Copa em Salvador: o samba é duro em dias de jogos do Brasil
O ritmo é tradição em comunidades periféricas de Salvador nos festejos juninos, festas populares e em dias de jogos da seleção
Por Rafael Lucas / Caras Pretas
Alguns instrumentos percussivos como tamborins, timbales, surdos e muito gogó para puxar o coro que vem acompanhado por palmas. Tudo em um ritmo acelerado que exige fôlego. Assim se forma um samba duro junino em comunidades soteropolitanas.
Uma derivação do samba de caboclo tocado em terreiros para reverenciar os orixás e entidades de religiões de matriz africana, o samba duro junino é mais do que um ritmo musical, é uma verdadeira manifestação popular, preta e que remete a ancestralidade da cultura afro-brasileira.
Mas você deve está aí se perguntando: o que isso tem a ver com a seleção brasileira na Copa do Mundo? É que em dias de jogos do Brasil no Mundial já é tradição encontrar grupos de amigos e vizinhos fazendo aquela agonia com samba duro nos bairros da capital baiana, principalmente em localidades periféricas.
Diumbanda, que marcou época na Companhia do Pagode com a música ‘Na Boquinha da Garrafa’, tem o samba duro como uma de suas bases. “Eu comecei a minha história em festas populares. O samba duro é uma das grandes influências do samba da Bahia e nele me projetei para chegar ao ‘Gera Samba’ e ‘Terra Samba”, disse ao NINJA Esporte Clube.
A animação e o requebrado nas cadeiras são garantidos quando é dado o primeiro tapa no timbau. Se tem Copa e jogo do Brasil, o clima é regido por esta batucada vibrante em bairros como Engenho Velho de Brotas, Engenho Velho da Federação, Garcia, Nordeste de Amaralina e outros.
Originalmente, esse ritmo começou a ser difundido por volta da década de 70′ em homenagem aos santos juninos Santo Antônio, São João e São Pedro. Logo em seguida se disseminou pelas mais diversas festas populares da cidade. E a Copa do Mundo não ficou de fora desse samba apressado.
Mas por que samba ‘duro’?
O mais interessante é que não há uma só justificativa para escolha do nome. “Se chama ‘samba duro’ pois, naquela época, na década de 70, os homens não mexiam na dança. A gente sambava todo duro”, contou o músico Jorge Bafafé em entrevista para o programa Conexão da TV Rede Bahia, afiliada a TV Globo.
Há quem diga também que o samba foi batizado assim pela dificuldade de se tocar em certas regiões da cidade. “O samba é duro porque como Salvador tem um desenho geográfico de muita ladeira, muito sobe e desce. É aquela pancada que dá na canela, é aquele cansaço de subir tocando e gritando para o outro responder. E aí o samba fica duro.” disse o candomblecista e jurista Marcelo Barros em entrevista ao documentário “Awurê na Bahia – A rota do Samba de Roda”.
Em 2018, o samba duro junino se tornou patrimônio cultural de Salvador. Ao longo de mais de quatro décadas de existência, essa expressão musical serviu como base para criação de bandas como a ‘Timbalada’ e ‘Psirico’, assim como foi propulsora do surgimento de estilos musicais como o pagode baiano e projetou artistas nacionalmente conhecidos como Márcio Victor, Tatau, Ninha e outros.