A população do Equador foi às urnas neste final de semana e, além de escolher seu candidato à presidência, também votou a respeito da exploração de petróleo em uma de suas maiores jazidas, no Parque Nacional Yasuníe. Segundo o Conselho Nacional Eleitoral, 59% das pessoas responderam “sim” para acabar com a exploração no Bloco 43.

O grupo ambiental responsável pela consulta nacional, Yasunidos, só conseguiu realizar o plebiscito depois de reunir 757 mil assinaturas e vencer uma batalha judicial de uma década contra os órgãos eleitorais do Equador.

O parque, um dos epicentros da biodiversidade mundial, além de ser a morada da população indígena local — sobretudo a população isolada — tem mais de 1 milhão de hectares e abriga ao menos 2 mil espécies de árvores e arbustos e 610 espécies de pássaros, sem contar com as demais espécies.

“A vitória do ‘sim’ envia uma mensagem aos investidores, incluindo os principais bancos dos EUA e gestores de ativos, de que a era da extração descontrolada de recursos está chegando ao fim”, disse Kevin Koenig, do grupo de defesa Amazon Watch.

Além disso, essa não foi a única votaçõa sobre um tema socioambiental. Os cidadãos da cidade de Quito expressaram sua discordância com o avanço da exploração mineral em uma área de grande importância devido à sua biodiversidade: o Chocó Andino.

De acordo com a decisão do Tribunal Constitucional, que aprovou o plebiscito, o Estado tem um ano para desmantelar as instalações, prazo que, segundo a Petroecuador, é materialmente impossível devido aos trabalhos e protocolos que devem ser aplicados para fechar poços e desmontar as estruturas.

“Essa é uma mensagem para o governo, indicando que desejamos progredir de maneira distinta: uma economia fundamentada na biodiversidade e não na exploração de recursos naturais”, comunicou à BBC Mundo Inti Arcos, um dos líderes do movimento “Quito sem mineração”.

Com o resultado deste domingo, o Equador torna-se o primeiro país do mundo a banir, por plebiscito, a exploração de combustíveis fósseis em uma região ambientalmente sensível.

Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real

Enquanto isso, no Brasil, o debate vem seguindo um caminho contrário: a exploração do petróleo na Amazônia se tornou uma das maiores polêmicas no primeiro ano de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no governo, que internamente não parece ter uma posição única sobre o assunto.

“Esperamos que o governo brasileiro se mire no exemplo equatoriano e decida fazer a única coisa compatível com um futuro para a humanidade e com a liderança que o Brasil quer ter na luta contra a crise climática: deixar o petróleo da Foz do Amazonas no subsolo e apoiar, quando assumir a presidência do G20, no mês que vem, um pacto global pela eliminação gradual de todos os combustíveis fósseis”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo da organização brasileira Observatório do Clima.

Com informações da Carta Capital.