Após um ano conturbado, em que precisou vencer o Covid-19, o judoca segue fazendo história após disputar sua sétima paralimpíada

Foto de perfil de Antonio, um homem negro e careca. Ele está com sua medalha no pescoço e a carrega na altura do rosto com a ponta dos dedos, sorrindo. A fita da medalha indica que a ocasião foi nas Paralimpíadas Rio 2016.

Foto: Bruna Prado/Getty Images

Por Mariana Walsh

Lembro como se fosse ontem do dia em que presenciei uma luta de Antônio Tenório. Foi nas Paralimpíadas do Rio, em que ele teoricamente faria a sua despedida. Eu comprei o ingresso só para vê-lo, afinal, ele é tetracampeão paralímpico, é uma verdadeira lenda viva do esporte e eu não podia perder a oportunidade de ver ele em ação. Torci muito a cada luta, observei com admiração o seu jeito tão sensível de lutar. Ele saiu de lá com a prata, e eu, com chance de me gabar por já ter visto o melhor judoca brasileiro.

Tenório perdeu a visão do olho direito ainda criança, e aos 19 anos ficou totalmente cego. O judô já era parte da sua vida, porque ainda pequeno foi incentivado a lutar pelo pai, que não queria que o filho ficasse pela rua. Sua paixão pelo esporte sempre falou mais alto, mas apesar de já conhecer os golpes e saber lutar muito bem, precisou fazer alguns ajustes no seu jogo. Assim, cultivou seus sentidos e passou a lutar principalmente com a mente, e não mais com a força.

Já foram seis Jogos Paralímpicos consecutivos para a conta, e em todos o brasileiro conquistou uma medalha. Na sua estreia, em Atlanta em 1996, ganhou o ouro. E repetiu esse feito nas 3 edições seguintes, ficando invicto por incríveis dezesseis anos na competição. Em Londres 2012, ficou com a medalha de bronze e no Rio 2016 com a prata que eu tive o prazer de presenciar. Depois disso tudo, Tenório ainda quer mais, porque o seu amor pelo esporte parece ser seu combustível de vida.

Em Tóquio, aos 50 anos, o judoca foi em busca da sua sétima medalha paralímpica. A competição não foi fácil em nenhum momento. Alguns meses antes do início dos Jogos ele enfrentou uma batalha árdua contra o Covid-19. Foram 18 dias internado no hospital com 80% do pulmão comprometido. Mas, ele se recuperou. Se vacinou e embarcou rumo a mais uma edição dos Jogos Paralímpicos com a mesma vontade de vencer seus adversários.

Na disputa no histórico ginásio de Budokan, Tenório acabou ficando sem medalha, mas continua sendo o maior judoca brasileiro, porque ninguém (ainda) conquistou o que ele conquistou. Ouvi dizer, que ele planeja ir a Paris e encerrar a carreira depois da sua oitava participação paralímpica. Se é verdade ou não, ainda não achei a resposta, mas fato é que Tenório se mostra incansável quando se fala em judô. E ele é mesmo, eu pude presenciar isso com os meus próprios olhos. Tenório é gigante e terá o seu nome escrito na história do esporte, e na minha memória, para sempre.

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