Deu tilt no sistema. Brasília entrou definitivamente em parafuso: só cresce a ruína institucional e não há no horizonte nenhuma saída imediata para a profunda crise em curso no país. É impossível não reconhecer que o conflito aberto entre os poderes expôs em praça pública as vísceras apodrecidas da república, a associação criminosa entre as elites que concentram historicamente o poder econômico, político e midiático no Brasil. Elites corruptas, inescrupulosas e hipócritas, que agarradas a seus privilégios e preconceitos de classe, optaram por romper deliberadamente o pacto democrático alcançado com a Constituição de 1988 e se veem agora diante da incapacidade de estancar a sangria que elas próprias causaram com seu ódio.

A maior crise institucional vivida desde a redemocratização lançou o Brasil na vanguarda mundial da crise de representatividade que abala regimes no mundo inteiro.

A polifonia das novas vozes que emergiram da sociedade em rede rompeu a aparente paz social e pôs fim ao pacto de silêncio e obediência que vigorava para o andar de baixo, nos colocando diante da oportunidade histórica de empreender uma verdadeira transição democrática, reconstituindo nosso esgarçado tecido social, curando feridas seculares abertas no corpo de nossa sociedade e inventando pra nós um futuro comum muito mais humano e solidário.

Temos diante de nós uma oportunidade histórica de radicalizar na redistribuição do poder político devolvendo poder ao cidadão comum, sobre seu território, sobre seu próprio corpo, sobre sua vida.

Não resta no conjunto da sociedade brasileira nenhuma ilusão de que a solução para a crise possa cair do céu ou vir das velhas estruturas e instituições, dos poderes corrompidos do Estado, do mercado ou da mídia como num passe de mágica.

Para uma crise que já se revelou complexa, estrutural e sistêmica, a saída só pode ser complexa, estrutural e sistêmica: zerar o game e resetar o próprio sistema político radicalizando a democracia e redistribuindo horizontalmente o poder. É por baixo e por fora das velhas estruturas que uma nova arquitetura de participação pode reconquistar para o cidadão comum sua própria existência política.

Um novo Brasil só pode nascer de baixo pra cima, do próprio povo organizado, da inovação cidadã favorecida pela tecnologia, com a colaboração decisiva da cultura, na interseccionalidade entre raça, gênero e classe, com lastro na enorme diversidade dos territórios e dos lugares de fala que nos caracterizam como nação. O que a crise está a exigir de nós é uma nova arquitetura de participação cidadã, conectada em rede, radicalmente inclusiva e asseguradora de direitos, pela base, de baixo pra cima.

O século XXI é um laboratório de soluções que surgem da própria diversidade. É o povo, e só o povo, quem pode resolver os problemas do povo. Soluções tão diversas quanto nossos próprios territórios. Soluções tão mestiças quanto nossa própria diversidade.

Soluções tão inovadoras quanto as gambiarras que brotam da inteligência popular brasileira e transformam a precariedade em potência.

Além de corruptas, nossas elites são profundamente ignorantes e incultas, por isso mesmo são totalmente incompetentes e incapazes de tirar o Brasil do abismo em que nos encontramos e nos levar além. Mais do que nunca, é hora de devolver todo poder ao povo e reconquistar a política para a vida comum de uma cidadania muito mais exigente, responsável e ativa.

Queremos #DiretasJá porque um movimento #Reconstituinte precisa dar voz e vez ao povo brasileiro em toda a sua diversidade, enfrentando os problemas reais de cada território, erguendo os mutirões necessários para mudar a vida com as próprias mãos. Quem disse que não é possível? A verdadeira transição democrática começa agora. Ela não será feita pelas ricos e poderosos nem pelo sistema corrompido justamente porque aqui foi sempre o povo quem educou a elite. Sem medo da democracia!