Missas suspensas, padres e fiéis sofrendo ameaças e intimidações. Esse cenário acaba de ser denunciado pelo g1 na Paróquia Nossa Senhora do Desterro, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, por se recusar a fazer palanque para o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e seguir postura neutra em questões políticas, conforme recomendação da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

Na última quinta-feira (27), um ato em prol da campanha de Bolsonaro aconteceu em frente à igreja. O padre João Lucas, que comanda a paróquia ao lado do padre Ricardo Gomes e do diácono Vitor Henrique, respondeu à organização do evento que a igreja não se envolveria em nenhum ato seguindo a postura neutra em questões políticas, que é a recomendada pela Arquidiocese do Rio de Janeiro.

Os padres negaram o acesso da equipe do Bolsonaro ao espaço interno da igreja, que seria usado para acolher a comitiva do presidente. Foi então que as retaliações por parte de apoiadores do presidente, como ameaças a padres residentes na paróquia e a funcionários, começaram, informa a reportagem do g1.

Sem comunicar a prefeitura, organizadores do evento iniciaram os preparativos para o palanque na segunda-feira (24) e removeram o gradil que cerca a igreja e a Praça Dom João Esberad, além de cortar árvores do local.

A Prefeitura do Rio confirmou que trechos da grade foram retiradas, sem o conhecimento e a necessária autorização, o que pode configurar dano ao patrimônio municipal, na forma do artigo 163 do Código Penal. Disse ainda que vai comunicar o fato às autoridades policiais para que sejam apuradas as devidas responsabilidades.

Em seu perfil do Twitter, o prefeito Eduardo Paes falou sobre o assunto e disse que vai agir para identificar os envolvidos.

No domingo (23), uma carreata pró-Bolsonaro aconteceu pelas ruas de Campo Grande com uma arte com a imagem da fachada da Igreja Matriz ao fundo, o que poderia gerar uma falsa associação da paróquia com grupos políticos.

Missas suspensas

Ao todo, 12 missas que aconteceriam ao longo da semana foram suspensas “por medida de segurança”. O café da manhã servido à população de rua também deixou de ser oferecido, assim como às visitas para levar os sacramentos a doentes, uma vez que os padres estão isolados.

“Eles construíram o palco em frente à igreja e ficamos isolados. Estamos sem sair desde segunda-feira”, disse o funcionário à reportagem do g1.

‘Igreja não é palanque’

A paróquia divulgou, em suas redes sociais, uma carta endereçada a juízes do Tribunal Superior Eleitoral e “a todas pessoas de bom coração” afirmando que “igreja não é palanque”. Leia abaixo:

“Gostaríamos de indicar atos ilícitos de apoiadores do Sr. Jair Messias Bolsonaro, que, de maneira grotesca e ameaçadora, desde o dia 22 de outubro de 2022, têm tentando invadir o espaço da Igreja Matriz Nossa Senhora do Desterro, no intuito de montar uma base para um comício eleitoral que está agendado para o dia 27 de outubro de 2022, sendo realizado na Praça em frente à Igreja Matriz”, diz o início do documento.

“Instrumentalizam a fé, limitando a realização segura de atividades de nossa Comunidade Eclesial. Nossa religião nos ensina que a mistura de política com fé perverte o sentido autêntico da religiosidade da Igreja Católica Apostólica Romana. O que ocorre nas proximidades da Igreja Matriz evidencia o quanto essa relação é danosa para a instituição religiosa e para os fieis.”

Com informações do g1

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