Futebol feminino da China: do protagonismo à reconstrução
Com um início promissor em Copas do Mundo, o futebol feminino chinês não manteve o protagonismo dos anos 90 nas décadas seguintes
Por Patrick Simão / Além da Arena
Dia 10 de julho de 1999: a China disputava a sua primeira final de Copa do Mundo, contra os Estados Unidos. A grande geração chinesa, protagonizada pela lenda Sun Wen, já havia sido semifinalista em 1995 e tinha chances reais de ser campeã mundial, diante de outra potência do futebol feminino e também de disputas políticas. A decisão foi 0 a 0, porém a China ficou com um doloroso, porém grande, vice-campeonato, caindo por 5 a 4 nos pênaltis.
A década de 90 foi a primeira de maior expansão mundial do futebol feminino, algo que teve grande influência da China, que sediou o 1º grande torneio a nível mundial, a Invitations Cup em 1988, e a 1ª Copa do Mundo, em 1991. A China poderia ser uma grande potência no futuro do futebol feminino… mas não foi o que aconteceu. Agora, no Mundial de 2023, buscam uma nova geração após o título da Copa da Ásia em 2022.
Os últimos anos tiveram sensações mistas para a Seleção Chinesa: em 2021, nas Olimpíadas, sofreram duas goleadas: 5 a 0 para o Brasil e 8 a 2 para a Holanda. No ano seguinte, de maneira surpreendente, conquistaram a Copa da Ásia, superando duas históricas rivais. Na semifinal venceram o Japão, favorito ao título, após empatar em 2 a 2 no último minuto e vencer nos pênaltis. Na decisão, derrotaram a Coréia do Sul, por 3 a 2, com o gol do título nos acréscimos.
A conquista é impactante e pode mudar os rumos da seleção chinesa, mas, neste momento, as expectativas são bem mais baixas. A treinadora da seleção, Shui Qingxia, buscou ser realista ao falar das expectativas chinesas: “Ganhar a Copa da Ásia não significa que somos as melhores entre todas as seleções do mundo. Devemos reconhecer a disparidade entre nós e as potências líderes mundiais do futebol feminino”, afirmou em coletiva.
A treinadora assumiu a seleção pouco antes da Copa da Ásia, e coloca como expectativa passar de fase. Porém, a tarefa é difícil: após estrear com derrota para a Dinamarca por 1 a 0, as chinesas enfrentam o Haiti (27/07) e a Inglaterra (01/08), atual campeã da Eurocopa.
O destaque do time é a meio-campista Wang Shuang, que sempre foi referência no futebol chinês. Em 2019 ela jogou pelo PSG e atualmente está no Racing Louisville, dos Estados Unidos, onde joga com a brasileira Ary Borges. Apesar de ser protagonista da seleção, ela pouco pôde participar do título da Copa da Ásia, devido a uma lesão, e agora é um reforço para a Copa do Mundo.
Outro destaque chinês e que pode liderar a seleção pelos próximos anos é Zhang Linyan. A atacante de 22 anos rapidamente se destacou na liga chinesa, pelo Beijing Phoenix aos 18. Depois, jogou pelo Guangzhou e pelo Wuhan Jiaghan. Mas seu momento de maior destaque foi em 2022, quando foi eleita a melhor jogadora da Superliga suíça, jogando pelo Grasshoppers.
Desde que assumiu o comando da seleção, Shui Qingxia tem como característica o bom jogo defensivo contra Seleções mais fortes, causando um impacto oposto ao que ocorreu nas Olimpíadas. Foi assim que elas superaram o Japão e a Coreia do Sul na Copa da Ásia e, na estreia da Copa do Mundo, não deixaram a Noruega criar tantas chances, apesar da derrota.
Para além do setor defensivo, a China tem Wang Shuang como principal arma de contra-ataque e armação de jogadas. Para surpreender, por exemplo, a Inglaterra, a China provavelmente precisará se defender bem e, quando tiver uma oportunidade, ser certeira com Shuang. Neste momento, Zhang Lynian pode brilhar jogando de meia-atacante.
A maior parte da seleção chinesa atual joga no futebol local, com apenas 4 das 25 jogadoras jogando na Europa e Shuang atuando no futebol dos Estados Unidos. A Copa de 2023 para a China vai muito além dos resultados, mas passa por uma reconstrução no cenário asiático e posteriormente mundial, recuperando o orgulho nacional que o futebol chinês conquistou durante a década de 90.