Aos 37 anos, a jogadora, que já foi eleita 6 vezes a melhor do mundo, vai em busca do título inédito para a seleção

Foto: Instagram/ @sportv

Por Raisa Proeza

Marta é considerada, por muitos, a rainha do futebol, e isso se deve graças ao seu desempenho e aos números incontestáveis que alcançou, ao longo da carreira. Eleita seis vezes, pela FIFA, a melhor jogadora do mundo, a atleta é a maior vencedora da sua categoria. Ao longo da sua vitoriosa carreira, a alagoana de Dois Riachos colecionou diversos recordes. Entre homens e mulheres, é a maior artilheira em Copas do Mundo: já são 17 gols e uma grande probabilidade de aumentar esse número, uma vez que ela segue, junto às nossas guerreiras, rumo ao título inédito.

Segundo dados disponibilizados pelo site do Comitê Olímpico Internacional, no total, foram mais de 183 jogos vestindo a ‘amarelinha’ e 119 gols pela seleção, além de conquistar títulos importantes, na carreira, como Champions League, Libertadores, Copa América, Pan- Americano, medalha olímpica e um vice campeonato, na Copa do Mundo de 2007.

Ainda menina, aos 14 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a jogar, profissionalmente, pelo time carioca Vasco da Gama. Aos 17, estreou em sua primeira Copa do Mundo: a dos Estados Unidos, em 2003. Lá, apresentou todo o seu futebol e começou a marcar o seu nome na história, assumindo a camisa 10 da seleção feminina brasileira.

Nesse ano, a seleção foi eliminada por 2 a 1, nas quartas de final, pela Suécia. Porém, após a participação da equipe, iniciou-se uma transformação no cenário. Com discursos por mais investimento e apoio, a modalidade atraiu atenções.

Em 2007, liderou a seleção, no Pan- Americano sediado no Rio de Janeiro. Na ocasião, consagraram-se campeãs, contra os Estados Unidos, no Maracanã, templo do Futebol, perante cerca de 80 mil  pessoas.

Marta tornou-se o maior nome do futebol feminino no Brasil e no mundo, mas suas conquistas ultrapassam as 4 linhas. Ciente do seu papel e lugar de destaque, passou a atuar, ativamente, por melhores condições de trabalho, dentro do esporte, e pela igualdade de gênero. Com discursos fortes e potentes, sempre criticou a enorme desigualdade salarial entre homens e mulheres, no futebol.

Ao ser entrevistada pelo portal de notícias esportivas da Rede Globo – GE, a rainha falou um pouco sobre o seu posicionamento: 

“Fazemos isso para que as próximas meninas que venham aí possam usufruir de uma qualidade maior de trabalho, de mais opções. Cada vez que tem oportunidade, a gente precisa mostrar ao mundo que a igualdade é necessária. É preciso que a gente possa ver o outro como ser humano”.

Na copa de 2019, na França, após ter sido eleita, no ano anterior, como a melhor jogadora do mundo (pela sexta vez), não aceitou nenhum patrocínio de marcas de material esportivo, uma vez que o valor oferecido era bem menor em relação ao que é pago aos jogadores. Ao invés disso, usou uma  chuteira que marcou a competição: toda preta com o símbolo do movimento a favor da igualdade de gênero no esporte. E, em diversas oportunidades, quando fazia um gol, a jogadora levantava o pé, apontando para o símbolo. 

Tal atitude ganhou, rapidamente, as redes sociais e ajudou a fomentar o debate, pautando o discurso midiático e o questionamento às organizações a respeito dos salários, das condições de treinamento e do apoio às mulheres, já que elas não possuem o mesmo apoio financeiro e estrutural que o oferecido aos homens. 

Após a eliminação pelas donas da casa, a camisa 10 voltou a falar sobre a importância da valorização do futebol feminino, na edição que bateu vários recordes de audiência.

“A gente está sorrindo aqui e acho que é esse o primordial, ter que chorar no começo para sorrir no fim. Quando digo isso é querer mais, treinar mais, estar pronta para jogar 90 e mais 30 minutos e mais quantos minutos forem necessários. É isso que peço para as meninas. Não vai ter uma Formiga para sempre, uma Marta, uma Cristiane. O futebol feminino depende de vocês para sobreviver. Pensem nisso, valorizem mais. Chorem no começo para sorrir no fim”.

A atacante se tornou um exemplo para todas as suas colegas de profissão ao mostrar que é possível seguir os seus sonhos e realizar o seu trabalho. Ela é um exemplo para todas as mulheres ao levantar questões importantes como uma mulher LGBTQIAPN + e nordestina, que busca sempre se posicionar.  

 

(Crédito:ONU Mulheres/Ryan Brown)

Desde que ganhou a sua primeira Bola de Ouro, aos 20 anos, o futebol feminino passou por grandes transformações, e muitas meninas, inspiradas pela nossa capitã, passaram a praticar o esporte. Muitas delas, hoje, estão na seleção e não escondem o papel fundamental de Marta. Quando ela começou, no Brasil, não havia uma competição nacional. Hoje, temos o Brasileirão, com três divisões, visto que, pelo regulamento, os clubes que estão nas séries A e B do masculino são obrigados, também, a ter um time feminino.

Devido ao seu ativismo, foi convidada a ser embaixadora da Boa Vontade pela  Organização das Nações Unidas Mulheres. Assumiu mais um compromisso ao ser nomeada, pelo secretário geral, como Defensora dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

“Eu sei, da minha experiência de vida, que o esporte é uma ferramenta fantástica para o empoderamento… por meio do esporte, mulheres e meninas podem desafiar normas socioculturais e estereótipos de gênero e aumentar sua autoestima, desenvolver habilidades de vida e liderança; elas podem melhorar sua saúde e posse e compreensão de seus corpos; tomar consciência do que é violência e como evitá-la, procurar serviços disponíveis e desenvolver habilidades econômicas. ” – trecho de uma entrevista disponível no portal de notícias da ONU mulheres.

O futebol feminino ainda precisa evoluir muito, ter mais investimentos e melhor infraestrutura. Porém, houve inegáveis avanços, nos últimos anos, como uniformes próprios, maior visibilidade e projetos que buscam diminuir a diferença na remuneração entre homens e mulheres. Isso se deve, muito, às conquistas da seleção feminina, liderada por Marta, por suas conquistas individuais e, principalmente, por seu ativismo.

Recentemente, em uma entrevista ao Esporte Espetacular, ao ser questionada sobre o seu legado, a atleta ressaltou como gostaria de ser lembrada: não por suas conquistas dentro do campo; mas, principalmente, por aqueles que obteve fora dele, buscando desempenhar um papel na intenção de ajudar meninas que queiram jogar futebol a não enfrentar tantos obstáculos e não ser vítimas do preconceito.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube