E o Oscar vai para…
O desempenho técnico norteará o julgamento da premiação máxima do cinema?
Por Deyse Reis para cobertura colaborativa da Cine NINJA
Todos os anos, o Oscar gera bastante polêmica e discussões políticas e sociais, ainda que necessariamente não seja o seu foco. Este ano, a categoria Melhor Atriz tem dado o que falar e dividido opiniões desde o anúncio das candidatas.
Dada a largada à temporada de premiações, seja nos circuitos de festivais ou nos canais de televisão, seis fortes nomes se alternavam entre as indicadas: Ana de Armas, Michelle Williams, Cate Blanchett, Viola Davis, Danielle Deadwyler e Michelle Yeoh. Um grupo misto e bem diversificado, composto por atrizes latinas, brancas, negras e asiáticas. Um saldo positivo frente a anos passados, mostrando que, quando dadas oportunidades justas a todas, o talento se sobressai. Afinal, o que tem que prevalecer é o mérito de cada performance.
Entretanto, quando a lista final saiu, em 24 de janeiro, a configuração mudou. Viola Davis, que recentemente se tornou uma EGOT (artista que conquista Emmy, Grammy, Oscar e Tony), e Danielle Deadwyler, no papel de Mamie Till-Bradley (ativista que buscou justiça pelo assassinato do filho de 14 anos na década de 1950), foram deixadas de lado e substituídas por Andrea Risebourough.
A entrada de Andrea repercutiu negativamente as escolhas do Oscar, mais uma vez. As cinco finalistas eram majoritariamente brancas, anulando duas potentes atuações negras em chances igualitárias. Além disso, supostamente, pessoas por trás do filme “To Leslie” (protagonizado por Risebourough) teriam usado contatos importantes, incluindo atores e atrizes de peso, para fazer uma campanha em prol de Andrea, o que seria uma conduta ilegal. A Academia apurou os fatos e decidiu manter a indicação de Risebourough. A controvérsia acerca da nomeação da atriz tirou a atenção frente à sua atuação.
Assim, a disputa se concentrou em Cate Blanchett e Michelle Yeoh, que dividiram os prêmios ao longo da caminhada já que Ana de Armas e Michelle Williams não apresentaram expressividade durante a temporada.
Cate Blanchett saiu em vantagem, sendo considerada a grande favorita, arrebatando prêmios nos mais importantes e conceituados festivais, como também o Globo de Ouro, o Critics Choice e o Bafta.
O que parecia uma vitória certa e sedimentada para Blanchett mudou após o SAG Awards, premiação do sindicato dos atores. A carreira longeva e significativa de Yeoh foi reconhecida. Ao longo dos anos, Michelle teve raras chances de prêmios, sendo inclusive esquecida pela Academia por sua participação em O Tigre e O Dragão (2000). A atriz, marcada por sua habilidade em artes marciais na maioria de seus papeis, mostrou sua versatilidade em Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Desde então, o apoio a Yeoh cresceu nas redes sociais e entre os artistas.
Yeoh venceu novamente no Film Independent Spirit Awards, acirrando a luta em busca da estatueta dourada. O elenco de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo intensificou as postagens, enaltecendo especialmente o trabalho de Michelle no multiverso dos Daniels (Daniel Scheinert e Daniel Kwan). Já a conta do filme Tár foca em mostrar os comentários favoráveis da crítica especializada, que tece elogios à atuação de Blanchett, considerando-a a maior atriz viva da atualidade.
Em 7 de março, último dia da votação da Academia, Michelle Yeoh publicou em sua conta de Instagram uma matéria da Vogue. No texto, o autor dizia que Cate Blanchett já detinha dois Oscars e, se ganhasse agora o terceiro, a consagraria como uma titã na indústria cinematográfica. Para Michelle, seria uma mudança de vida ter “Vencedora do Oscar” ao lado de seu nome. Yeoh, minutos depois, apagou o post. Seria, mais uma vez, uma campanha ilegal por citar o nome da concorrente. O fato dividiu opiniões novamente. Para alguns, atitude desleal de Yeoh. Para outros, nada mais justo, uma vez que Risebourough também se prevaleceu dessa conduta.
É aí que a questão volta à tona: o que vai decidir o Oscar? Favoritismo? Mérito? Quesitos técnicos? Melhor campanha? Diversidade? Em um mundo ideal, nada disso deveria ser posto à prova. Vence a melhor e ponto. Cor, nacionalidade, religião não deveriam importar. Em uma premiação tão conservadora e polícia como o Oscar, entretanto, isso não se aplica. Os fatores de decisão passam a ser mais subjetivos do que técnicos.
As duas atrizes, sem dúvida alguma, estão entre as melhores atuações do ano. Ambas performances são dignas do prêmio máximo. Contudo, no dia 12 de março, a Academia e seus votantes decidirão de acordo com suas agendas pessoais. Decidirão se preferem o drama tradicional ou o ousado, se preferem tornar Blanchett a mais jovem atriz a conquistar três Oscars ou dar voz a uma atriz asiática em sua primeira grande chance. No fundo, será o favoritismo, de um jeito ou de outro, que vai ditar as regras.
Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2023