“No Brasil hoje só tem projeto de gado”, Mano Brown em coletiva sobre 2ª temporada de ‘Mano a Mano’
Podcast foi o segundo mais ouvido do país em 2021
O podcast ‘Mano a Mano’ foi o segundo podcast mais ouvido do país na plataforma do Spotify Brasil e o episódio com o ex-presidente Lula o mais ouvido. Agora, o programa volta para uma segunda temporada e Mano Brown falou com a imprensa sobre esse retorno.
Questionando o quanto sua história na música faz parte do projeto, Brown não vacila em separar as duas coisas. “Eu penso hoje que são coisas diferentes. Procuro não ser o Mano Brown, do imaginário, do Racionais. Tento ser algo a mais. Mostrei um Mano Brown que é estudioso, interessado em muitos assuntos fora do óbvio”, diz.
O líder dos Racionais demonstra a lucidez que possui ao responder de forma concisa e humilde às questões apresentadas, sem vergonha de assumir que não sabe responder alguma questão. Brown assumiu o comando de um podcast, essa linguagem popular que fala diretamente aos jovens de hoje e mostra a mesma desenvoltura de quando sobe no palco para rimar sobre a juventude negra. “Venho aprendendo, saí de uma zona de conforto. Entendo que posso estar me expondo e mostrando fragilidades. Tem que ter uma certa frieza, preciso me resguardar ao que tenho que fazer, e não em focar em mim. Se você tem um grande entrevistado, mas não faz uma boa pergunta, o problema é você”, reflete o rapper.
Entre os convidados sondados, Brown diz que o Rei do Futebol Pelé está no radar, assim como Gilberto Gil e Emicida. Esse último confirmado como convidado para a segunda temporada de ‘Mano a Mano’. Desenvolto comandando o programa, é difícil imaginar que o compositor de 51 anos tenha grandes dificuldades na nova função, mas ele diz que é bem o contrário. “Muitas vezes eu tenho que me conter e não interromper a pessoa, mas também não posso esquecer a pergunta. Às vezes, a pessoa continua, entra em outro assunto interessante e eu não lembro o que iria perguntar”, conta.
Diante das dificuldades de prender a atenção do jovem em meio à profusão de informações das redes, Mano Brown aponta uma possível solução: “Falar de forma direta, simples. Uma abordagem que seja da vida do cara. Os jovens já ouviram abordagens mais romantizadas. Esses assuntos têm que ser abordados de forma mais direta. A juventude está conectada com milhares de coisas ao mesmo tempo. Você tem que ser prático e objetivo”, reflete.
Homem negro, influência de gerações, Brown reflete sobre como sua imagem foi modificada com o passar do tempo. “Uma coisa que me perturbava era uma situação em que as pessoas me colocavam num lugar muito marginal no imaginário, de um cara ignorante e intransigente. Nunca fui. Nem um, nem outro”, conta o rapper. “Não tenho que provar isso, mas comecei a conviver com essa ignorância da minha intelectualidade e inteligência quando comecei a querer saber das coisas. Eu era obrigado a conviver com a alcunha de um cara burro. Agora, muita gente se surpreendeu. As pessoas ficam surpresas ao me ver falando sobre tal assunto”, desabafa.
Mesmo entrando em listas de melhores letristas e compositores, tendo sido citado em provas de vestibulares, o artista se mantém com lucidez em relação às conquistas “Até aqueles que me acham pensador me enxergam num segmento só. Acredito muito no estudo. Se o Brasil tiver um projeto para a escola … .não tem. No Brasil hoje só tem projeto de gado. Se o Brasil não investe no jovem, não pode ter futuro também”.
A segunda temporada de ‘Mano a Mano’ estreia dia 24 de março de 2022 e contará com 16 episódios. Emicida e Seu Jorge estão entre os convidados confirmados inéditos, os quais serão lançados no Spotify às quintas-feiras a partir do dia 24 de março de 2022.