Comunidades indígenas Tembé e Turywara, quilombolas e ribeirinhos lançam carta aberta sobre as violências que vêm sofrendo da mineradora Norsk Hydro na região do Vale do Acará, no Pará. 

“Há duas décadas fomos obrigados a conviver com a presença intrusiva de um longo mineroduto que rasga o subsolo de nossas terras sagradas, estrutura que afugenta nossas caças e prejudica a reprodução dos peixes (ictiofauna), levando-nos ao risco de insegurança alimentar; impede nossa livre circulação e estressa nosso cotidiano.” Diz um trecho da carta. 

Novo colonialismo, velhos problemas 

A Hydro é uma multinacional norueguesa que se instalou na Amazônia para extrair bauxita e, por muitos anos, a mineradora tem se apresentado no centro de conflitos com as populações do Pará, onde tem a maior parte de suas operações. 

Dentre os conflitos que tiveram mais repercussão está o vazamento de rejeitos em nascentes de rios através de um “duto clandestino”, descoberto na cidade de Barcarena, região metropolitana de Belém. 

Além disso, são inúmeras as denúncias não somente de atentado ao meio ambiente, como também contra a população, que se diz ameaçada por funcionários da empresa. Nessa nova denúncia feita através da carta pública, moradores do Vale do Acará afirmam:

“A Hydro vem repetindo sua metodologia neocolonial e violadora contra os povos do Vale do Acará. As comunidades não foram consultadas sobre a circulação constante e intrusiva dos funcionários da empresa, que passam em suas picapes em alta velocidade nas estradas de acesso às aldeias e quilombos, colocando em risco nossas famílias.” 

Foto: Planta Industrial da Hydro Alunorte em Barcarena Cícero Pedrosa Neto/ Amazônia Real

Ainda carta, as populações relatam que se sentem inseguras em seus próprios territórios, e denunciam que tudo estaria ocorrendo com a colaboração da SEGUP:

“A Hydro, com a apoio da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Pará (Segup), passou a intimidar e achacar as comunidades com policiamento ostensivo da Polícia Militar, prática patrimonialista e completamente questionável, pois somos os alvos, tratados como marginais em nossa própria casa.” Segundo os moradores, as ordens para as ações vêm diretamente do secretário Ualame Machado.

Eles também mencionam um episódio ocorrido em setembro onde um grupo de indígenas teria sido ameaçados por policiais militares e da Força Nacional, que faziam a segurança da operação da mineradora Hydro ao questionarem o porquê dos agentes estarem trabalhando em seu território, visto que não havia autorização para tal.  

“É inaceitável que a Hydro continue violando nossos direitos, cooptando as forças estatais a seu favor. Não há disputa sem paridade de armas. A Hydro tem dinheiro, o Estado e uma equipe de marketing muito eficaz, capaz de pintar uma imagem positiva de uma empresa recordista em crimes socioambientais na Amazônia, tendo como alvo sempre os corpos indígenas e quilombolas” lamentam os denunciantes.

Os indígenas Tembé e Turywara e os povos quilombolas e ribeirinhos, encerram pedindo que os órgãos responsáveis acompanhem o caso com o devido cuidado. Assinam a carta:

 

  • ASSOCIACAO TENETEHAR TEKOHAW PYTAWA
  • ASSOCIAÇÃO INDÍGENA TEMBÉ DO VALE DO ACARÁ (AITTA)
  • ASSOCIAÇÃO DE MORADORES E AGRICULTORES REMANESCENTES QUILOMBOLAS DO ALTO ACARÁ (AMARQUALTA)
  • ASSOCIAÇÃO INDÍGENA TURIWARA DO BRAÇO GRANDE (AITBG)
  • ASSOCIAÇÃO QUILOMBOLA DA COMUNIDADE NOVA BETEL