LGBTQIA+ ocupam espaço na política e ainda há muito o que ser feito
Em um país como o Brasil, a democracia deveria andar de mãos dadas com a representatividade na política
Por Mariane Kairalla*
São tempos difíceis, não há como negar. Para a população LGBT é urgente a necessidade de encontrar semelhantes, ocupando cargos de poder na política brasileira. Não há democracia para quem não é representado, essa realidade vem sendo transformada em pequenos passos, eleição pós eleição; em 2020, câmaras municipais de diversas cidades tiveram suas cadeiras ocupadas por pessoas da comunidade.
Em uma entrevista ao programa Roda Viva, a vereadora mais bem votada no país, Erika Hilton do PSOL, disse:
“Ver e sentir na própria pele a crueldade do (CIS)tema, a crueldade da sociedade e todas as barbáries acerca do que é mito sobre meu corpo; me fizeram enxergar a urgência e a necessidade de estar neste espaço”.
Mulher trans e negra, Erika já trilha uma extensa trajetória na política e militância, hoje atua na cidade de São Paulo e faz história ao assumir um cargo de liderança na bancada municipal de seu partido.
Pessoas como Erika e tantas outras quando, chegam a cargos de poder ou quando ocupam espaços onde não costumam, mas, devem estar; geram desconforto e incomodam parlamentares e outros cidadãos consumidos pelo preconceito e ódio. Em 2020, na cidade de Limeira interior de São Paulo, foi eleita vereadora Isabelly Carvalho, do PT; mulher trans que recentemente completou 35 anos e se orgulha de chegar na idade que é a estimativa de vida para pessoas trans no Brasil, “Minha vingança é ficar viva!”
Isabelly, se filiou ao partido dos trabalhadores, por enxergar proximidades a suas bandeiras e sua militância, para ela representatividade e performance política são um conjunto e mesmo depois de mais de dez anos de carreira, ainda tem que enfrentar dentro da política, a violência de gênero e lidar com a transfobia. Muito será necessário para abalar uma mulher trans eleita em meio a uma pandemia, que mesmo sem verba e com uma campanha quase totalmente feita através de redes sociais caminhou para a vitória; “Somos inimigos de quem está hoje no poder”, estando em um espaço que não foi pensado para quem faz política social, ela se mantém otimista e afirma que não é, mas está vereadora, sabe muito bem qual é o seu lado e não descarta se candidatar novamente.
O que mais se espera é, que assim como em 2020, as próximas eleições sejam de muitas vitórias para a comunidade LGBTQIA+, mais nomes brilhem e que outras letras da sigla sejam cada vez mais eleitas na política brasileira, assim como em Artur Nogueira, também no interior de São Paulo, que elegeu para prefeito, um homem gay. Lucas Sia, do PSD tomou posse em 2021 da prefeitura da cidade.
A diversidade presente em altos cargos na política, é necessário para a sobrevivência e resistência da população LGBT, é dever dos partidos lançarem candidaturas que representem essas pessoas, gerar políticas públicas que as assegurem e apoiem.
Segurança e qualidade de vida, são urgentes; derrubar governos que ferem essa existência é tão essencial quanto respirar. Pensar hoje no coletivo se tornou indispensável, enquanto um não tiver seus direitos garantidos e sua vida preservada, ninguém ficará calado.
Mariane Kairalla tem 22 anos, é mulher cis e bissexual, estudante de jornalismo. Seu maior sonho no momento é viver em um Brasil sem Bolsonaro.