Por: Patrick Simão / Além da Arena

Na última semana, a FIFA anunciou que a Copa do Mundo de Futebol Masculino de 2030 será realizada em 6 países e 3 continentes. Na primeira rodada, haverá um jogo no Uruguai (abertura), Argentina e Paraguai, com a justificativa de “celebrar os 100 anos da 1ª Copa”, que foi no Uruguai. Depois, todo o restante do torneio será realizado em Portugal, Espanha e Marrocos, que concorriam com a candidatura sul-americana para sediar o torneio. Além da óbvia logística que não faz sentido para as delegações, há muitas outras problemáticas nessa decisão.

O presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez, comemorou a escolha da FIFA, como se essa não fosse uma derrota para o futebol sul-americano, que foi primordial na história das Copas e do futebol como um todo. A FIFA deu migalhas à América do Sul e, ironicamente, levou o mundial para os dois principais colonizadores do continente.

Dessa forma, a entidade finge simbolizar o centenário da Copa na América do Sul, dá a candidatura que queria à Europa e, consequentemente, abre caminho para a Arábia Saudita sediar o torneio em 2034, algo que parece inevitável. Os europeus sediaram a Copa da Rússia em 2018, mas têm muitas divergências políticas e culturais com o país, e antes haviam sediado o torneio na Alemanha, em 2006.

Já os sauditas estão fazendo investimentos bilionários no futebol, e no esporte como um todo, com a já conhecida estratégia do ‘sportwashing’, que consiste em utilizar o esporte para melhorar a imagem pública de um governo ou ditadura. O país tenta mudar a sua imagem pública e, no futebol local, está contratando nomes muito midiáticos, como Cristiano Ronaldo, Neymar e Benzema.

A FIFA nunca teve problemas em utilizar o dinheiro de ditaduras para sediar seus torneios. Em sua história, há dois exemplos clássicos: a Itália do fascista Mussolini em 1934, e a Argentina em 1978. Além disso, a entidade ignorou as críticas ao Catar, onde milhares de trabalhadores morreram nas construções para a Copa, em condições análogas à escravidão, onde a homossexualidade é crime e as mulheres têm direitos restritos.

 

Seleção Italiana no Mundial de 1934 (Reprodução)

 

A partir disso, lembramos de como a Rússia e o Catar foram escolhidos. Fugindo do padrão de escolha 8 anos antes do Mundial. as candidaturas de 2018 e 2022 foram definidas no mesmo dia, em 2 de dezembro de 2010. Para 2018, também haviam se candidatado: Espanha/Portugal, Inglaterra e Holanda/Bélgica. Já para 2022, tentaram: Austrália, Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul.

A escolha do Catar fez a FIFA inclusive mudar a data do torneio, que sempre foi no meio do ano (e fim da temporada europeia), para novembro, devido ao forte calor. A hipocrisia da entidade se escancara ao banir a Rússia do torneio em 2022 e tratá-la como inimiga, devido à Guerra com a Ucrânia, apenas 4 anos depois de apertos de mão com o presidente Vladimir Putin, com a Copa sediada no país. Para as escolhas, houve denúncias de compra de votos que, após investigações, desenrolaram em escândalos de corrupção dentro da entidade, culminando no banimento do então presidente Joseph Blatter. Sobre as denúncias, em 2015, a FIFA declarou que não haviam evidências dos votos comprados, e a investigação não prosseguiu.

Gianno Infantino, Presidente da FIFA, com Vladimir Putin, Presidente da Rússia, em 2018 (Foto: Sputnik/Alexei Nikolsky/Kremlin / REUTERS)

 

Para 2026, a escolha foi tripla, com maior parte do evento nos Estados Unidos, em conjunto com Canadá e México. Para o torneio, a FIFA reunirá pela primeira vez 48 Seleções, ao invés das 32, que aconteciam desde 1998.

Agora, a América do Sul se distancia da Copa no presente e no futuro, enquanto a escolha de 2034 já está encaminhada. Enquanto isso, o próximo Mundial Feminino, de 2027, sequer tem sua sede definida e a decisão será apenas em maio de 2024. Os candidatos são: Brasil, África do Sul, Estados Unidos/México, Alemanha/Bélgica/Holanda.