Uma nova pesquisa revela que a possibilidade de pessoas negras sofrerem acidentes ou incidentes adversos durante procedimentos médicos é maior em quase todo o Brasil. O Boletim Çarê-IEPS nº3, intitulado “Acidentes e incidentes adversos no período de internação segundo raça/cor”, é uma iniciativa conjunta do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e do Instituto Çarê.

De acordo com a pesquisa, no período de 2012 a 2021, no Norte e no Nordeste, as chances de internação por essas causas foram 6 vezes maiores entre pessoas negras, no Centro-Oeste 3 vezes maiores, e no Sudeste 65% maiores.

Leitura rápida

  1. Desigualdade racial na Saúde: A pesquisa demonstra que pessoas negras têm uma probabilidade maior de sofrer acidentes ou incidentes adversos durante procedimentos médicos na maioria do Brasil, com exceção da região Sul.
  2. Diferença regional significativa: Entre 2012 e 2021, as chances de internação por essas causas foram 6 vezes maiores entre pessoas negras no Norte e no Nordeste, 3 vezes maiores no Centro-Oeste, e 65% maiores no Sudeste. A única exceção é a região Sul, onde pessoas brancas apresentam 38% mais chances de internação por acidentes e incidentes adversos.
  3. Impactos das desigualdades raciais: Rony Coelho, pesquisador do IEPS, destaca que esses dados reforçam os impactos das desigualdades raciais na saúde da população negra, que, mesmo quando recebem atendimento médico, estão mais expostas a situações de risco.
  4. Tendência de queda nas internações: Entre 2010 e 2015, houve um aumento nas internações por acidentes e incidentes adversos, tanto para pessoas negras quanto para brancas. O pico de ocorrências ocorreu em 2015. No entanto, a partir de 2016, houve uma inversão na tendência, e em 2021, o número de registros voltou ao nível de 2010.
  5. Possível subnotificação: A tendência de queda identificada a partir de 2016 pode indicar melhorias na gestão e prevenção, mas também levanta a possibilidade de um aumento na subnotificação dessas situações.
  6. Total de internações: Durante o período de 2010 a 2021, o Brasil registrou um total de 66.496 internações por acidentes e incidentes adversos.
  7. Pico de ocorrências mensais mais alto para pessoas negras: Mesmo com a diminuição geral nas internações, o pico mensal de acidentes durante internações foi mais alto entre pessoas negras. Em junho de 2016, 241 pessoas negras sofreram algum evento adverso associado às causas da CID, enquanto o pico entre a população branca foi de 180 casos em junho de 2015.
  8. Diferenças nas taxas: A pesquisa também destaca diferenças nas taxas de ocorrências de acidentes e incidentes adversos entre pessoas negras e brancas, com uma taxa média mais alta para a população negra.

Rony Coelho, pesquisador do IEPS e integrante da Catédra Çarê-IEPS, enfatiza que esses dados refletem os impactos das desigualdades raciais na saúde da população negra.

“Os dados confirmam, mais uma vez, os impactos das desigualdades raciais na saúde da população negra que, mesmo quando consegue atendimento médico, está mais exposta a situações de risco, como cortes acidentais, perfurações ou erros de dosagem e outras adversidades relacionadas à prestação de cuidados que podem ocorrer durante o período de internação”, explica Coelho.

A pesquisa também analisou a evolução das internações por acidentes e incidentes adversos ao longo dos anos. Entre 2010 e 2015, houve um crescimento constatado nos registros de internações para pessoas negras e brancas, com o pico de ocorrências em 2015. No entanto, a partir de 2016, a tendência se inverteu, e em 2021, o número de registros voltou ao nível de 2010. Isso pode sugerir melhorias na gestão e prevenção dessas situações, bem como um aumento na subnotificação.

No total, o Brasil registrou 66.496 internações por acidentes e incidentes adversos entre 2010 e 2021. A pesquisa também destacou que, embora as internações tenham diminuído, o pico mensal de acidentes foi mais alto entre pessoas negras, com uma taxa média de ocorrências também mais alta para essa população.

Metodologia

Para detalhar, a pesquisa define acidentes e incidentes adversos como condições hospitalares adquiridas de forma indesejável e não intencional durante o período de internação hospitalar. Isso pode incluir cortes acidentais, erros de dosagem, perfurações e objetos estranhos deixados no corpo do paciente durante procedimentos médicos.

Os resultados desse estudo apontam para a necessidade de um exame mais aprofundado das disparidades raciais no sistema de saúde e da implementação de medidas para garantir igualdade no tratamento médico em todo o país.