Adidas, Fifa e uma trajetória marcada pela corrupção
A marca de produtos esportivos é uma das patrocinadoras globais da FIFA e tem contrato renovado até 2030
Por Marilda Campbell
Adidas é uma das maiores empresas de equipamentos esportivos do mundo. Sua história tem início em 1920 quando os irmãos Adolf e Rudolf Dassler começaram a produzir sapatilhas de corrida na Fábrica de Sapatos Irmãos Dassler, no interior da Alemanha. Foi na Olimpíada de Berlim, em 1936, que a companhia ganhou notoriedade ao patrocinar o velocista afro-americano Jesse Owens, o primeiro atleta a receber quatro medalhas de ouro em uma Olimpíada.
Mas, a relação entre os Dassler não era harmônica. Em 1948, eles dissolveram a sociedade por um motivo que nunca foi revelado. Adolf criou a Adidas e Rudolf a Puma, e a concorrência entre os irmãos se acirrou chegando ao mundo do futebol.
Na Copa do Mundo de 1970, no México, a Adidas tinha contrato de exclusividade com a FIFA e havia firmado o Pacto Pelé com a Puma com o objetivo de evitar uma disputa comercial envolvendo o Rei do Futebol. No Pacto Pelé, nem a Adidas nem a Puma poderiam patrocinar o atleta. O que era muito vantajoso para a Adidas, uma vez que ela já era a parceira oficial da FIFA.
No entanto, a Puma violou o Pacto Pelé ao firmar um contrato no valor total de 125 mil dólares para que o jogador usasse as chuteiras Puma na Copa do México e pelos quatro anos seguintes.
O lance de marketing que ficou marcado na história foi quando Pelé, pouco antes do início da partida das quartas de final entre Brasil e Peru, pediu tempo ao árbitro para amarrar a chuteira. Era a primeira Copa transmitida ao vivo e milhões de pessoas em todo mundo assistiram ao rei do futebol usando as chuteiras da marca Puma.
Não há consenso se Pelé sabia ou não do Pacto ao fechar contrato com a Puma. E há quem diga que, no jogo das quartas de final, ele usou chuteiras da Adidas pintadas com a marca da Puma.
Adidas e a Fifa de João Havelange
O ano era 1974. Na eleição da FIFA, concorriam Sir Stanley Rous, o presidente que tentava a reeleição, e João Havelange, o brasileiro que apresentava novas ideias, como ampliar o número de seleções na Copa do Mundo aumentando as vagas para os países africanos; a realização de campeonatos mundiais de categorias de base; e cursos de formação, novos campos e novas competições em países em desenvolvimento.
Em paralelo, o CEO da Adidas, Horst Dassler, atuava de forma invisível para eleger o candidato que mais se aproximasse dos interesses da marca e esse candidato era Havelange. No dia da votação, Dassler e seus representantes sondaram dirigentes, fizeram acordos e entregaram envelopes com milhares de dólares para garantir que os votantes elegessem o brasileiro.
O empresário cobrou a conta por esse apoio e, ao lado de Havelange, transformou a FIFA de uma instituição amadora em uma multimilionária representante do futebol mundial.
O principal acordo entre Havelange e Dessler foi o de comercialização exclusiva dos direitos de marketing e mídias dos principais eventos realizados pela FIFA. Para implementar seu plano, Dessler criou a International Sport & Leisure (ISL), uma empresa de marketing esportivo responsável por essa comercialização.
A ISL fazia a gerência econômica do futebol, cabendo a ela planejar as estratégias de marketing e negociar a transmissão dos jogos. Para garantir que a FIFA manteria a exclusividade da ISL, Dessler pagava um milhão de francos suíços à Havelange, conforme apurou o jornalista Andrew Jennings para o livro “Jogo Sujo – O Mundo Secreto da FIFA”.
Afastamento de Havelange e os casos de corrupção
O ambicioso Joseph ‘Sepp’ Blatter, então Secretário-Geral da FIFA, teve a oportunidade de alcançar a presidência da Federação quando chegou em suas mãos um documento que comprovava a transferência de suborno da ISL à João Havelange.
Assim, em 1998 após a Copa da França, o todo poderoso Havelange deixa a presidência da FIFA e nomeia Blatter como seu sucessor, tudo como parte de um acordo entre eles. Havelange permaneceu como Presidente de Honra até 2013, quando renunciou para fugir da justiça suíça pelo suborno recebido da ISL.
Outros casos de corrupção na FIFA também foram investigados. O FBI comandou uma megaoperação que apurou a transparência na escolha dos países sede das Copas da Rússia (2018) e do Catar (2022); a falência da ISL em 2001; além de casos de lavagem de dinheiro e de suborno.
Adidas e a Copa do Mundo 2022
A Adidas é uma das patrocinadoras globais do Mundial e o seu contrato com a FIFA foi renovado até 2030. A empresa é a fornecedora da Al Rihla, a bola oficial da Copa; é a marca que veste os árbitros e todos os funcionários envolvidos na organização do evento; além de patrocinar sete seleções participantes do torneio.
Em relação às seleções, a norte-americana Nike é a marca com mais patrocínios, sendo 13 no total, na sequência vem a Adidas, com sete, e a Puma, com seis.
Confira a lista das seleções e seus fornecedores:
- Nike – Arábia Saudita, Austrália, Brasil, Canadá, Catar, Coreia do Sul, Croácia, Estados Unidos, França, Holanda, Inglaterra, Polônia e Portugal;
- Adidas – Alemanha, Argentina, Bélgica, Espanha, Japão, México e País de Gales;
- Puma – Gana, Marrocos, Senegal, Sérvia, Suíça e Uruguai;
- Hummel – Dinamarca;
- Kappa – Tunísia;
- Majid – Irã;
- Marathon – Equador;
- New Balance – Costa Rica; e
- One All Sports – Camarões;
Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube