Açaí sendo colhido e levado de barco.

Açaí sendo colhido e levado de barco. Foto: iStock/Mapa

Por Fernanda Damasceno

A rede Diálogos Pró-Açaí acaba de lançar o Caderno de Recomendações para a Cadeia de Valor do Açaí que traz uma série de recomendações relacionadas ao setor a partir de abordagens com foco na sustentabilidade ambiental, social e econômica.

A publicação conta com a realização do Instituto Terroá e com o suporte do projeto Bioeconomia e Cadeias de Valor, desenvolvido no âmbito da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, com apoio do Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha.

Entre as ações propostas, está o monitoramento de regularização fundiária dos fornecedores pelo setor privado, para que possam auxiliar na busca de soluções em caso de situação irregular. No âmbito da atuação dos governos, uma das recomendações é no sentido de priorizar e acelerar a regularização fundiária dos territórios indígenas, quilombolas e assentamentos de reforma agrária.

Açaí, de alimento tradicional a energético para gringos 

O açaí é uma comida histórica de povos originários e tradicionais, contendo alto valor nutricional e de fácil acesso em comunidades amazônicas. 

Contudo, quanto mais ganha espaço em outras regiões e até em outros países, mais caro o produto fica para aqueles que tradicionalmente o consomem. 

Açaí na feira do Ver O Peso, no Pará. Foto: Wagner Okasaki / Getty Images

Açaí na feira do Ver O Peso, no Pará. Foto: Wagner Okasaki / Getty Images

No Pará e na Amazônia como um todo, ele faz parte da cultura: está presente em símbolos como as típicas bandeiras vermelhas que indicam os estabelecimentos onde ocorre a venda do açaí e enfeitam as ruas das cidades.

Em músicas regionais, como na letra “Quem vai ao Pará, parou! Tomou açaí, ficou…” contagiante carimbó na voz do famoso Pinduca, ou na célebre “Sabor Açaí” de Nilson Chaves, onde ele descreve de forma poética a relação da fruta com a cultura alimentar local. 

Em matéria realizada recentemente, o Joio e o Trigo divulgaram as problemáticas dessa relação que as pessoas têm tido com o açaí: 

“Esse açaí, que não é o açaí que faz parte da cultura alimentar paraense, é comercializado com roupa de sustentável, de superalimento, de defensor da Amazônia, de que sai das comunidades, de que a Amazônia está em pé. E aí? E assim ele vai se tornando uma commodity”, disse Tainá Marajoara, que é descendente do povo indígena Aruã, do Marajó, e atua como pesquisadora, cozinheira e ativista pela preservação das culturas alimentares.

Outro problema da alta na exportação da fruta e sua perda enquanto alimento tradicional, está no fato de que, para suprir a alta demanda, é necessário aumentar também a área de plantação da palmeira do açaí. 

De acordo com um estudo publicado em julho de 2021 no periódico científico Biological Conservation, o aumento da quantidade de palmeiras de açaí (Euterpe oleracea), por meio do manejo florestal, tem causado a diminuição do número de espécies vegetais nas várzeas, áreas alagáveis das margens dos rios.

A monocultura, ou seja, o cultivo de um único produto agrícola, além de não ser natural para uma região como a Amazônia, empobrece o solo, colocando em risco outras espécies locais, além de tornar o solo mais vulnerável para queimadas e pragas, por exemplo.  

Fortalecimento e desenvolvimento justo e sustentável da cadeia de valor do açaí

Extrativista de açaí em Afuá, Marajó. Foto: ©Andreza Andrade/Bem Diverso

Extrativista de açaí em Afuá, Marajó. Foto: ©Andreza Andrade/Bem Diverso

Diante desse cenário, os pequenos agricultores e produtores se vêm perdendo espaço e dinheiro com o fruto que até então era seu sustento e principal alimento. 

Por isso, a rede Diálogos Pró-Açaí aponta a necessidade de avançar na resolução das atuais demandas, priorizando as áreas ocupadas por populações tradicionais e agricultura familiar, através de seu Caderno de Recomendações.

É urgente que o tema do impacto da insegurança fundiária seja pautado, especialmente porque observamos suas consequências no aumento da especulação e grilagem de terra, e no crescimento do êxodo rural.

A garantia do direito à terra, com todas as suas questões envolvidas, é um dos desafios enfrentados quando o assunto é o desenvolvimento sustentável.

Saiba mais em: https://www.dialogosproacai.org.br/