De Daiane a Rebeca: a marca histórica de mulheres negras na ginástica artística
Primeiras medalhistas mundiais, as atletas marcaram o esporte brasileiro com conquistas e representatividade
Por Naiara Ashaia para cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube
Daiane dos Santos subiu ao pódio pela primeira vez em 1999, nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg. Aos 16 anos, a gaúcha conquistava suas primeiras medalhas na categoria sênior da ginástica artística, o coração dos brasileiros e o título de inspiração. Quatro anos depois, a atleta trouxe a primeira medalha mundial da modalidade para o Brasil: ouro em Anaheim 2003.
Nascida em Porto Alegre (RS), muitas vezes foi a única negra na seleção brasileira em competições de ginástica. Apesar de 28% da população ser composta por mulheres negras, a representatividade nessa modalidade é baixa.
Em entrevista para a ONU Mulheres em 2019, Daiane dos Santos comentou que a falta de oportunidades para mulheres negras ainda permanece.
“É preciso dar às meninas e mulheres negras as mesmas condições e oportunidades de se desenvolverem em diferentes esportes e desconstruir de uma vez por todas tabus de que determinadas modalidades não são para pessoas negras”, afirmou.
E entre essas meninas está Rebeca Andrade. Fã de Daiane dos Santos, a paulista natural de Guarulhos iniciou a carreira no projeto social Iniciação Esportiva, da prefeitura da cidade, aos 4 anos, com o apelido “Daianinha de Guarulhos”.
Hoje, Rebeca conquistou um feito histórico: a primeira medalha olímpica da ginástica artística brasileira feminina. A prata com gostinho de ouro traz também a representatividade ao ver uma mulher negra nesse triunfo.
Única representante negra da ginástica artística do Brasil na Olimpíada Tóquio 2020, Rebeca emocionou a grande Daiane dos Santos em narração. “A primeira medalha mundial é de uma negra. A primeira medalha olímpica é de uma negra. Isso é muito representativo”, apontou a ex-atleta em meio a lágrimas.“Uma menina que teve origem humilde, foi criada por uma mãe solo como a dona Rosa, e hoje é medalhista olímpica. Uma negra, brasileira. Isso é muito forte”, completou.
Rebeca marcou seu nome na história do esporte do país, assim como Daiane dos Santos. Não só por suas conquistas, mas também por levar a brasilidade e a representatividade para um esporte pouco acessível as negras e negros do Brasil.