A 100ª medalha de ouro do Brasil em Paralimpíadas
O caminho percorrido pelo Brasil até chegar à centésima dourada
Por Renata Teles
Na noite da última segunda-feira (30/8), manhã de terça em Tóquio, no Japão, o corredor paralímpico sul-mato-grossense, Yeltsin Francisco Ortega Jacques, conquistou a 100ª medalha de ouro do Brasil em Paralimpíadas, ao vencer os 1500m T11, classe para atletas cegos, com direito a recorde mundial.
Yeltsin nasceu, no começo da década de 1990, com baixa visão. O atual paratleta conheceu o atletismo ajudando um amigo cego a correr na escola e, como resultado, começou a treinar junto com ele para competir, iniciando sua carreira nas Paralimpíadas Escolares, em 2007. Yeltsin já conquistou o ouro nos 1.500m nos Jogos Parapan-Americanos de Lima 2019; ouro nos 1.500m e nos 5.000m dos Jogos Parapan-Americanos de Toronto 2015; prata nos 1.500m e bronze nos 800m no Mundial de 2013 na França.
É possível, nos dias atuais, constatar que a invisibilidade, discriminação e negação de direitos das pessoas com deficiência são fatos ainda identificados em inúmeras circunstâncias da vida em sociedade. Muitas pessoas elogiam tudo o que vem de um corpo sem deficiência, mas colocam as pessoas com deficiência em uma caixa de superação, de adoração do herói, de assistencialismo ou superproteção, de segregação, estereotipação, medo, negação, percepção de incapacidade e etc.
Você já parou para refletir o quanto o pódio representado pelo paratleta Yeltsin Jacques é significativo em uma sociedade caracterizada pelo visocentrismo, isto é, o predomínio do privilégio da visão em relação aos outros sentidos?
Ao longo dos anos, as Paralimpíadas têm mobilizado cada vez mais atletas e modalidades esportivas, resultando em uma maior comercialização e atraindo mais atenção dos meios de comunicação. Logo, os Jogos Paralímpicos têm sido primordiais para a mudança de atitudes e comportamentos da sociedade em relação às pessoas com deficiência. Cabe aos meios de comunicação pesquisar para realizar uma ampla cobertura anticapacitista.
O Movimento das Pessoas com Deficiência não necessita que eu exponha suas narrativas, seria capacitismo da minha parte; embora a palavra “capacitismo” ainda seja pouco conhecida para as pessoas e isso se deve, principalmente, pelo fato de que pouco se sabe sobre essa comunidade. As pessoas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial lutam pelos seus direitos e são protagonistas de suas vidas, uma vez que elas estudam, trabalham, viajam, namoram, têm relações sexuais, constituem família, conquistam medalhas paralímpicas e etc. O que me cabe – enquanto mulher sem deficiência, filha de um homem cego e pesquisadora na área da acessibilidade cultural e educacional – é estar aberta para aprender todos os dias com o Movimento da PCD, bem como encorajar e divulgar projetos e iniciativas acessíveis e inclusivas.
Retrospectiva das 100 medalhas de ouro conquistadas pelo Brasil nas Paralimpíadas
A delegação brasileira passou a participar dos Jogos Paralímpicos na quarta edição das Paralimpíadas, em 1972. Desde 1984, o país vem mostrando um desempenho expressivo entre modalidades disputadas e subindo no quadro de medalhas, colocando-se entre as dez principais potências paralímpicas do mundo nas últimas três edições do megaevento.
De acordo com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), até a última edição, Rio 2016, o número de medalhas conquistadas pelos/as atletas brasileiros/as impressiona: são ao todo 301 medalhas, sendo 87 de ouro, 112 de prata e 102 de bronze, o que demonstra o alto nível dos atletas paralímpicos do Brasil.
Os Jogos Paralímpicos de Tóquio começaram e, com a maior delegação do país no exterior (260 atletas, sendo 164 homens e 96 mulheres), o Brasil conquista sua centésima medalha de ouro em Paralimpíadas, ao vencer os 1500m T11, classe para atletas cegos, com direito a recorde mundial: Yeltsin Jacques completou a prova em 3min57s60. A delegação brasileira ganhou 13 medalhas de ouro e, por ainda estar na metade da programação dos Jogos, tudo índica que a quantidade de medalhas douradas pode aumentar.
É possível constatar, a partir dos dados no gráfico 2, que o Brasil se destaca no Atletismo, contabilizando 48 medalhas de ouro. A Natação é, depois do Atletismo, a modalidade onde o país mais se destacou, somando 35 medalhas de ouro. Em terceiro lugar está a Bocha seis medalhas douradas. Judô rendeu cinco medalhas de ouro para o Brasil. Desde a estreia do Futebol de Cinco no programa dos Jogos Paralímpicos na edição de Atenas-2004, apenas o Brasil levou o ouro, totalizando quatro medalhas. Esgrima em cadeira de rodas conquistou uma medalha e, estreitando o pódio em Tóquio 2020. Halterofilismo obteve também uma medalha de ouro.
Confira os atletas que conquistaram as medalhas douradas no Brasil
2020 – TÓQUIO
A 16ª edição dos Jogos Paralímpicos está acontecendo em Tóquio, Japão. O evento começou dia 24 de agosto de 2021 e terminará no dia 5 de setembro de 2021.
100ª. Atletismo: Yeltsin Jacques (1500m rasos, classe T11 – recorde mundial: 3:57.60)
99ª. Atletismo: Elizabeth Rodrigues Gomes (Lançamento de disco, classe F52 – recorde mundial: 17,62m)
98ª. Atletismo: Claudiney dos Santos (Lançamento de disco, classe F56 – recorde paralímpico: 45,59m)
97ª. Natação: Gabriel Geraldo Araújo (200m livre, classe S2)
96ª. Natação: Maria Carolina Santiago (50m livre, classe S12 – recorde paralímpico: 26s82)
95ª. Judô: Alana Maldonado (Categoria: até 70kg, classe B3)
94ª. Halterofilismo: Mariana D’Andrea (Categoria: até 73kg)
93ª. Atletismo: Wallace Antonio (Arremesso de peso, classe F55 – recorde mundial: 12.63m)
92ª. Atletismo: Petrúcio Ferreira (100m rasos, classe T47 – recorde paralímpico: 10s53)
91ª. Natação: Wendell Belarmino (50m livre, classe S11)
90ª. Atletismo: Silvânia Costa (Salto em distância, classe T11)
89ª. Atletismo: Yeltsin Jacques (5.000 metros, classe T11 – recorde das Américas: 15min13s12)
88ª. Natação: Gabriel Bandeira (100m borboleta, classe S14 – recorde paralímpico: 54s.76)
2016 – RIO DE JANEIRO
A 15ª edição dos Jogos foram, as primeiras Paralimpíadas realizadas na América Latina, aconteceu entre os dias 7 e 18 de setembro de 2016, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.
87ª. Natação: Daniel Dias (50m costas, classe S5)
86ª. Natação: Daniel Dias (200m livre, classe S5)
85ª. Natação: Daniel Dias (100m livre, classe S5)
84ª. Natação: Daniel Dias (50m livre, classe S5)
83ª. Futebol de 5 (time): Cassio Lopes dos Reis, Damião Robson, Luan de Lacerda, Luis Felipe Campos, Jeferson da Conceição, Maurício Dumbo, Raimundo Nonato, Ricardo Steinmetz, Vinicius Tranchezzi e Tiago da Silva.
82ª. Bocha: Antonio Leme, Evani Calado, Evelyn Vieira (duplas mistas, classe BC3)
81ª. Atletismo: Silvania Costa (Salto em distância, T11)
80ª. Atletismo: Shirlene Coelho (Lançamento de Dardo, classe F37)
79ª. Atletismo: Ricardo Costa (Salto em distância, classe T11)
78ª. Atletismo: Petrúcio Ferreira (100m, classe T47)
77ª. Atletismo: Daniel Silva, Diogo Ualisson, Felipe Gomes e Gustavo Araújo (Revezamento 4x100m masculino, classes T11, T12, T11 e T13, respectivamente)
76ª. Atletismo: Daniel Martin (400m, classe T20)
75ª. Atletismo: Claudiney Santos (Lançamento de Disco, classe F56)
74ª. Atletismo: Alessandro Silva (Lançamento de Disco, classe F11)
2012 – LONDRES
A 14ª edição dos Jogos Paralímpicos foi realizada no período de 29 de agosto a 09 de setembro de 2012, na cidade de Londres, Inglaterra.
73ª. Natação: Daniel Dias (200m livre, classe S5)
72ª. Natação: Daniel Dias (100m livre, classe S5)
71ª. Natação: Daniel Dias (50m livre, classe S5)
70ª. Natação: Daniel Dias (50m borboleta, classe S5)
69ª. Natação: Daniel Dias (50m costas, classe S5)
68ª. Natação: Daniel Dias (100m peito, classe S5)
67ª. Natação: André Brasil (100m livre, classe S10)
66ª. Natação: André Brasil (50m livre, classe S10)
65ª. Natação: André Brasil (100m borboleta, classe S10)
64ª. Futebol de 5 (time): Cássio Lopes dos Reis, Daniel Dantas da Silva, Emerson de Carvalho, Fabio Ribeiro Vasconcelos, Gledson da Paixão Barros, Jeferson da Conceição Goncalves, Marcos José Alves Felipe, Raimundo Nonato Alves Mendes, Ricardo Steinmetz Alves e Severino Gabriel da Silva.
63ª. Esgrima em cadeiras de rodas: Jovane Silva Guissone (categoria B)
62ª. Bocha: Maciel Sousa Santos (individual, classe BC2)
61ª. Bocha: Dirceu Jose Pinto e Eliseu dos Santos (duplas, classe BC4)
60ª. Bocha: Dirceu Jose Pinto (individual, classe BC4)
59ª. Atletismo: Yohansson Nascimento (200m rasos, classe T46)
58ª. Atletismo: Tito Sena (Maratona, classe T46)
57ª. Atletismo: Terezinha Guilhermina (200m rasos, classe T11)
56ª. Atletismo: Terezinha Guilhermina (100m rasos, classe T11)
55ª. Atletismo: Shirlene Coelho (arremesso de dardo, classe F37/38)
54ª. Atletismo: Felipe Gomes (200m rasos, classe T11)
53ª. Atletismo: Alan Fonteles Cardoso Oliveira (200m, classe T44)
2008 – PEQUIM
A 13ª edição dos Jogos Paralímpicos foi realizada no período de 06 a 17 de setembro de 2008, na cidade de Pequim, China.
52ª. Natação: Daniel Dias (200m medley, classe S5)
51ª. Natação: Daniel Dias (50m costas, classe S5)
50ª. Natação: Daniel Dias (200m livre, classe S5)
49ª. Natação: Daniel Dias (100m livre, classe S5)
48ª. Natação: André Brasil (100m borboleta, classe S10)
47ª. Natação: André Brasil (400m livre, classe S10)
46ª. Natação: André Brasil (100m livre, classe S10)
45ª. Natação: André Brasil (50m livre, classe S10)
44ª. Judô: Antônio Tenório da Silva (até 100kg)
43ª. Futebol de 5 (time): Andreonni Farias Rego, Damião Ramos, Fabio Ribeiro Vasconcelos, Jefferson Goncalves, João Batista Silva, Marcos Felipe, Mizael Oliveira, Ricardo Alves, Sandro Soares e Severino Silva.
42ª. Bocha: Dirceu Pinto e Eliseu Santos (duplas, classe BC4)
41ª. Bocha: Dirceu Pinto (individual, classe BC4)
40ª. Atletismo: Terezinha Guilhermina (200m rasos, classe T11)
39ª. Atletismo: Lucas Prado (400m rasos, classe T11)
38ª. Atletismo: Lucas Prado (200m rasos, classe T11)
37ª. Atletismo: Lucas Prado (100m rasos, classe T11)
2004 – ATENAS
A 12ª edição dos Jogos Paralímpicos foi realizada no período de 23 de setembro a 04 de outubro de 2004, na cidade de Atenas, Grécia.
36ª. Natação: Fabiana Sugimori (50m livre)
35ª. Natação: Clodoaldo Silva (150m medley, classe S4),
34ª. Natação: Clodoaldo Silva (50m borboleta, classe S4)
33ª. Natação: Clodoaldo Silva (200m livre, classe S4)
32ª. Natação: Clodoaldo Silva (100m livre, classe S4)
31ª. Natação: Clodoaldo Silva (50m livre, classe S4)
30ª. Natação: Adriano Lima, Clodoaldo Silva, Francisco Avelino e Luis Silva (revezamento 4 x 50m medley)
29ª. Judô: Antônio Tenório da Silva (até 100kg)
28ª. Futebol de 5 (time): Anderson Dias, Andreonni Fabrizius, Damião Robson, Fábio Vasconcelos, João Batista, Marcos Felipe, Mizael Conrado, Nilson Pereira, Sandro Soares e Severino Gabriel.
27ª. Atletismo: Suely Guimarães (lançamento de disco, classe F56)
26ª. Atletismo: Antônio Delfino (400m, classe T46)
25ª. Atletismo: Antônio Delfino (200m, classe T46)
24ª. Atletismo: André Garcia (200m, classe T13)
23ª. Atletismo: Ádria Rocha Santos (100m T11)
2000 – SYDNEY
A 11ª edição dos Jogos Paralímpicos foi realizada no período de 22 a 31 de outubro de 2000, na cidade de Sydney, Austrália.
22ª. Natação: Fabiana Sugimori (50m livre, classe S11)
21ª. Judô: Antônio Tenório da Silva (até 90kg)
20ª. Atletismo: Roseane F.dos Santos – Rosinha (lançamento de disco, classe F58)
19ª. Atletismo: Roseane Ferreira dos Santos – Rosinha (arremesso de peso, classe F58)
18ª. Atletismo: Ádria Rocha (200m rasos, classe T11)
17ª. Atletismo: Ádria Rocha Santos (100m rasos, classe T12)
1996 – ATLANTA
A 10ª edição dos Jogos Paralímpicos foi realizada no período de 20 a 29 de agosto de 1996, na cidade de Atlanta, EUA.
16ª. Natação: José Afonso Medeiros “Caco” (50m borboleta, classe S7)
15ª. Judô: Antônio Tenório da Silva (até 86kg)
1992 – BARCELONA
A 9ª edição dos Jogos Paralímpicos foi realizada no período de 04 a 15 de setembro de 1992, na cidade de Barcelona, Espanha.
14ª. Atletismo: Suely Guimarães (lançamento de disco, classe THW7)
13ª. Atletismo: Luiz Cláudio Pereira (arremesso de peso, classe THW4)
12ª. Atletismo: Ádria Rocha Santos (100m rasos, classe B2)
1988 – SEUL
A 8ª edição dos Jogos Paralímpicos foi realizada no período de 16 a 25 de outubro de 1988, na cidade de Seul, Coréia do Sul.
11ª. Atletismo: Graciana Moreira Alves (100m livre, classe 6)
10ª. Atletismo: Luiz Cláudio Pereira (lançamento de disco, classe 1C)
9ª. Atletismo: Luiz Cláudio Pereira (lançamento de dardo, classe 1C)
8ª. Atletismo: Luiz Cláudio Pereira (arremesso de peso, classe 1C)
1984 – NOVA YORK E STOKE MANDEVILLE
A 7ª edição dos Jogos Paralímpicos e a 4ª participação do Brasil.
Paralimpíadas realizadas em dois países de continentes diferentes: EUA e Reino Unido. Parte das competições foram na cidade de Nova York, EUA, no período de 16 de junho a 30 de julho de 1984 e, entre 22 de julho a 01 de agosto de 1984, na cidade de Stoke Mandeville, Reino Unido.
7ª. Natação: Maria Jussara Mattos (4x50m medley, classe 6)
6ª. Atletismo: Miracema Ferraz (arremesso de peso 1A)
5ª. Atletismo: Luiz Cláudio Pereira (arremesso de peso, classe 1C)
4ª. Atletismo: Luiz Cláudio Pereira (lançamento de dardo, classe 1C)
3ª. Atletismo: Amintas Piedade (arremesso de peso, classe 1C)
2ª. Atletismo: Amintas Piedade (lançamento de dardo, classe 1C)
1ª. Atletismo: Márcia Malsar (200m rasos, classe C6)
Nota: alguns dados encontrados acerca das 100 medalhas de ouro conquistadas pelo Brasil nos Jogos Paralímpicos estão por ordem alfabética, outros por quantidade de medalhas. Portanto, com exceção das Paralimpíadas Tóquio 2020 e da Márcia Malsar (primeira brasileira medalhista de ouro nos Jogos Paralímpicos de 1984), esta matéria organizou as medalhas de ouro por ordem alfabética, de acordo com cada edição do megaevento.
Fontes: CPB e Rede do Esporte
Dicas de leitura:
- Estatuto da Pessoa com Deficiência.
- Inclusão social, educação inclusiva e educação especial: enlaces e desenlaces, por Eder Camargo, em Ciência e Educação (Bauru) vol.23.
- Caminhando em Silêncio: uma introdução à trajetória das pessoas com deficiência na história do Brasil, por Emilio Figueira.
- Capacitismo: o mito da capacidade, por Victor Di Marco.
- A experiência perceptiva é o solo do conhecimento de pessoas com e sem deficiências sensoriais, por Elcie. F. Masini. S, em Psicologia em Estudo.
- A Banca da Ciência e a pessoa com deficiência visual: um estudo sobre a acessibilidade atitudinal na difusão científica, por Renata Teles da Silva. Dissertação de Mestrado em Filosofia
Texto e pesquisa de Renata Teles enviado à cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube