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Por Maria Vitória de Moura

Segundo apuração da Mongabay, um levantamento feito pelo Centro de Tecnologia Alternativa da Zona da Mata (CTA), em parceria com as Articulações Semiárido Brasileiro (ASA), Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e Embrapa, aponta que um terço do milho crioulo do Semiárido está contaminado por transgênicos. 

A pesquisa analisou 1.097 amostras, provenientes de 138 municípios nordestinos, o que representa 10% de todos os municípios nordestinos. Em alguns casos, foram encontrados até sete tipos de genes transgênicos diferentes em uma mesma semente.

“Esses lotes em que foram encontrados até sete genes transgênicos não quer dizer que foram testados na mesma planta. À medida que as sementes são liberadas para vendas ou distribuição, mas não há monitoramento e fiscalização, dá margem para que novos cruzamentos possam acontecer de forma aleatória. Existe um descontrole muito grande”, explica Gabriel Fernandes, um dos autores do estudo. 

As sementes crioulas são sementes originais produzidas pela Terra, caracterizadas por serem adaptadas às condições ambientais onde surgiram. Centenárias, essas sementes tradicionais foram passadas de geração em geração e seguem até hoje preservadas pelos agricultores e comunidades tradicionais. 

Após a Revolução Verde, quando se instaurou nos países, como o Brasil, o modelo agrícola mecanizado, pautado no uso de agrotóxicos e na monocultura, as sementes crioulas sofreram um forte impacto, sendo substituídas, primeiro, pelas sementes híbridas já comercializadas pelas grandes corporações e, logo em seguida, pelas sementes geneticamente modificadas.

Os transgênicos foram regulamentados no Brasil em 2005. Na época, já era de conhecimento a possibilidade de ocorrer contaminações cruzadas entre as sementes transgênicas e crioulas, principalmente através do pólen produzidos nas plantações transgênicas, que podem se deslocar por cerca de 3 quilômetros.  A proximidade e coexistência de sistemas tradicionais e agroexploradores faz com que seja cada vez mais comum a contaminação.  

As principais consequências dessa contaminação são os males que os transgênicos podem trazer para a saúde e segurança alimentar da população. As sementes contaminadas perdem o seu aspecto original de se adaptar às condições em que surgiram, levando à perda da biodiversidade e diminuindo a capacidade de produção tradicional. Sementes que antes resultaram em grandes colheitas mesmo em períodos de seca, por exemplo, começam a lutar para brotar na região. 

O Brasil possui 23 raças de milho e centenas de outras variedades do alimento. No entanto, segundo dados da Embrapa, 90% de toda a cultura de milho no Brasil é transgênica. A perda dessa biodiversidade também acarreta nos cenários de insegurança alimentar vividos no país. 

O pesquisador Gabriel Fernandes alerta, ainda, para o fato de que a responsabilidade, assim como os custos, de proteger e perpetuar as sementes tradicionais é dos pequenos agricultores. O agronegócio, beneficiado com uma série de incentivos econômicos públicos e privados, não arca com os prejuízos da contaminação. 

As famílias guardiãs das sementes precisam, muitas vezes, realizar testes de contaminação para se certificarem de que suas plantações não estão contaminadas, sendo um alívio quando o estudo vem negativo e uma dor profunda quando percebem que, apesar das barreiras biológicas construídas entres suas terras e as monoculturas, a contaminação conseguiu adentrar seus quintais.