Por Patrick Simão / Além da Arena

China e Inglaterra se encontrarão na 3ª rodada da Copa do Mundo. Ambas as Seleções vivem um momento de ascensão, são as atuais campeãs em seus respectivos torneios continentais e buscam afirmar um novo patamar no Mundial. A Inglaterra foi semifinalista em 2019 e busca alcançar a sua primeira final, se consolidando ainda mais como uma grande potência. Já a China, que foi referência nos anos 90 e vice-campeã em 1999, tenta voltar a ser mais competitiva, com uma nova geração.

O confronto entre inglesas e chinesas é importante para a afirmação das duas Seleções, e retorna historicamente a um conflito armado: a Guerra do Ópio, que ocorreu no século XIX. Na ocasião, o Reino Unido, assim como parte da Europa, buscava se expandir através da Segunda Revolução Industrial e, para isso, tentavam revender produtos da Ásia e da África.

Os britânicos tinham muito interesse em alguns produtos chineses, como o chá e a seda, amplamente consumidos na Inglaterra. Entretanto, essa relação era deficitária para os britânicos, pois a China visava uma relação comercial fechada com o ocidente, desde o início da Dinastia Qing.

Essa relação mudou através do ópio, que os ingleses compravam mais barato da Índia e revendiam para a China. O país consumia com cada vez mais frequência a droga, inicialmente através da elite e depois da população em massa. Entretanto, o alto consumo do ópio começou a provocar problemas sociais e de saúde pública na China.

Os imperadores chineses tentaram, a princípio, proibir o uso da droga, sem sucesso. Até que em 1839 a China proibiu a entrada do ópio em seu território e apreendeu em torno de 20 mil caixas do produto. Os ingleses reagiram à perda do dinheiro e iniciaram uma guerra contra a China.

Começava então a primeira Guerra do Ópio, que durou entre 1940 e 1942, resultando na rendição chinesa através do Tratado de Nanquim. O acordo obrigava os chineses a reabrir seus portos para o comércio inglês, além da tomada de posse de Hong Kong para o império britânico, um grande triunfo político para a Rainha Vitória.

Em 1856, a China embargou um navio da Coroa Britânica, violando o Tratado de Nanquim. O Reino Unido reagiu e ganhou dois fortes aliados: a França e Estados Unidos, que também visavam os produtos chineses. A guerra durou até 1860, com a invasão de Pequim e o incêndio dos britânicos no Palácio de Verão. A China se rendeu, num acordo que deu maior liberdade dos britânicos acessarem os produtos chineses.

 

China após a 2ª Guerra do Ópio (Foto: Reprodução)

 

A China enfrentou muitas dificuldades econômicas, mas se reergueu economicamente desde então. Pouco mais de um século depois, o processo de orgulho nacional e afirmação do país enquanto uma potência mundial passaram muito pelo investimento em esportes. A China faz propaganda do seu governo sediando grandes eventos e investindo em atletas. É aí que entra, novamente, o futebol.

A China sediou a primeira Copa do Mundo de Futebol Feminino, em 1991. Três anos antes, sediou um torneio-teste, conhecido como Invitations Cup. O país se encaminhava para ser uma grande potência do futebol feminino, tendo como figura central desse processo a meia-atacante Sun Wen. A China foi semifinalista na Copa de 1995 e vice-campeã em 1999, caindo apenas nos pênaltis para os Estados Unidos, em jogo bastante simbólico politicamente.

 

Sun Wen na Copa do Mundo de 1999 (Foto: FIFA)

A China se tornou potência olímpica, mas não conseguiu manter seu sucesso no futebol. Agora, ela busca se reerguer após vencer a Copa da Ásia em 2022, construindo uma nova geração que visa recolocar a China entre as protagonistas. Um ditado popular diz que “o futebol é o ópio do povo”, porém o futebol é um grande fator de construção de uma identidade nacional e de exposição de um país mundialmente. Para a China, o futebol faz parte da retomada do orgulho do povo, após os danos causados pela Guerra do Ópio.

A Inglaterra, por sua vez, sempre buscou atribuir a si o selo de criador e país do futebol. Porém, dentro de campo, os ingleses nunca impuseram um domínio, apesar do protagonismo histórico. No futebol masculino, eles possuem apenas uma final de Mundial, no título de 1966. Os ingleses veem grande potencial e investem cada vez mais no futebol feminino, onde são os atuais campeões da Eurocopa e chegam com grande expectativa para o Mundial.

Inglaterra duelarão às 8 horas da manhã. As inglesas são favoritas e possuem 6 pontos, enquanto as chinesas, com 3, precisam surpreender as rivais para ter chances de classificação, visto que a Dinamarca, também com 3 pontos, é favorita diante do Haiti.

Inglesas comemorando o título da Eurocopa em 2022 (Foto: UEFA)