Bolsonaro, chanceler messias da paz planetária
Diante dos questionamentos sobre a ida de Bolsonaro à Rússia, o maquinário do bolsonarismo tenta justificar teologicamente o a viagem mesmo no contexto de um conflito bélico.
Diante dos questionamentos sobre a viagem para a Rússia, o maquinário do bolsonarismo tenta justificar teologicamente o translado mesmo no contexto de um conflito bélico. Para isso, se opera uma descrição densa do presidente como messias, abençoado por Jesus para apaziguar a iminente peleja. A justificativa está circulando justamente em pleno domingo, logo no dia do serviço religioso, “santo” na linguagem do cristianismo habitual, e há pouco dias da viagem à Rússia. É nesse momento que recebo via WhatsApp de grupos conservadores religiosos (evangélicos do Rio de Janeiro) uma arte icônica, simbólica. Nela está contida a justificativa da insistência na viagem no contexto do proeminente conflito.
Bolsonaro: a visita da hora errada
Antes, é importante de destacar a preocupação nacional da visita de Bolsonaro a Rússia diante do agravamento da crise contra a Ucrânia, que está ligada aos EUA, França, Alemanha. Assim, o pano de fundo da visita é da movimentação de tropas e os exercícios militares na fronteira com a Ucrânia e a acusação dos EUA de que a Rússia planeja invadir o país vizinho. O que o presidente da Rússia Putin nega. Temendo o início da guerra, os países ocidentais orientaram seus cidadãos a deixar a Ucrânia. Embora a Rússia seja um importante parceiro do Brasil, especialistas advertem que a viagem neste momento pode ampliar o desgaste do presidente brasileiro com outros parceiros, como EUA e União Europeia – críticos de Putin. Do ponto de vista comercial, essa visita pode até causar sanções de parceiros importantes na geopolítica mundial, como o próprio EUA.
Bolsonaro: messias-chanceler mundial
No meio dessa encrenca internacional, justamente quando países pedem a saída de seus cidadãos da Ucrânia, Bolsonaro agenda a viagem para Rússia. O que vem causando uma indignação no âmbito dos analistas políticos nacionais, que questionam o momento da visita. Assim, para dar força argumentativa à imprudência presidencial, começa a circular no meio religioso uma narrativa para a irresponsável visita de Bolsonaro diante da tensão de guerra. Mas do que isso, a cena midiática que circula se relaciona com traços típicos da comunicação do governo, isto é, a argumentação com bagagem teológica. A cena produzida no contexto dos questionamentos da relevância da visita está impregnada pelo cristianismo governamental, hegemônico. Assim:
Ela arquiteta Jesus (muito mal desenhado) segurando Bolsonaro pelos ombros. Bolsonaro de terno presidencial e a faixa presidencial (logo, com a ideia da oficialidade) está sendo colocado por Deus no meio da iminente guerra, da tensão mundial. A cena dá a entender que Jesus deu uma missão ao presidente. E, além disso, atrás tem a bandeira que indica que a nação vai junto com ele para a Rússia.
Qual seria a missão dada por Jesus? Ela está escrita na cena: o motivo de Jesus colocar Bolsonaro no meio da tensão mundial é para que “vá e impeça a guerra”. Ora, ele está indo sobre o designo de Deus para ser um intermediador, designado por Jesus. Logo, a ida para a Rússia não é uma missão apenas internacionalista. Mas, com ela ele cumprirá uma missão teológica. Ele vem para trazer a paz, impedindo a guerra. Para isso, foi enviado por Deus.
Esse argumento não é pouco para o universo religioso. Pois com esse “designo” Bolsonaro passa a ter características não apenas de um messias que veio salvar o país – como tanto afirmou ao longo do governo. Com ele, Bolsonaro passa a ter espaço como messias da intermediação mundial. Até pode desenvolver um tipo de messianismo que tem a de trazer paz nos conflitos mundiais.
Bolsonaro: messias da paz planetária
Nesse sentido, seu cristofascismo passa a ter outros contornos. Não está apenas no âmbito nacional, mas internacionalista. Afinal, foi designado por Jesus intermediar uma questão da geopolítica mundial, para salvar da guerra, logo, o mundo. Assim, a iconografia ultraconservadora conota que Bolsonaro não é apenas o messias do Brasil, mas um messias mundial, planetário. Ele que em nome de Deus e da nação impede um evento drástico global. As eleições de 2022 estão apenas começando e Bolsonaro já virou messias chanceler mundial.