Copa 2022: Como recuperar a identidade da camisa amarela?
A camisa amarela da Seleção foi apropriada pelo bolsonarismo, assim como a bandeira do Brasil, mas não é a primeira vez que brasileiros precisam recuperar o símbolo nacional da camisa
Por Patrick Simão / Além da Arena
A Copa do Mundo 2022 é diferente para o Brasil, o clima para o torneio nem de longe é como o de Copas passadas. Quase não vemos ruas pintadas e a camisa amarela é desconfortável para muitos.
Menos de um mês separou a Copa do Mundo das eleições. A camisa amarela da Seleção foi apropriada pelo bolsonarismo, assim como a bandeira do Brasil. Além disso, importantes jogadores e ex-jogadores manifestaram apoio a Jair Bolsonaro, entre eles, o camisa 10 Neymar.
A camisa amarela representou o Brasil em uma Copa pela 1ª vez em 1954, substituindo a camisa branca, que foi associada à decepção pelo vice-campeonato em 1950. Desde então, a “amarelinha” se tornou símbolo e referência mundial do Brasil, construindo uma relação de pertencimento. Historicamente, a camisa amarela se tornou mais que uma camisa: ela foi um símbolo e identidade da cultura brasileira para o mundo.
Nos últimos anos a camisa foi associada ao bolsonarismo, o que gera algumas perguntas:
– Como esse processo começou?
– O que causou essa apropriação?
– Como ressignificar a camisa?
– A eleição de Lula pode contribuir nesse processo?
O processo de apropriação da camisa amarela começou em 2013, com protestos pelo impeachment da então presidenta Dilma Rousseff (PT). Com a ascensão do bolsonarismo, que culminou na eleição de Jair Bolsonaro em 2018, o uso da camisa amarela se tornou um símbolo de apoio ao presidente da direita. Mas essa não é a primeira vez em que a camisa amarela é apropriada politicamente…
Durante a Ditadura Militar, a Seleção Brasileira de 1970 foi usada como propaganda política do governo. Inclusive, o técnico João Saldanha, contrário ao Regime, foi demitido antes da Copa.
Além da busca pelo populismo, a ideia era construir um discurso de patriotismo para defender o Regime Militar. Essa estratégia é historicamente utilizada por governos de extrema-direita, como já ocorreu por exemplo com a Itália, Alemanha, Argentina e Chile.
O processo de ressignificação ocorreu principalmente na Copa de 1982, no período de redemocratização pós-Ditadura, durante a luta pelas Diretas Já. Meses antes da Copa de 2022, houve uma mobilização que buscava ressignificar a camisa amarela. O narrador Galvão Bueno, o atacante Richarlison e o rapper Djonga, publicamente de esquerda, incentivaram o uso da camisa amarela, afirmando que ela precisa ser de todos os brasileiros.
E você? Se sente confortável com a camisa amarela? Vai usar outra cor ou sequer torcerá pela Seleção Brasileira? Acredita que a vitória do Lula, ou um possível hexa, podem contribuir nesse processo? E, por fim: acha possível recuperar a identidade da camisa amarela?