Racismo religioso e intolerância religiosa no Brasil das contradições: quem é seu orixá?
Em um país laico, em que as pessoas têm liberdade religiosa, deixar todas exercer a sua fé com plenitude e dignidade deve ser um princípio básico de respeito ao próximo
Nos últimos anos, a discussão sobre intolerância religiosa e racismo religioso ganharam novos contornos devido à falta de informação e, consequentemente, preconceito contra religiões de matriz africana. Vale ressaltar que essas discussões acabaram ganhando mais força ainda nos últimos meses devido à participação do Dr. Fred Nicácio no programa Big Brother Brasil, da TV Globo. Colegas de confinamento do brother ficaram perplexos ao vê-lo rezar antes de dormir orações do culto de Ifá. Um deles até avisou que iria pedir para sair do reality caso o médico continuasse com as preces.
Felizmente, a punição para crimes contra religiões de matriz africana como a umbanda, o culto de Ifá, o candomblé, o batuque, a encantaria, a jurema, o nagô-vodun, o tambor de Mina, o terecó, o xangô e o xambá foi endurecida neste ano pelo atual governo. Para muitos desavisados, o dia 21 de março se tornou, pela lei (Lei 14.519), o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé.
Uma pesquisa coordenada pela Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras, em 2022, mostrou que nos últimos dois anos crimes de intolerância religiosa cresceram 45% no Brasil e os principais alvos são os cultos de matriz africana. A pesquisa ouviu representantes de 255 terreiros de todo o país, e quase metade diz ter sofrido mais de cinco ataques no período.
O que é possível notar é que há um projeto para invisibilizar e violentar as religiões de matriz africana no país, em que se aplica conotações negativas ligando aos orixás e a fé dessas pessoas, inviabilizando os costumes de um povo e tirando a sua dignidade. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 0,3% da população brasileira se declara integrante de religião de matriz africana.
E são inúmeros os casos de violência pelo país inteiro, de pessoas que se incomodam com terreiros e práticas de religiões de matriz africana em suas vizinhanças. Em 2021, dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH) revelaram que 571 denúncias de violação à liberdade de crença foram feitas no Brasil.
Em um país laico, em que as pessoas têm liberdade religiosa, deixar todas exercer a sua fé com plenitude e dignidade deve ser um princípio básico de respeito ao próximo. Além disso, intolerância religiosa e racismo religioso são crimes. Não existe nenhuma crença melhor ou pior que a outra, cada uma deve ter o direito de expressar a sua cultura e fé.