Wakanda existe: a pantera de Zâmbia
Apesar dos resultados negativos, a Seleção Zambiana de Futebol Feminino faz história em Tóquio
Por Paulo Henrique Soares para a cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube
Zâmbia é um país africano sem costa litorânea situado na subdivisão geográfica conhecida como África Austral. A maioria da sua área é coberta por savanas e o país também abriga extensos rios, como por exemplo, Luangwa, Kafue e Zambezi, onde estão as famosas cataratas de Vitória, que são uns dos mais belos pontos turísticos do país de pouco mais de 16 milhões de habitantes.
Paisagens exuberantes contrastam com as mazelas do país. Assim como a maioria do vasto continente africano, Zâmbia tem grandes dificuldades nos quesitos renda, educação e saúde. A baixa expectativa de vida aliada a baixa renda per capita da maioria da população zambiana colocam o país na 139º posição do Ranking global de Índice de Desenvolvimento Humano divulgado pela ONU em 2014.
Considerada um país rico com uma população pobre, Zâmbia tem taxa de pobreza estimada entre 40% e 60% (só há estatísticas até 2015). Uma pesquisa domiciliar do Banco Mundial realizada no início de junho de 2020, descobriu que metade das famílias que dependiam da agricultura tiveram uma perda substancial de renda e 82% das famílias que obtinham renda de negócios não agrícolas viram seus meios de subsistência diminuir. Estimulados por tantos problemas internos, os garotos e garotas do país, buscam no esporte uma saída para o presente tão cruel.
A pantera negra
Talvez você conheça o filme Pantera Negra da Marvel. Sucesso de bilheteria, o longa lançado em 2018, estrelado pelo eterno Chadwick Boseman, conta a história do príncipe T’Challa que volta a Wakanda para ser coroado Rei Local após a morte de seu pai. Cercado por conflitos, o rei batalha e no final vence a disputa contra os invasores do país.
A ficção se torna realidade na Zâmbia. Sem todo aparato tecnológico e tanto glamour como os filmes hollywoodianos e somente com chuteiras e suas luvas de boxe, Barbra Banda é considerada uma heroína nacional pelos seus compatriotas.
Banda tem 21 anos e poderia muito bem ter se tornado uma pugilista de bastante sucesso em seu país, mas preferiu seguir carreira no futebol. Com apoio e incentivo de sua mãe, a atleta entrou em contato com o esporte para buscar um futuro diferente do que a maioria das jovens encontram no país.
Joyce Nkhoma, mãe da jogadora, conta que deu o impulso para que a filha seguisse um caminho diferente de outras jovens da comunidade em que morava, localizada na capital Lusaka. “A razão pela qual coloquei a Barbra no boxe e no futebol é porque o esporte é bom, ajuda os jovens. As meninas na comunidade carecem de atividades esportivas. Muitas destas jovens consomem bebida alcoólica e são encontradas em clubes. Eu já a assisti várias vezes e vi os gols que ela marcou. Ela traz orgulho a mim e à comunidade”, disse, em entrevista publicada pela BBC em 2018.
Mais que resultados
Apesar dos resultados negativos até o momento da Zâmbia no Torneio Feminino de Futebol dos Jogos Olímpicos de Tóquio, Barbra Banda vem se destacando pelo ímpeto ofensivo e pelos gols. Foram seis gols anotados até então, com dois hat-tricks. Três diante da Holanda, na goleada sofrida por 10 a 3 na estreia e mais três no empate diante da China na segunda rodada da fase de grupos.
Mas o resultado final parece pouco importar, já que a disparidade de incentivo e apoio aos times africanos de futebol feminino comparados aos times europeus é gigantesca.
Mais que a questão imediatista dos resultados dentro de campo, o futebol feminino e o esporte em si, acaba tornando uma saída para diversos jovens zambianos buscarem novos rumos em suas vidas.
“Simplesmente trouxe felicidade ao país e, agora, todo mundo está falando sobre futebol feminino, porque na África não é tão desenvolvido. Eles estavam se concentrando apenas nas equipes masculinas, mas, agora, pelo menos, estão falando sobre as mulheres”, salientou Banda, à AFP, agência de notícias francesa.
A Seleção de Zâmbia fechou sua participação na fase de grupos diante da Seleção Brasileira nesta terça-feira(27) em Saitama. Mesmo sem a classificação, a seleção zambiana e Barbra Banda já fizeram história. Mesmo não conseguindo seguir adiante na competição, voltarão ao seu país carregando o orgulho de levar o nome de Zâmbia ao mundo, o que vale muito mais que uma medalha olímpica.