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Mulheres da cidade de Americana, no interior de São Paulo, relatam que são obrigadas a comprovar que estão menstruadas para receber uma nova dose da injeção anticoncepcional, que é aplicada a cada três meses. Para isso, o posto de uma das Unidades Básicas de Saúde (UBS) da cidade exige que elas baixem as calças e mostrem o absorvente em uso.

O caso tem ganhado repercussão e assustado profissionais da saúde, pessoas que menstruam, entre outros cidadãos, desde que foi denunciado pela ex-vereadora Maria Giovana Fortunato (PDT-SP), que é sanitarista por formação.

“Uma das reclamações é essa: a pessoa toma, a pessoa está indo lá para tomar a injeção novamente – o posto deveria ter anotado quando ela tomou a injeção -, e ela precisa esperar menstruar para mostrar que está menstruada”, contou a vereadora ao Yahoo Notícias. Ela recebeu os relatos e fez a denúncia em suas redes. “Eu fui a primeira vez e ela pediu para eu provar que se eu estava menstruada ou não”, contou a ela uma moradora da cidade.

Maria Giovana deu repercussão ao caso depois que ele foi descoberto por um grupo de mulheres que trabalhavam com distribuição de absorventes para mulheres em situação de vulnerabilidade. Elas se organizaram em encontros para debater violência doméstica e os relatos vieram. Aliado a um ciclo menstrual desregulado, o constrangimento acabava fazendo com que mulheres não tomassem o anticoncepcional.

Segundo uma delas, “depois que a gente já engravidou, porque não tomou a injeção, eles falam ‘de novo com filho? Engravidou de novo?’, mas a injeção que é bom, a gente não toma”.

Mas por que essa exigência tão constrangedora? Segundo Maria Giovana, a comprovação é para evitar que as mulheres usem a injeção anticoncepcional para fazerem um aborto. “Tem gente ali que ficou grávida mais de uma vez porque tem muita dificuldade de ter acesso à injeção anticoncepcional, por conta dessa situação”, disse ao Yahoo.

Na mesma reportagem, a Unidade de Atenção à Saúde negou que as denúncias fossem verdadeiras. “Esse tipo de conduta é inaceitável e impraticável, fato que jamais tenha sido constatado pelos funcionários, bem como pela coordenação da Unidade de Atenção Básica”, disse a Unidade de Atenção à Saúde. “A Secretaria de Saúde repudia quaisquer atos de constrangimento a usuários da rede pública, fato que, uma vez comprovado, pode gerar sérias consequências administrativas e legais a quem venha cometê-los.”

Mariana também procurada pelo Universa UOL, que trouxe alguns dos oito relatos que Maria Giovana recebeu para fazer a denúncia. Ao portal, a Secretaria de Saúde de Americana também negou que a unidade faz o procedimento com pessoas que menstruam. “De acordo com o setor, quando alguma mulher chega à unidade com atraso de alguns dias para tomar a injeção, é feito um pedido de teste para gravidez”. Eles dizem a conduta, “inaceitável e impraticável”, jamais foi constatada pelos funcionários.

No entanto, Maria afirma que desde que o caso ganhou repercussão nas mídias, ela recebeu denúncias de que outros postos de saúde de Americana têm feito as mesmas exigências. “A denúncia ganhou repercussão, mas a Secretaria de Saúde de Americana continua negando que a prática exista. Vamos continuar pressionando pela dignidade do atendimento até que as denúncias parem de acontecer”, escreveu em seu Instagram. “Um atendimento digno em Saúde é o mínimo que as mulheres precisam ter garantido”.