Melhor jogadora da história, Marta tem grande impacto e visibilidade em seus posicionamentos, gerando importantes debates públicos sobre o tema

Foto: Go Equal | Divulgação

Por Patrick Simão / Além da Arena

A discrepância salarial entre mulheres e homens, no esporte, persiste em premiações, salários e patrocínios. Prova disso é que, desde 2001, apenas 6 mulheres estiveram nas listas da revista Forbes dos 50 atletas mais bem pagos do mundo. Nenhuma delas atua no futebol.

Na Copa do Mundo de 2019, a brasileira Marta, eleita 6 vezes a melhor jogadora do mundo, fez um importante protesto contra essa diferença remunerativa. Ela não aceitou nenhum tipo de patrocínio na Copa e, posteriormente, nem nas Olimpíadas. Na Copa, ela utilizou uma chuteira sem marca esportiva, com o símbolo da igualdade entre gêneros.

Melhor jogadora da história, Marta tem grande impacto e visibilidade em seus posicionamentos, gerando importantes debates públicos sobre o tema.

A disparidade financeira entre homens e mulheres, no esporte, não pode se resumir, apenas, a números de engajamento e mercado. Essa diferença precisa ser vista, também, como um resultado de fatores históricos, sociológicos e culturais.

No Brasil, o futebol feminino iniciou sua profissionalização em 1983, após ser proibido entre 1941 e 1979. No masculino, esse processo começou nos anos 30. Após a profissionalização, o processo de desenvolvimento e inserção pública foram longos. Dessa forma, não podemos resumir o debate puramente à questão mercadológica, excluindo, assim, fatores históricos, sociológicos e culturais.

Além do processo muito mais tardio de profissionalização, o futebol feminino também enfrenta o obstáculo do machismo e do estigma sobre sua prática. Apesar de todos os avanços do futebol feminino e das atletas no esporte, haverá críticas, somente, por elas serem mulheres no futebol. Existe um processo de descredibilizar seus feitos e destacar, desproporcionalmente, suas eventuais falhas.

Segundo o Jornal Marca, da Espanha, Marta recebe cerca de 400 mil dólares por ano. No futebol masculino, esses fatores se aplicam a ‘jogadores comuns’ de ligas europeias.

A transferência mais cara do futebol feminino é da inglesa Keira Walsh, que foi do Manchester City para o Barcelona por 460 mil euros. Valor muito baixo se comparado a contratações de jogadores e clubes menores, no Brasil e no mundo.

Em meio a tanta diferença e resistência ao desenvolvimento do futebol feminino, o posicionamento de Marta é de suma importância. Ela não reivindica apenas por ela, já consagrada, aos 37 anos, mas sim pelas novas gerações do futebol feminino. A brasileira é símbolo dessa luta, junto de outras grandes jogadoras, como Megan Rapinoe.

A audiência, crescimento e debate sobre o futebol feminino são crescentes, mesmo que o processo de aceitação popular seja longo. O futebol tem raízes culturais que o associam, erroneamente, à masculinidade. Esse processo de ruptura gera resistências, mas tem sido inserido, cada vez mais, no futebol feminino, por meio de patrocínios, visibilidade e apoio de grandes nomes, sendo Marta o principal deles.