O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu mais de R$ 17 milhões em Pix entre janeiro e julho de 2023. Segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro vinculado ao Ministério da Fazenda, essas movimentações foram consideradas “atípicas” e provavelmente fazem parte de uma campanha de arrecadação promovida por ele e seus aliados políticos.

A divulgação da chave Pix de Bolsonaro nas redes sociais por ex-ministros de sua administração e alguns parlamentares do PL, como os deputados Mário Frias e Nikolas Ferreira, deu início à referida campanha. A motivação para arrecadar fundos foi a determinação judicial de bloquear R$ 87 mil nas contas do ex-mandatário devido ao não pagamento de multas aplicadas em São Paulo durante a pandemia de 2021, por conta de eventos que geraram aglomerações e não observaram o uso de máscaras.

O relatório do Coaf revelou que a maioria das transações foi originada por um grupo de 18 doadores, composto por advogados, empresários, militares, agricultores e pecuaristas. Cada um contribuiu com valores entre R$ 5 mil e R$ 20 mil para o ex-presidente.

Algumas doações foram propagandeadas nas redes sociais pelos doadores, entre eles Fabrício Queiroz, conhecido como o “ex-faz-tudo” do clã Bolsonaro, e suspeito de operar um esquema de desvio de salários de funcionários-fantasmas do senador Flávio Bolsonaro. Em junho, Queiroz divulgou um comprovante de Pix no valor de R$ 10 destinado ao ex-presidente.

O relatório do Coaf tornou-se público após ser enviado à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os acontecimentos de 8 de Janeiro.

Apesar da arrecadação milionária, Bolsonaro ainda não prestou contas detalhadas dos valores obtidos na “vaquinha” para seus apoiadores. Em junho, ele apenas mencionou que havia conseguido fundos suficientes para quitar suas condenações e multas processuais, ressaltando que as contribuições foram voluntárias e variaram entre R$ 2 e R$ 22.

Do total de R$ 18,5 milhões movimentados nas contas de Bolsonaro em 2023, os R$ 17,2 milhões provenientes de transações via Pix representam a maior parte dos recursos. Entretanto, também foram identificadas movimentações sem relação com a campanha de arrecadação, incluindo uma transferência de R$ 3,6 mil para Walderice Santos da Conceição, conhecida como Wal do Açaí, que foi anteriormente apontada como funcionária-fantasma de Bolsonaro e acabou sendo exonerada após o caso vir à tona.