Eleições 2022: o Norte mantém tradições, mas também faz mudanças
Por Rodolfo Silva Marques e Breno Rodrigo de Messias Leite O Norte é a quarta região do país em termos de tamanho do eleitorado, com 12.560.410 pessoas aptas a votar – 8,028% do total nacional. No pleito de 2022, houve cenários bem peculiares nas eleições para os governos dos estados e nas vagas para […]
Por Rodolfo Silva Marques e Breno Rodrigo de Messias Leite
O Norte é a quarta região do país em termos de tamanho do eleitorado, com 12.560.410 pessoas aptas a votar – 8,028% do total nacional. No pleito de 2022, houve cenários bem peculiares nas eleições para os governos dos estados e nas vagas para o Senado Federal após a realização do primeiro turno, em 02 de outubro.
No Acre, foi mantida a tendência das pesquisas de intenção de voto e Gladson Cameli, do Progressistas (PP), conseguiu a reeleição, em primeiro turno, com o total de 242.100 votos – ou 56,75% dos votos válidos. Em segundo, com 24,21% ( 103.256 votos), ficou o ex-governador Jorge Viana, do Partido dos Trabalhadores (PT). Para o Senado, o escolhido, confirmando o favoritismo, foi o representante do União Brasil, Alan Rick. Ele obteve 154.312 votos – 37,46% dos votos válidos –, seguido por Ney Amorim, do Podemos (PODE) e pelo Dr. Jenilson Leite, do Partido Socialista Brasileiro (PSB). O estado marcou uma grande vitória do presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados, mantendo um cenário similar ao de 2018. No Acre, Bolsonaro obteve 275.582 votos – 62,50% dos válidos, na primeira etapa do pleito. O Acre apresentou, em 2022, o total de 588.433 eleitores aptos a votar.
Já no Amapá, os resultados mostraram a consolidação da liderança local de Clécio Luís, do Solidariedade (SD), que já havia sido prefeito de Macapá por dois mandatos. Clécio venceu a eleição em primeiro turno, com 222.168 votos (53,69% dos votos válidos). O governador eleito em primeiro turno conseguiu ter muitos apoios políticos e foi referendado pela maioria dos eleitores. Jaime Nunes, do Partido Social Democrático (PSD), ficou em segundo lugar, com 42,58% dos votos válidos (176.208). No Senado, o ex-presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União), conseguiu se reeleger, em um pleito acirrado. Alcolumbre venceu com 196.087 votos (47,88% dos válidos), seguido de perto por Rayssa Furlan, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que obteve 174.128 votos (42,52% dos válidos). O Amapá apresentou, em 2022, o total de 550.687 eleitores aptos a votar.
No estado do Amazonas, maior unidade federativa do país e segundo maior colégio eleitoral da região, haverá segundo turno entre o governador e candidato à reeleição, Wilson Lima (União), e o senador e ex-governador Eduardo Braga (MDB). A liderança mais longeva do estado, Amazonino Mendes, acabou ficando pelo caminho, com cerca de 45 mil votos a menos que Braga. Wilson Lima obteve, no primeiro turno, 819.784 votos (42,82%) e Eduardo Braga, 401.817 (20,99%). O cenário continua, portanto, muito favorável ao atual governador. Para o Senado, Omar Aziz (PSD) manteve o favoritismo e conseguiu a reeleição, com 784.007 votos (41,42% dos válidos), seguido de perto pelo bolsonarista e ex-superintendente da Suframa, Coronel Alfredo Menezes. Aziz teve muito destaque, em 2021, como presidente da CPI da Covid-19. É importante lembrar que o Amazonas, principalmente em sua capital Manaus, foi o epicentro brasileiro da pandemia em janeiro de 2021. O Amazonas trouxe, neste ano, o total de 2.647.748 eleitores habilitados para o voto.
No Pará, principal colégio eleitoral do Norte, prevaleceu a popularidade do governador e candidato à reeleição Helder Barbalho, do MDB. Ele venceu, em primeiro turno, com 3.117.276 votos – 70,41% dos válidos, tornando-se, proporcionalmente, o governador eleito com maior votação no país. Zequinha Marinho, do Partido Liberal (PL), apoiado por Jair Bolsonaro, ficou em segundo lugar, bem atrás, com 1.201.079 votos – 27,13% dos válidos. Helder conseguiu apoio maciço dos eleitores na Região Metropolitana de Belém e nas mesorregiões do estado, além do suporte da maioria dos prefeitos e de uma ampla coligação – a maior, com 15 partidos. Barbalho consolida a hegemonia de um novo grupo político, após vários governos locais do Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB (1995-1998, 1999-2002, 2003-2006, 2011-2014 e 2015-2108). No Senado, prevaleceu a movimentação política do ex-deputado federal Beto Faro, do Partido dos Trabalhadores. Alçado ao topo a partir dos apoios do governador Helder e do ex-presidente Lula (PT), ele foi o vitorioso, com 42,55% dos votos válidos (total de 1.781.582 eleitores). Ele acabou vencendo o candidato de Bolsonaro, o ex-senador Mário Couto Filho, além de ter ficado à frente do ex-deputado estadual e ex-prefeito de Ananindeua, Manoel Pioneiro (PSDB), e do ex-senador Fernando Flexa Ribeiro (PP). O estado do Pará apresentou, em 2022, o total de 6.082.312 eleitores aptos a votar.
No estado de Rondônia, prevaleceu a força bolsonarista e haverá segundo turno entre dois candidatos ligados ao presidente da República: de um lado, o coronel reformado Marcos Rocha (União), que obteve a preferência inicial de 330.656 eleitores (38,88% dos votos válidos), enquanto que, do outro lado, o ex-senador Marcos Rogério (PL) conquistou 315.035 votos (37,05% dos válidos). A luta tende a ser acirrada na segunda volta – e ambos buscarão um apoio mais assertivo de Jair Bolsonaro. No Senado, houve mudanças de última hora, e uma “grande virada”, com a vitória de Jaime Bagatolli, do PL, com 293.488 votos (35,80% dos válidos). A disputa esteve entre os quatro candidatos alinhados à direita e à centro-direita. Rondônia tem 1.230.987 aptos a votar, mas o estado teve o maior índice de abstenção do país no primeiro turno, com 24,7% do total.
Em Roraima, também sob a grande influência da força bolsonarista, a vitória, em primeiro turno, foi para Antonio Denarium, do PP. O governador foi reeleito com 163.167 votos (56,47% dos válidos), seguido por Teresa Surita (MDB), que conquistou a preferência de 118.856 eleitores (41,14% dos válidos). Na disputa para o Senado, Dr. Hiran, alinhado a Jair Bolsonaro, venceu com 118.760 dos votos válidos (46,43%), derrotando uma importante e longeva liderança local do MDB, Romero Jucá, que conquistou 91.431 votos (35,75% dos válidos). Roraima teve o total de 366.240 eleitores aptos a votar no primeiro turno das eleições de 2022.
Em Tocantins, o governador e candidato à reeleição, Wanderlei Barbosa, do Republicanos, conseguiu êxito. Ele conquistou mais quatro anos, obtendo 481.496 votos (58,14% dos válidos), com grande vantagem em relação ao segundo colocado, o ex-prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas, do PL. Barbosa assumiu o governo em 2021 após o afastamento do então governador, Mauro Carlesse. Para o Senado, a professora Dorinha (União) conseguiu a vitória com 395.408 votos (50,42% dos válidos), desbancando com grande vantagem Kátia Abreu, do PP, que teve apenas 18,50% da preferência dos eleitores. O estado de Tocantins apresentou, em 2022, o total de 1.094.003 eleitores.
E qual recado os eleitores nortistas deram no primeiro turno das eleições 2022?
Um primeiro ponto a ser considerado é que a Região Norte não pode ser vista como homogênea, em especial pelas peculiaridades geográficas e pela correlação com as principais lideranças de cada estado.
Outro ponto que pode ser observado é que a disputa nacional se fez presente, mesmo sem tanto protagonismo em relação às disputas em cada uma das sete unidades federativas do Norte. Lula (PT) venceu a eleição presidencial em quatro estados (Pará, Amapá, Amazonas e Tocantins); Jair Bolsonaro (PL) venceu no Acre, em Rondônia e em Roraima. Eles retornam às urnas em 30 de outubro, para o segundo turno.
Nas disputas para o governo, haverá segundo turno em duas unidades (Amazonas e Rondônia). Já são quatro reeleições (Acre, Pará, Roraima e Tocantins) e uma vitória de uma nova liderança (Amapá). No caso do Pará, foi uma votação muito significativa para Helder Barbalho, reforçando sua liderança regional. No Amazonas, há o favoritismo do candidato à reeleição (Wilson Lima) e, em Rondônia, dois candidatos ligados ao bolsonarismo devem brigar voto a voto pela vitória.
Nas disputas para o Senado, venceram quatro aliados do presidente Bolsonaro (Acre, Rondônia, Roraima e Tocantins) e três com perfil de oposição (Amapá, Amazonas e Pará). Entre os oposicionistas, emergem o ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP), Omar Aziz (AM) e Beto Faro (PA) – este, em seu primeiro mandato como senador. Lideranças antigas, como Kátia Abreu (PP-TO), Mário Couto Filho (PL-PA), Flexa Ribeiro (PP-PA) e Romero Jucá (MDB-RR) fracassaram em suas tentativas de voltar ao Senado.
Sobre as abstenções, o Norte esteve próximo da já alta média nacional, com a marca negativa de Rondônia, que liderou esse índice.
Rodolfo Silva Marques é cientista político, professor-doutor da Universidade da Amazônia (UNAMA) e da Faculdade de Estudos Avançados do Pará (FEAPA). É colunista de política da CBN Amazônia Belém e do portal oliberal.com. E-mail: [email protected].
Breno Rodrigo de Messias Leite é cientista político, professor do Instituto Amazônico de Ensino Superior (IAMES) e do Diplô Manaus. E-mail: [email protected].
Esse artigo foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições 2022, uma iniciativa do Instituto da Democracia e Democratização da Comunicação. Sediado na UFMG, conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras. Para mais informações, ver: www.observatoriodaseleicoes.com.br.