Comemorada no dia 25 de julho, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha remonta ao ano de 1992 quando, em Santo Domingo, República Dominicana, realizou-se o 1º encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas.

O encontro, além de propor a união entre essas mulheres, também visava denunciar o racismo e machismo enfrentados por mulheres negras, não só nas Américas, mas também ao redor do globo.

Essa importante reunião conseguiu que a ONU, ainda em 1992, reconhecesse o dia 25 de julho como oficial de lutas dessas mulheres.

Mesmo nos dias de hoje, ainda há uma disparidade grande entre os tratamentos que uma mulher branca e uma mulher negra recebem na sociedade.

Dados do Observatório de Igualdade de Gênero do Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA) indicaram que há uma prevalência de 7,2% da violência contra mulheres afrodescendentes, em relação a mulheres brancas na América Latina.

Na Nicarágua, a taxa é de 9,2 mulheres negras agredidas a cada 100 mulheres, em seguida a Colômbia com 9,1 a cada 100, o Peru com 8,1; Brasil com 7,7; Honduras com 6,3; Costa Rica com 4,4 e Panamá com incidência de 3,6 para 100.

No Brasil, pela Lei 12.987/2014, ficou estabelecido, também no dia 25 de julho, o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, com o propósito de lembrar o papel da mulher negra na construção da história do país, papel que muitas vezes foi apago devido ao machismo e racismo estruturais, tendo como exemplo a figura de Tereza de Benguela, mulher negra que morou na região da Amazônia durante o século 18 e salvou dezenas de pessoas da escravidão.

Conheça outras mulheres negras da Amazônia que fizeram e fazem até hoje diferença na luta antirracista e por mais igualdade no Brasil:

ACRE
Jayce Brasil, socióloga, feminista e educadora de Rio Branco, no Acre. Em suas redes ela luta pela consciência da importância da representatividade negra na literatura, especialmente a infantil, tratando do anti racismo desde a infância, por uma educação mais justa e inclusiva.

Jayce Brasil (Reprodução Instagram)

AMAZONAS
Zanza Almeida, membro da União de Negras e Negros Pela Igualdade/AM, é referência na luta antirracista no Amazonas, além de ser Doutoranda do Curso de Doutorado em Educação na Amazônia da UFAM, trabalhando a pauta dentro da academia.

Zanza Almeida (Arquivo pessoal)

AMAPÁ
Antônia Venina da Silva, a Tia Venina, é uma figura histórica no Amapá. Quilombola, ela cuidou sozinha não só dos 9 filhos, mas também foi liderança da comunidade à qual pertencia, no Quilombo do Curiaú, na Zona Rural de Macapá. Em 20 de julho de 1997, dois anos após o falecimento, foi criada a Associação Mulheres Mãe Venina do Curiaú, que desenvolve trabalhos voltados para a educação ambiental e principalmente ao empoderamento feminino.

Estátua em homenagem a Tia Venina (PMM/Divulgação)

MARANHÃO
Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista brasileira, nasceu em São Luís em 1825, filha de uma mulher que ainda era escravizada. Ela foi professora e fundou a primeira escola mista e gratuita do Maranhão. Atuou como folclorista, na recolha e preservação de textos da cultura e da literatura oral e também como compositora. Ela escreveu Úrsula, o primeiro romance abolicionista de autoria feminina da língua portuguesa; e, possivelmente, o primeiro romance publicado por uma mulher negra em toda a América Latina.

Maria Firmina dos Reis (Wal Paixão)

MATO GROSSO
Tereza de Benguela, a Rainha Tereza, liderou a resistência do povo negro à frente do Quilombo de Quariterê, no Mato Grosso, durante o século XVIII. Ela coordenou as atividades econômicas e políticas do quilombo por duas décadas, além de ser responsável pela defesa e articular um parlamento para decidir em grupo as ações da comunidade, que vivia do cultivo de algodão, milho, feijão, mandioca, banana e da venda dos excedentes produzidos. Infelizmente devido ao racismo e machismo sua história foi muito invisibilizada, porém nunca esquecida, e acabou sendo resgatada aos poucos anos depois. O dia 25 de julho também o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

Tereza de Benguela (Divulgação)

PARÁ
Zélia Amador de Deus é uma professora universitária, militante dos direitos da população negra, atriz e diretora de teatro. É uma das fundadoras do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará e participou da criação da “Lei de Cotas”. Conhecida por sua atuação no debate antirracista dentro da universidade, assim como nos palcos e na arte, onde se encontrou desde criança. Suas teses são referência quase obrigatória para aqueles que querem falar sobre racismo contra as pessoas negras no Brasil. @cedenpa.cedenpa

Zélia Amador de Deus durante o FOSPA em Belém, em 2023 (Mídia NINJA)

RONDÔNIA
Eunice Luiza Johnson Batista, de 80 anos, é educadora e filha de pai imigrante da ilha caribenha de Granada, ela foi peça importante para a construção da Universidade Federal de Rondônia (Unir) e  permaneceu professora da Instituição por 30 anos, em uma época em que as pessoas se negavam a contratar pessoas negras por conta da cor. Foi vencedora de uma honraria pelos seus feitos pela cidade de Porto Velho, o I Prêmio Mulheres Negras dado pela prefeitura da cidade. 

Eunice Luiza Johnson Batista (Gente de opinião)

RORAIMA
Nelita Frank é socióloga e uma das fundadoras do Núcleo de Mulheres de Roraima (Numur) e faz parte da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB). Criado em 1998, o Numur atua no enfrentamento à violência contra as mulheres, pela legalização do aborto, pela democracia e na luta antiracista.

Nelita Frank no batuque do Numur em ato de greve (Yolanda Simone)

TOCANTINS

Dona Antônia Barros, a Beta Antônia, recebeu em uma visão instruções de Padre Cícero de criar a Nova Juazeiro. Nordestina do Maranhão e vivendo em Filadélfia, no Tocantins, decidiu seguir viagem com parentes, vizinhos e amigos em busca das Bandeiras Verdes, como indicado pelo guia espiritual. Isso enfureceu as autoridades da cidadezinha, pois esvaziou sítios e casas, que a seguiram. Mesmo com diversas tentativas para impedir sua romaria, Beata Antônia seguiu no final da década de 1940, e com sua liderança o local indicado foi encontrado, onde hoje é a cidade de Aragominas, no Tocantins.

Beata Antônia (Ilustração por Marcos Müller para Estadão)