Por Mauro Utida

Dois dias após o ataque terrorista em Brasília por apoiadores do atual presidente Jair Bolsonaro (PL), o acampamento de golpistas em frente ao quartel general do Exército continua ativo e ninguém foi preso ou identificado, conforme informações da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF).

O grupo incendiou veículos, depredou uma delegacia, fechou vias e tentou invadir a sede da Polícia Federal. Também houve confronto com a Polícia Militar. A SSP-DF afirma que apura as responsabilidades, junto com a PF. (confira a nota na íntegra abaixo).

A impunidade até aqui pelos ataques na região central de Brasília, que queimou três carros e cinco ônibus, na noite desta segunda-feira (12), gerou um sentimento de indignação nas redes e da própria equipe de transição do presidente eleito Lula (PT).

Uma destas vozes que irozinou a impunidade aos bolsonaristas que incendiaram Brasília foi o líder dos entregadores antifascistas, Paulo Roberto da Silva Lima, o Galo, condenado a uma pena de três a seis anos de prisão por ter ateado fogo, durante um protesto, ao monumento em homenagem ao bandeirante paulista Borba Gato, que escravizou negros e indígenas no passado.

“Os bolsonaristas estão invadindo delegacias, queimando ônibus, postos de gasolina, roubando butijõess de gás e o silêncio sobre isso dos que pesaram a mão em nós é ensurdecedor. Minha companheira foi presa, meus camarada foi preso, eu fui preso e o Ministério Público pediu a minha condenação em mais de 3 anos, por alguns minutos nós ateamos fogo num pedaço de pedra que homenageia um de nossos carrascos históricos e a atual burguesia e fomos duramente punidos, eles estão nos matando, torturando, estuprando e escravizando a mais de 500 anos e nunca ninguém foi preso!”, escreveu em sua conta no Instagram.

O deputado federal eleito Guilherme Boulos (Psol-SP) também satirizou a impunidade aos “patriotas”: “Imaginem se fosse o MTST ou o MST queimando carros, ônibus e tentando invadir a PF em Brasília”, disse o coordenador do MTST e da Frente Povo Sem Medo, movimentos que já foram duramente reprimidos pelas forças de segurança durante suas manifestações em São Paulo e Brasília.

Boulos também criticou o deputado bolsonarista Luiz Lima (PL) que acusou o “MTST de infiltrar pessoas para queimar ônibus em Brasília”. “A canalhice e compulsão à mentira dessa gente não tem limites”, criticou.

Desafios do futuro governo

O futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou nesta quarta-feira (14), que, se nada acontecer até dia 31 de dezembro, a partir de janeiro, o novo governo vai trabalhar pela responsabilização dos envolvidos. Dino garante que a posse de Lula no dia 1º de janeiro não sofrerá mudanças.

Lula chamou as pessoas que estão propagando atos terroristas para contestar o resultado das eleições de “fascistas” e responsabilizou Bolsonaro por incentivar as manifestações.

“Todas as vezes que eu perdi, eu respeitei quem tinha ganho. Esse cidadão (Bolsonaro) até agora não reconheceu a sua derrota, continua incentivando os ativistas fascistas que estão na rua se movimentando. Ontem (segunda-feira, 12), ele recebeu esse pessoal no Palácio do Alvorada. Ele tem que saber que aquilo é um patrimônio público, não é dele, não é da mulher dele”, disse Lula.

A série de depredações aconteceu no mesmo dia em que o petista foi diplomado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A remoção de manifestantes será um dos primeiros pedidos de Lula na conversa com os próximos comandantes-gerais das Forças Armadas, a serem confirmados por ele. O presidente eleito quer pôr fim aos protestos na entrada de quartéis pelo país que contestam o resultado das urnas e pedem intervenção militar.

Na madrugada desta terça, o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Julio Danilo, afirmou que a manutenção ou não do acampamento no QG em Brasília será “reavaliada” após os atos de vandalismo registrados horas depois da diplomação de Lula, na sede do TSE.

Ele ponderou, no entanto, se tratar de área militar, e que ao governo local cabem apenas ações acessórias, de ordem pública e limpeza. O delegado garantiu que os envolvidos nos crimes serão alcançados, onde quer que estejam.

O próprio governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), chegou a declarar que “a ordem é prender” todos os bolsonaristas que estão fazendo depredações e outros atos de vandalismo, porém até o momento nada aconteceu.

Os ataques

Os ataques começaram após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes pedir a prisão temporária, por dez dias, do líder indígena José Acácio Serere Xavante, apoiador de Bolsonaro.

A prisão foi decretada a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) por indícios de crimes de ameaça, perseguição e manifestações antidemocráticas em vários pontos de Brasília, insufladas por Serere Xavante, que apoia Bolsonaro e não é cacique, conforme informações de lideranças indígenas da etnia.

Extremistas apoiadores de Bolsonaro têm acampado em frente a quartéis e fazendo apelos golpistas por intervenção militar para que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não assuma o governo.

Nota da SSP-DF

A Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) informa que desde o início dos atos públicos e manifestações, as forças de segurança do DF estão atuando de forma integrada a outros órgãos, locais e federais, para manutenção da ordem pública e garantia da mobilidade urbana no Distrito Federal.

As investigações sobre os atos de vandalismo, praticados durante a noite de segunda-feira (12/12) por grupos isolados, seguem em andamento pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Os participantes, uma vez identificados, serão responsabilizados. A Polícia Federal (PF), por sua vez, deverá apurar os crimes relacionados aos atos que atentem contra a instituição e crimes de natureza federal.

As imagens das câmeras da região central de Brasília, captadas na noite dos atos, serão avaliadas pelas forças de segurança durante as investigações.

Toda área central da capital segue monitorada pela segurança pública, com apoio de câmeras de videomonitoramento e do serviço de inteligência.

Trânsito
O trânsito de veículos segue liberado na Esplanada dos Ministérios, exceto o acesso à Praça dos Três Poderes a partir da Avenida José Sarney até a via L4. Os fechamentos ocorrem por razões preventivas de segurança.

A recomendação é que os motoristas utilizem as vias N3 e S3, obedecendo à sinalização e orientação das autoridades de trânsito para evitar congestionamentos nas vias N2 e S2.

Leia mais:

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