O Brasil enfrenta dois extremos climáticos simultâneos: uma seca histórica no Amazonas e as severas enchentes no Rio Grande do Sul. Os dois fenômenos têm causas diferentes, mas ambos impactam a população, o meio ambiente e a economia.

Na Amazônia, o nível do rio Amazonas já baixou 7,35 metros, o que é considerado um recorde. A seca afeta 59 dos 62 municípios do estado, deixando mais de 80 mil pessoas sem acesso à água potável.

A falta de água também prejudica a navegação, o transporte de mercadorias e a produção de agricultores familiares. Em Atalaia do Norte, o rio secou tanto que a empresa de abastecimento não consegue mais captar água. Mais de 5 mil pessoas estão sem acesso a água potável somente neste município.

“A gente está vivendo um momento muito difícil. Estamos sem água para beber, para cozinhar, para tomar banho. Estamos tendo que comprar água de caminhão-pipa, que está muito cara”, explica Silvana Menezes, agricultora em Atalaia do Norte, por telefone.

De acordo com o Sistema de Monitoramento da Amazônia (Sipam), o nível do rio Amazonas está 1,5 metro abaixo da média histórica para o mês de outubro. A seca é resultado de um conjunto de fatores, incluindo o El Niño, o desmatamento e as mudanças climáticas.

Foto: Junio Matos

A região de Manaus e sul do Amazonas enfrenta uma séria crise de qualidade do ar devido ao aumento de focos de incêndio, com Autazes liderando um aumento de 15% nos últimos cinco dias, segundo o Inpe.

O Amazonas agora ocupa o segundo lugar no Brasil em focos de calor, atrás apenas do Pará. Manaus registrou índices alarmantes de poluição atmosférica, prejudicando especialmente pessoas com asma e pacientes com Covid-19. O monitor de qualidade do Ar, Selva APP, sinalizou que Manaus teve no mês de setembro o pior índice de qualidade desde que as medições começaram a serem feitas.

Para se ter uma ideia, os incêndios florestais no Canadá, no início deste ano, acenderam alertas de péssima qualidade do ar em cidades como Toronto, que chegou a registrar mais de 200 pontos de qualidade péssima. Em Manaus, entre os dias 22 e 27 de setembro, a área central registrou 220 pontos de qualidade do ar péssima.

A Secretaria de Saúde afirmou que não possui dados sobre as internações provocadas pelo excesso de fumaça na capital. Outro apagão de dados também é notado na outra ponta: a falta de efetivo do Corpo de Bombeiros.

Enchentes ao sul

No Rio Grande do Sul, as chuvas torrenciais que atingiram o estado em setembro deixaram 50 mortos e oito desaparecidos. As enchentes afetaram mais de 100 mil pessoas e causaram prejuízos estimados em R$ 1 bilhão. As chuvas também destruíram estradas, pontes e casas. Em cidades como Porto Alegre e Caxias do Sul, o comércio foi afetado e o transporte público foi interrompido.

De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o Rio Grande do Sul recebeu 300 milímetros de chuva em setembro, o que é o dobro da média histórica. As chuvas foram causadas por um sistema frontal que se formou no Oceano Atlântico e se deslocou para o sul do Brasil.

Rio Grande do Sul – Ciclone – Sobrevoo, assistência e resgate de pessoas ilhadas em Bom Retiro do Sul (RS). Foto: Marinha do Brasil/RS

Emergência climática

O governo federal declarou situação de emergência em dez cidades do Rio Grande do Sul nesta segunda-feira (9). A decisão foi publicada no Diário Oficial da União e visa enfrentar os impactos causados por ciclones extratropicais que assolaram a região.

Entre os municípios afetados estão São José das Missões, Canguçu, Pinheiro Machado, Arroio Grande, Cerrito, Rio Grande, Cacequi, Boqueirão do Leão, Rosário do Sul e Faxinal do Soturno. Pelo menos 51 mortes foram registradas no estado desde setembro, resultantes das fortes chuvas, ventanias, raios, granizo e inundações que ocorreram devido aos efeitos dos ciclones.

Enquanto o Rio Grande do Sul lida com as consequências das intempéries climáticas, a seca e estiagem continuam afetando outras regiões do Brasil. Em Minas Gerais, 135 municípios já declararam “estado de anormalidade por desastres relacionados à seca/estiagem”, de acordo com dados da Defesa Civil do estado.

Apesar do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitir alertas de tempestade para a região Sul de Minas Gerais, o Norte do estado e o Vale do Jequitinhonha permanecem em alerta devido à persistente seca.

Além das questões climáticas locais, o cenário global também preocupa. Setembro de 2023 foi marcado como o mês mais quente da história da Terra, com um aumento na temperatura média global de 0,5º C em relação ao recorde anterior. Isso representa um salto significativo e muito acima do que os cientistas previam.

A temperatura média do planeta em setembro superou em 1,8º C os níveis pré-industriais, evidenciando a urgência de medidas para combater as mudanças climáticas.