Novas estimativas do Relatório Mundial sobre Drogas 2023, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime da Organização das Nações Unidas (ONU), sugerem que o tráfico internacional de drogas e algumas de suas consequências, como conflitos armados, violação dos direitos humanos e deslocamentos forçados, tendem a contribuir para a destruição do meio ambiente, prejudicando principalmente os grupos populacionais mais vulneráveis.

O relatório estima que cerca de 296 milhões de pessoas no planeta usaram drogas em 2021 – um aumento de 23% em relação há dez anos. E o número de usuários com transtornos associados a esse consumo passou de 39 milhões – um aumento de 45%. Embora tenha perdido força na fronteira do Brasil com Paraguai e Bolívia, o Comando Vermelho, do Rio de Janeiro, é visto como a facção com maior poder na região, estendendo suas operações de garimpo para o Peru. Enquanto isso, o PCC, de São Paulo, tem cada vez mais operações de mineração ilegal, “oferecendo ‘proteção’, extorquindo ‘impostos’ e controlando poços e máquinas de dragagem”.

O relatório da ONU também chama atenção para os efeitos indiretos gerados pelo avanço do narcotráfico na região.

“A expansão de fronteiras agrícolas, pecuária, mineração, estradas, esquemas de desenvolvimento urbano e energético, deslocamento e migração impulsionados pela economia das drogas são covariáveis potencialmente mais fortes que contribuem para o desmatamento”, diz o documento.

A floresta “está na intersecção de múltiplas formas de crime organizado, que aceleram a devastação e degradação do meio ambiente, com muitas implicações em termos de segurança pública, de saúde pública, mas também individual e outros impactos negativos sobre as populações”, explicou a investigadora Chloe Carpentier, chefe da Seção de Investigação sobre Drogas, à ONU News.

Soluções

O direito à saúde não está garantido para muitas pessoas que usam drogas. Algumas populações de baixa renda e vulneráveis, como as da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, estão presas em áreas rurais com alta prevalência de crimes ligados às drogas ilícitas. A localização remota dificulta muito o fornecimento de cuidados e serviços de tratamento, de recursos ou de estado de direito a essas populações.

“A disparidade é especialmente predominante entre o norte e sul do mundo e entre as áreas urbanas e rurais, com algumas pessoas sofrendo o impacto negativo de drogas mais do que outras”, argumentam os especialistas, que defendem prioridade para o fortalecimento das redes de saúde pública.

“A prevenção é uma grande arma nesse sentido de você reduzir o consumo prejudicial de drogas e o que isso acarreta tanto aí na questão da Amazônia como no mundo todo. A dificuldade reside, realmente, em como implementar e ter recursos para que isso seja feito da melhor maneira possível”, explica Gabriel Andreuccetti, estatístico de dados do UNODC.