Por Ana Júlia Luz Lemes

Após estreia segura e convincente contra a favorita Inglaterra, é difícil acreditar que essa é a primeira Copa do Mundo da seleção haitiana. O país, que sofre com desastres naturais e violência, mostrou que pode surpreender em muitos outros aspectos. As mulheres que estão representando o país são a prova disso.

Melchie Dumornay é considerada a estrela do time. A meia atacante do Lyon (FRA) de apenas 19 anos é especial, tem muita qualidade e força com a bola nos pés. Quem atua ou já jogou contra ela diz que é questão de tempo até ganhar uma bola de ouro. No jogo de estreia do Haiti em copas do mundo ela parecia tão confiante e iluminada, que era difícil acreditar que fazia seu primeiro jogo em uma copa. Natural de Mireblais, no centro da ilha haitiana, começou a jogar bola aos 5 anos de idade, em seu bairro, descalça e com os meninos. Aos 12 anos, defendeu a seleção sub-15 no campeonato da Concacaf de 2016; dois anos depois, foi a melhor jogadora do torneio no campeonato sub-17 da Concacaf e disputou a Copa do Mundo Sub-20 na França. Lá ela chamou a atenção de olheiros dos principais clubes europeus, incluindo o Lyon, onde atua.

Nérilia Mondésir, aos 24 anos a atacante já é a capitã do time. Ela é conhecida por suas habilidades ofensivas e sua velocidade impressionante em campo. Jogava futebol desde os 6 anos de idade, mas por influência do primo migrou para o Judô e em 2011 ingressou na Escola Nacional de Talentos Esportivos (ENTS) em Croix-des-Bouquets. Decepcionada por não ter sido selecionada para representar seu país como judoca, ela decidiu voltar à sua primeira paixão, o futebol. Em 2014, disputou sua primeira competição pela seleção Sub-15, onde chegou à final e foi a artilheira da competição. Com apenas 16 anos fez sua estreia pela seleção principal. Sua carreira profissional inclui passagens por clubes como o Montpellier, na França, onde se destacou como uma das jovens promessas do futebol feminino.

Roselord Borgella, 30 anos, atacante do Dijon FCO, time da primeira divisão francesa. É muito versátil e já foi utilizada em quase todas as posições em campo durante a carreira. Depois de uma decepção em sua primeira tentativa como profissional, na Coreia do Sul, conseguiu abrigo no hotel da equipe do Santiago Morning (Chile). Os dirigentes deram alojamento e alimentação e ela precisava trabalhar como faxineira no Hotel para enviar dinheiro para a família no Haiti e demais despesas. No Chile foi bicampeã nacional em 2018 e 2019, e ainda foi artilheira, com impressionantes 102 gols. Após a passagem pelo futebol chileno e uma transferência em 2020 para o israelense Maccabi de Hadera, a haitiana foi para a França. Segundo ela, disputar a Copa do Mundo é um sonho.

Foto via NewsWoso

Jennyfer Limage, 25 anos, é zagueira e também pode atuar como volante, joga no Grenoble Foot 38, da segunda divisão francesa. Começou sua carreira no clube canadense semi-profissional Blainville e sua estreia pela seleção foi em 2015. Sobre a seleção disse: “Muitas meninas dessa seleção estão juntas e se conhecem desde os 15 anos, e posso dizer que temos uma equipe forte no aspecto mental e físico”.

Chelsea Surpris, 26 anos, lateral esquerda, atua no Grenoble Foot 38, da segunda divisão francesa. Jogou pela seleção sub-18 e sub-20 dos Estados Unidos quando era mais jovem. Fez pré-temporadas e completou os quatro anos de faculdade lá antes de decidir jogar pela seleção do Haiti.

Apesar dos feitos gloriosos que podem alcançar, as atletas haitianas dificilmente poderão comemorar em casa. De acordo com as Nações Unidas, desde janeiro, 1.000 pessoas foram sequestradas e 2.000 mortas em fogo cruzado entre gangues armadas haitianas.

“É muito difícil não poder voltar para o seu país facilmente, todos os haitianos queriam que voltássemos para comemorar e tirar fotos. Espero de todo o coração voltar logo” (Melchie Dumornay, há dois anos sem retornar para casa).

Com informações de The Guardian e FIFA.com

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube