Por Hellen Sacramento

A atriz Maria Eduarda de Carvalho, de “Cara e Coragem”, expôs o seu relato do assédio sexual sofrido aos 12 anos. Ela decidiu compartilhar esse episódio de sua infância após as declarações de Jair Bolsonaro sobre as meninas venezuelanas, e também, depois da rejeição dos Deputados em priorizar o projeto de lei sobre pedofilia no Plenário. 

No final do seu relato, ela faz uma alusão a fala do presidente sobre ter pintado um clima quando viu as meninas venezuelanas de 14 anos. “Meninas estão inteiramente reféns de homens como o presidente Jair Bolsonaro, que acredita que pode ter pintado um clima. Não pintou um clima, pintou um crime. Pelos nossos corpos, pelos corpos das nossas filhas, não dá para relativizar”, finalizou a atriz. 

O Projeto de Lei (PL) 1776.15 está em aberto desde 2015, para classificar a pedofilia como um crime hediondo. Ele consta na pauta do Plenário desde maio deste ano, mas ainda não foi discutido. A bancada do PT propôs, na quarta-feira (19), uma inversão para que o PL fosse votado o mais rápido possível. Os deputados apoiadores do presidente se negaram a isso com 224 votos, enquanto 135 deputados eram favoráveis à inversão. 

Na sexta-feira (21) Maria postou um vídeo em seu instagram contando o seu relato de quando foi assediada: “Me senti suja, parecia que tinha sido carimbada com o selo de impureza e não podia mais fazer parte do grupinho de meninas da minha idade”, ela continuou, “Mal sabia eu que o pior ainda estava por vir. Numa noite, numa festa na minha casa, eu já dormia porque era tarde. E acordei com ele apalpando meus seios. Seios de uma menina de 12 anos. Quando entendi o que estava acontecendo, virei de bruços para interromper aquele toque e ele subiu em cima de mim.”

A atriz disse que gritou por socorro de sua mãe quando entendeu o que estava acontecendo com ela, o oposto de milhares de meninas que não tem a quem pedir ajuda: “Incompreensivelmente excitado, começou a esfregar o corpo dele contra o meu, com força. Aí eu gritei. Aí eu berrei pela minha mãe, que veio ao meu socorro. Essa história me assombrou como um fantasma durante muitos anos da minha vida. E nunca imaginei que um dia fosse sentir necessidade de contá-la. Mas a verdade é que as marcas que carrego comigo até hoje seriam infinitamente maiores se não pudesse ter contado com o socorro da minha mãe. Milhares de meninas não podem.”

Algumas famosas, como Fátima Bernardes, Juliana Paiva, Drica Moraes, Dira Paes, Martha Medeiros, Jeniffer Nascimento comentaram na publicação da Maria prestando solidariedade e saudando a coragem da atriz diante da exposição de seu relato. 

No domingo (23) a atriz postou mais um vídeo contando que recebeu muitas mensagens de amor e também de ódio, as quais disse que já esperava. “Se você tem a sorte de não viver esses sentimentos na sua carne foi porque você teve a sua infância preservada. Mas se você tem filhos pense muito bem antes de você votar em um homem que contribui ativamente para que os números dos casos de pedofilia sigam crescendo impunimente, assustadoramente no nosso pais”, clamou Maria Eduarda de Carvalho.