Árvores queimadas entram em declínio e emitem mais CO2 que absorvem
As florestas devastadas pelo fogo armazenam 25% menos carbono e podem ser uma fonte de CO2 por pelo menos dez anos, aponta Ipam
Nicole Grell Macias Dalmiglio, para a Cobertura Coletiva NINJA na COP26
O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) divulgou na 26ª Conferência Mundial sobre o Clima, resultado de estudo que detalha o aumento substancial das emissões de carbono na Amazônia. Segundo a diretora de Ciência do instituto, Ane Alencar, o aumento nas emissões de CO2 da região amazônica foi causado mais intensamente pelas queimadas não naturais, ou seja, queimadas causadas por ações do homem. Desde 2005, os incêndios florestais tiveram uma contribuição líquida de 21% de CO2 em relação às emissões líquidas do desmatamento na última década.
Segundo ela, desde 1985, pelo menos 215.577 Km² de vegetação nativa (floresta, savanas e pastagens) na Amazônia brasileira queimaram pelo menos uma vez, e 58% desta área queimou diversas vezes. Uma parte da floresta afetada por incêndios florestais foi desmatada em 2020 (49%), deixando 108.470 Km² de floresta primária em pé intensamente degradada por incêndios na Amazônia brasileira.
Ainda de acordo com a pesquisa, de 192 milhões de toneladas de CO2 lançadas na atmosfera desde 1990, 65% derivaram da mortalidade e decomposição de árvores após o fogo. As florestas devastadas por ele armazenam 25% menos carbono e podem ser uma fonte de CO2 por pelo menos 10 anos. É como se ficassem enfraquecidas. Então, têm a capacidade de fotossíntese reduzida, absorvendo assim, menos carbono.
Fiscalização e consolidação de áreas protegidas
Dessa forma, o IPAM constata que a estratégia para reduzir as emissões de carbono na Amazônia, as quais ultrapassaram o potencial de absorção pela floresta em 2020, depende em 50% da fiscalização estratégica, que pode reduzir pelo menos metade da degradação (metade do desmatamento ocorre em terras públicas e é ilegal), em conjunto com a designação da floresta pública para conservação sustentável. Os outros 50% dependeriam da consolidação de áreas protegidas e apoio as economias baseadas na floresta, incentivos econômicos a conservação de florestas privada, e por fim, apoio e assistência técnica para produção sustentável em assentamentos.
Ao ser perguntada a respeito de quais as melhores estratégias para inibir o desmatamento ilegal na Amazônia brasileira ressaltou a necessidade de maior comprometimento do governo brasileiro em ações para combater esse tipo de crime ambiental e ressaltou: “Eu gostaria de ver o presidente aqui dizendo isso com todo o seu coração, que ele iria lutar contra o desmatamento ilegal…. isso seria um símbolo muito importante para a sociedade”.
O cientista que estuda a física das mudanças climáticas globais, Paulo Artaxo, também integrou a mesa. Ele complementou fala de Ane e disse aos presentes que é muito importante a proteção de terras indígenas e conclusão de processos de demarcação. “Precisamos fazer demarcações de Terras Indígenas, porque as terras que estão mais protegidas na Amazônia estão em Terras Indígenas, e isso é muito importante porque eles sabem como preservar a floresta nas últimas centenas de anos”.
A pesquisa do Ipam aponta ainda, que a degradação da Amazônia brasileira está relacionada a quatro fatores de alto impacto ambiental, os quais ocorrem em sinergia. São eles: extração de madeira de alto impacto, efeito de borda do desmatamento, secas severas frequentes, e incêndios florestais recorrentes. Neste ano, o fenômeno La Niña na região, agravou a situação de devastação do bioma, porque dificulta operações de contenção do fogo na floresta.
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