Divas e atletas: a expressão da identidade através dos uniformes
Muito antes de Naomi Osaka, das atletas alemãs da ginástica artística ou da equipe norueguesa de handebol feminino, mulheres já rompiam os padrões de vestimenta nas Olimpíadas.
Por Naiara Ashaia para cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube
O século XX foi marcado por mulheres que romperam os padrões de vestimenta visando um desempenho melhor e se sentir bem durante a competição
Muito antes de Naomi Osaka, das atletas alemãs da ginástica artística ou da equipe norueguesa de handebol feminino, mulheres já rompiam os padrões de vestimenta nas Olimpíadas. Pensando no seu conforto, desempenho e identidade, diversas atletas do século XX já questionavam os uniformes e enfrentavam as barreiras impostas a elas.
Na história dos Jogos Olímpicos Modernos, a revolução da moda teve início há mais de 100 anos, mais precisamente nos Jogos de Antuérpia em 1920. Nessa competição, entrou em quadra Suzanne Lenglen. A francesa que sofria de asma encontrou no tênis uma maneira de melhorar o problema de saúde e acabou ganhando 16 títulos em Roland Garros, 15 em Wimbledon e três medalhas na Olimpíada.
Além de uma atleta vitoriosa, “La Divine”, como era chamada pela imprensa da época, revolucionou o mundo da moda. Suzanne foi a primeira tenista a usar saias mais curtas, na altura do joelho, e feitas de seda, para facilitar sua movimentação durante a partida. Sempre acompanhada de uma faixa de tule na cabeça, criada especialmente para ela, a atleta tornou-se a inspiração do estilista esportivo francês Jean Patou.
As roupas, revolucionárias para a época, acompanhavam o estilo único de Suzanne dentro e fora das quadras. Nas partidas, jogava com leveza e precisão. No dia a dia, era uma mulher real, independente, com variações de humor e que gostava da companhia dos amigos. Por tudo isso, a atleta foi um escândalo para a época. Porém continuou sendo lembrada após sua morte devido a leucemia, em 1938, já que entrou para o International Tennis Hall of Fame em 1978 e dá o nome para a segunda principal quadra do complexo de Roland Garros.
Um ano depois, nasceu a representante da próxima geração revolucionária do tênis. Natural de São Paulo, Maria Esther Bueno já nasceu perto do esporte: o pai, Pedro Augusto, amava tênis, e a mãe, Maria, praticava a modalidade socialmente.
A genialidade, o jogo gracioso mas também agressivo na rede, a tornaram a número 1 do tênis em quatro anos, acumulando 589 títulos, como os de Roland Garros, Wimbledon, US Open e torneios franceses. Ela foi a primeira mulher não estadunidense a vencer, na mesma temporada, os torneios de Wimbledon e dos Estados Unidos. Maria Bueno também foi uma das oito atletas mulheres que ganharam esses campeonatos três vezes durante a carreira.
A habilidade e leveza dentro de quadra fizeram com que a atleta fosse conhecida como a “bailarina do tênis”. Os movimentos em quadra nasciam da técnica e também das roupas leves e confortáveis que usava: Maria Esther foi uma das primeiras tenistas do mundo a competirem com ‘mini-saias’.
A atleta colaborou com grandes estilistas que tentaram desenhar roupas para mulheres praticarem tênis com mais liberdade, utilizando cores e cortes revolucionários para os anos 60. Em quadra, Maria Esther apresentava um uniforme com modelagens e estampas ousadas desenhadas pelo inglês Ted Tinling. Em Wimbledon, utilizou um short pink por baixo da saia branca curta, o que gerou as regras rígidas de vestimenta do campeonato, vividas até hoje.
A tenista não chegou a defender o Brasil nos Jogos Olímpicos, mas foi reconhecida publicamente por toda sua história no tênis ao carregar a tocha no Rio 2016. Também foi comentarista até falecer de câncer em 2018.
Mudando de esporte, o ano era 1984, quando Florence Griffith Joyner, mais conhecida como Flo-Jo, entrava na pista para competir em sua primeira Olimpíada, em Los Angeles. A atleta não começava apenas a mudar o rumo do atletismo mundial, mas também da liberdade para se expressar através do seu estilo.
Flo-Jo nasceu em Los Angeles. Desde a infância, já amava correr e se interessava por moda: a atleta gostava de costurar e de inovar nos cabelos e unhas. E uniu as duas paixões durante sua carreira no atletismo.
A essência e originalidade a acompanharam em todos os momentos. Além de ter o título de maior velocista do mundo até hoje, Flo-Jo também é lembrada pela coragem em levar sua identidade para todas as competições.
Com unhas grandes e pintadas com as cores da bandeira dos Estados Unidos, macacões apenas com uma perna e fitas fluorescentes, Flo-Jo também recebeu o título de ícone da moda dos anos 80. A atleta tinha personalidade forte e trazia essa característica para roupas que melhoraram sua performance e, claro, seu estilo. A certeza de sua identidade e a vontade de ser quem realmente era em todos os espaços rompeu com a barreira de uniformes padronizados utilizados pelas atletas.
Em 1998, Flo-Jo morreu após um ataque epilético enquanto dormia. Porém, a lenda controversa, inovadora e original ainda é recordista mundial dos 100 e dos 200 metros e influencia grandes ícones, como Serena Williams, e inspira mulheres a se sentirem bem na prática esportiva.