Oscar e Pretitude: a presença preta na premiação ao longo da história
Apenas 6 atores pretos foram premiados com o Oscar em 93 anos de premiação
Por Ane Salazar
A primeira cerimônia de entrega do prêmio Oscar aconteceu no dia 16 de maio de 1929. Em 2022 completaram-se 93 anos da maior premiação do cinema Hollywoodiano, que premiou apenas 6 atores pretos em toda sua existência e, até o ano de 2019, apenas 44 estatuetas foram entregues às pessoas pretas, dentre os mais de 3 mil prêmios distribuídos.
A primeira estátua dourada de Melhor Ator da história foi entregue a Emil Jannings, pelos filmes “A Última Ordem (1928)” e “Tortura da Carne (1927)”. Para a Melhor Atriz, Janet Gaynor levou a melhor pelos filmes “Sétimo Céu” (1927) “Aurora” (1927) e “Anjo das Ruas” (1928).
Onze anos depois de Janet, em 1940, Hattie McDaniel, se tornou a primeira mulher preta a levar o Oscar na categoria de melhor atriz coadjuvante, pelo filme “Gone with the Wind” (“E o Vento Levou”). Já não bastasse uma década de negação ao reconhecimento do trabalho das atrizes negras, Hattie sofreu sanções, foi excluída da estreia e não pôde sentar-se à mesma mesa que seus colegas atores brancos, por um único motivo: a cor da sua pele. 50 anos depois de Hattie, Whoopi Goldberg foi a segunda afro-americana a ser premiada como Melhor Atriz Coadjuvante, por “Ghost – Do Outro Lado da Vida”.
35 anos depois da criação do Oscar, Sidney Poitier foi o primeiro homem preto a ganhar o Oscar de 1964 como Melhor Ator, por seu papel em “Uma Voz nas Sombras”. Sidney morreu aos 94 anos, em 6 de janeiro de 2022, vítima da Doença de Alzheimer. Depois dele, só em 2002, Denzel Washington ganha como Melhor Ator, por Dia de Treinamento. Ainda que não seja destinado ao cargo de “coadjuvante”, as portas abriram-se 35 anos depois para receber o melhor ator na figura de um homem preto, em relação aos atores brancos norte-americanos.
73 anos depois da primeira edição do Oscar, completando 20 anos nesta semana, a atriz Halle Berry foi a primeira mulher preta a receber o Oscar de Melhor Atriz pela atuação em A Última Ceia, em 2001. A questão mais inquietante, dentre tantas das que podem ser levantadas com esse fato, é a de que seria inacreditável não haver atrizes pretas com a qualidade de atuação altíssima, dignas de serem premiadas em mais de 70 anos de existência da cerimônia. Ou, quando são premiadas, atrizes pretas são categorizadas como “coadjuvantes”.
Algumas categorias só foram premiar pessoas pretas no ano de 2019, como foi o caso de Hannah Beachler, que ganhou por Melhor Direção de Arte com “Pantera Negra”, e Melhor Animação para Peter Ramsey, por “Homem-Aranha No Aranhaverso”. Em 2020, não houve nenhuma pessoa preta premiada nas categorias de atuação, e no passado, Daniel Kaluuya foi consagrado como Melhor Coadjuvante em “Judas e o Messias Negro”.
Neste domingo (27), Ariana DeBose ganhou seu primeiro e merecido Oscar como Melhor Atriz Coadjuvante por “Amor, Sublime Amor”, se tornando a única mulher preta a ganhar um Oscar por atuação nesse ano. Em toda a história, apenas 5 homens pretos e 1 mulher preta foram consagrados pela melhor atuação. O último foi Will Smith, pelo filme “King Richard: Criando Campeãs” (2021).
Aqui cabe o esforço de reflexão: o Oscar é um reflexo dos padrões raciais do cinema ocidental, ou ele é o responsável por ditar tais valores? Independentemente de ser um espelho ou ser ditador de padrões, é através das pessoas e obras premiadas que o Oscar reforça a estética cinematográfica branco-magro-ocidental.
Minha geração cresceu sem ver pessoas pretas nas telas. Mulheres que um dia foram meninas e aprenderam que não lhe cabiam o cinema, o teatro, as novelas. Meninos que só se viam representados nas Tv’s como vilão ou bandido. Gerações inteiras de pessoas gordas que nunca viram outras pessoas gordas serem reconhecidas. Através do não-reconhecimento dos nossos corpos, somos oprimidos em nossas existências, vivendo em prol de buscar o selo de aprovação midiático delimitado por um padrão estético em que não somos contemplados.
A ideia ocidental de beleza branca-europeia, reforçada e conservada pelos Estados Unidos em seus ideais imperialistas, atravessa as artes em todos os seus desfechos. Entramos em uma era em que os cinemas latino e oriental correm, a todo vapor, para parear o cinema norte-americano e retratar as múltiplas vivências étnicas e culturais.
Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA.
Fontes: Correio 24 Horas e Adoro Cinema