Por Sérgio Madruga

A programação da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo está muito especial, quanto a isso não há dúvidas. Mas existe algo mais incrível que retornar aonde tudo começou? Este é o caso do filme “Durval Discos”, o primeiro longa-metragem da cineasta brasileira Anna Muylaert, lançado em 2002 e exibido na Mostra daquele ano. Em celebração aos 20 anos da obra, a Mostra em SP realiza uma sessão especial com projeção em 35mm, que acontece nesta sexta-feira (28), às 19h, na área externa da Cinemateca Brasileira.

A sessão contará com a presença de Anna Muylaert e do elenco, formado por nomes como Ary França, Marisa Orth, Letícia Sabatella, Isabela Guasco, Rita Lee, André Abujamra, Tânia Boldezan – além da saudosa Etty Fraser (1931-2018).

A comédia dramática conta a história de Durval, um homem de 40 e poucos anos, fã de música, que comanda uma loja de discos dentro da casa de sua controladora mãe Carmita. Uma mulher misteriosa vai trabalhar no local, mostrando-se bastante competente em seu ofício. Porém, ela vai embora de repente, deixando para trás uma menina de apenas cinco anos. No desenrolar da trama, Durval e sua mãe percebem-se no meio de um caso de polícia.

O longa também mostra a fase de transição dos LPs para os CDs, na época, os vinis pararam de ser produzidos dando lugar à outra mídia que hoje em dia já está obsoleta. Inclusive, a ironia é que os vinis voltaram com tudo, sendo lançados por diversos artistas contemporâneos e conquistando novas gerações.

Ambientado no bairro de Pinheiros, em São Paulo, o filme também mostra o processo de gentrificação do local, com a extinção de casas para a construção de inúmeros prédios.

Se tratando de um filme que se passa numa loja de discos, claro que a música seria algo importante. Com produção de Pena Schmidt, a trilha sonora conta com hits como “Que Maravilha”, de Jorge Ben, “London, London”, de Caetano Veloso, “Imunização Racional”, de Tim Maia, “Madalena”, de Elis Regina, “Back in Bahia”, de Gilberto Gil, e “Mestre Jonas”, de Sá e Guarabira – que no filme ganhou uma versão interpretada pela banda Os Mulheres Negras.

Vale dizer que Muylaert começou sua carreira nas telonas da melhor forma possível, “Durval Discos” foi lançado no Festival de Cinema de Gramado, conquistando sete Kikitos – incluindo de Melhor Filme. O longa venceu também o Prêmio da Crítica, o Prêmio do Júri Popular, além dos Kikitos de Melhor Direção, Melhor Roteiro, Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte.

No Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, foi indicado nas categorias de Melhor Roteiro Original e Trilha Sonora.

Posteriormente, a diretora realizou outros longas de sucesso, com destaque ao emocionante “Que Horas Ela Volta?”, de 2015, premiado em Sundance e Berlim. Além de “É Proibido Fumar” (2009), “Chamada a Cobrar” (2012), “Mãe Só Há Uma” (2016) e o documentário “Alvorada” (2021), codirigido com Lô Politi.

Em entrevista ao Jornal do Brasil, Anna Muylaert falou sobre a sensação de retornar à Mostra em SP com o filme após 20 anos: “Estou extremamente feliz com essa sessão comemorativa no maior festival de cinema da cidade, uma mostra que eu frequentava nos meus primeiros anos de escola de cinema e onde todos os cinéfilos da cidade se encontram não apenas para ver os filmes, mas também para tomar uma cerveja depois da sessão. A Mostra, assim como o filme, é um evento de resistência a um mundo que acontece na rua e não apenas na tela do celular”, revelou a cineasta.

Os ingressos para a sessão podem ser adquiridos clicando aqui. Aos que não moram em São Paulo, o filme está disponível no Globoplay (plano + canais).

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