Sem convocar assembleia com os mais de 30 membros, a diretoria da Associação Clube Teatral Êxodo (ACTE) decidiu banir um projeto de reflorestamento do espaço que ocupa em Porto Velho (RO). A área de quatro hectares abriga o maior teatro a céu aberto do país, onde são realizadas encenações anuais da Paixão de Cristo. Por esse motivo, é reconhecida mundialmente como a Jerusalém da Amazônia.

Mas a diretoria considera que o projeto Terra Cura não está em sintonia com os seus planos, que segundo o diretor da companhia, Joel Bare, é o de explorar a área para visitação turística.

Além utilizar técnicas do sistema agroflorestal para recuperar a mata ciliar – bastante degradada – a Terra Cura também tem em andamento o primeiro projeto de bioconstrução de Rondônia. O espaço abriga ainda uma escola e uma igreja, mas, conforme decisão da associação, apenas o Terra Cura deveria deixar a área.

Se tiverem de fato que deixar a área, projeto de bioconstrução que vem sendo desenvolvido há três anos será perdido

A associada e uma das idealizadoras do Terra Cura, Lua Lopes, diz que todos foram pegos de surpresa. Ela conta que a decisão foi tomada verticalmente e que nem moradores do entorno que se beneficiam do projeto, nem os membros da associação e nem os fundadores foram chamados. Ela conta que sua mãe é uma dessas pessoas que somaram à idealização do teatro, há mais de 40 anos. “Cresci nesse espaço”, lamenta.

Lua e a mãe Almira, uma das fundadoras da associação que segue na gestão da área com maior teatro a ceú aberto do país

Foi pelo vínculo afetivo que ela deu início ao projeto de reflorestamento que está em atividade há mais de cinco anos e conta com mais de 30 voluntários. “No ano passado, fomos procurados para que oficializássemos a parceria, por meio de um Termo de Cooperação. Encaminhamos os documentos, mas a tratativa não avançou. Em contrapartida recebemos um documento pedindo nossa saída logo depois que a nova diretoria tomou posse”.

“É uma fala incoerente. Eles não são especialistas no assunto para decidirem se a área precisa ou não do projeto. Não tem um laudo que justifique, nada”, pontua Lua. Segundo ela, o espaço foi cedido pelo Incra e que o Terra Cura tentará sensibilizar a diretoria do órgão em Rondônia. A associação, inclusive, possui algumas pendências que maculam sua atuação, como um processo de 2018 que questiona prestação de contas de utilização de recursos público e outro, de cunho ambiental, por desmatamento da mata ciliar.

O outro lado

Procurado pela Mídia NINJA, o diretor do espaço, Joel Bare, disse que o Terra Cura não faz parte do projeto da associação de teatro e tampouco se enquadra nos planos da nova diretoria.

“A decisão foi unânime. Vamos usar isso aqui para o turismo. E nós não destruímos nada. Parece que estamos acabando com o mundo, destruindo. Pois aqui está tudo preservado e só temos quatro hectares de terra”.

Bare sugeriu que o Terra Cura procurasse outro espaço.

“Infelizmente o Terra Cura fala que tem vários projetos, então, ele que procure outros projetos, porque ele não está de anseio com os nossos para os quatro anos de administração. Nós temos projetos com o Sebrae, com a iniciativa privada e de resgatar a Jerusalém ao povo de Porto Velho, do estado de Rondônia e também do Brasil”

Mesmo reconhecendo o serviço prestado, ele descarta o Terra Cura.

“A gente agradece de coração pelo serviço prestado, mas eles não podem mais fazer parte desse projeto, porque aqui não tem mais o que plantar e aqui não temos que destruir nada, preservar o que está feito. O espaço é pequeno, vamos ter que saber ornamentar ele para todas as atividades: restaurante, mirante, teatro, a escola, a igreja. É muito pequeno e mais um projeto aqui não é viável. Aqui não dá mais para eles usarem o nosso pequeno espaço, aqui sim, a nossa diretoria preserva o que está feito, não vai derrubar nada, não vai fazer nada que destrua a natureza”.

No reflorestamento, voluntários utilizaram sistema agroflorestal

Mudas em preparação para o plantio

Em nota aberta ao público, recém-divulgada, a Terra Cura ressalta:

“A retirada do projeto do interior da cidade cenográfica foi solicitada com o peso de um ultimato documentado pela Diretoria do Êxodo que alega apenas não mais ter interesse no trabalho de reflorestamento, recuperação de área degradada, implantação de um sistema agroflorestal, paisagismo, jardinagem, viveiro e laboratório para o desenvolvimento de técnicas de bioconstrução (construção com menor impacto ambiental e em harmonia com a natureza), atividades estas que o Terra Cura vem desenvolvendo no local, primando sempre pelo cuidado com a terra e com o desenvolvimento do ser”.

 

Várias gerações estão unidas pela preservação florestal da área de 4 hectares