em 297 jogos.
A Democracia Corinthiana iniciou em 1982, quando o sociólogo Adilson Monteiro Alves foi escolhido como diretor de futebol do clube. Com uma nova gestão que buscava reerguer a equipe, um modelo revolucionário foi proposto: o clube seria gerido através da escolha coletiva de seus jogadores e funcionários. Dessa forma, a escolha de quem seria titular, as contratações, além de escolhas estruturais e pontuais do clube, eram decididos por votos.
Além de Sócrates, outros jogadores politizados lideraram o movimento, como Walter Casagrande e Wladimir. Este modelo de gestão não era apenas interno, mas tinha um grande simbolismo externo. Em plena Ditadura Militar, o movimento que pregava democracia em suas ações também pedia as Diretas Já, que permitiria a população a escolher novamente seus representantes no governo. A escolha do nome Democracia Corinhiana foi escolhido com grande simbolismo e o jornalista Juca Kfouri foi o grande responsável pela disseminação do termo.
Democracia Corinthiana (Reprodução)
Democracia Corinthiana (Reprodução)
Após a mudança de representantes no Corinthians, o movimento começou a se desfazer. Além disso, em 1984, Sócrates afirmou que deixaria o país caso as Diretas Já não fossem aprovadas. Com a não aprovação da emenda, o craque foi para a Itália, onde jogou por dois anos na Fiorentina. Em 1986, retornou ao Brasil, atuando no Flamengo, onde foi campeão carioca naquele ano, no Santos (seu clube de infância) e retornando ao Botafogo de Ribeirão Preto, para encerrar sua carreira, em 1989.
O futebol de Sócrates o credenciou para ser um importante jogador da Seleção Brasileira nos anos 80. Provavelmente a grande decepção da sua carreira foi a Copa do Mundo de 1982, onde o Brasil tinha um grande time com Sócrates, Falcão, Reinaldo e outros grandes jogadores, que tornavam o país a ser favorito. Nas quartas de final, a Seleção sofreu dura derrota para a então campeã Itália, por 3 a 2. Sócrates fez dois gols naquele mundial: na estreia contra a União Soviética e na derrota para a Itália.
Quatro anos depois, ele retornou ao futebol brasileiro visando disputar a Copa do Mundo, e foi convocado. Ele novamente fez gol na estreia, contra a Espanha, e também marcou nas oitavas, contra a Polônia. Porém o Brasil novamente caiu nas quartas, nos pênaltis para a França.
Com o encerramento de sua carreira, Sócrates atuou em diversas outras áreas. Como técnico, comandou o clube que o revelou, a LDU do Equador e a Cabofriense (RJ). Sempre militou politicamente a favor da democracia, dos direitos da população e da esquerda.
Em 2002 lançou um livro sobre a Democracia Corinthiana e, em 2011, foi lançado um filme sobre o movimento. Sócrates é o símbolo de uma geração que reergueu o Brasil da Ditadura, da mesma forma em que ele reergueu o Corinthians após difíceis décadas anteriores.
Sócrates faleceu no dia 4 de dezembro de 2011, vítima de um choque séptico. Em 1983, ele afirmou: “Quero morrer em um domingo, com o Corinthians campeão.” E assim aconteceu: naquele dia, um domingo, o Corinthians conquistou o Campeonato brasileiro.
A história de Sócrates e tudo o que ele representa sempre estarão presentes na história do futebol e da sociedade brasileiras.